Caminhos da Série D: como o JEC se prepara para busca do título e acesso à Série C

Torcedores e comissão técnica falam da expectativa do Tricolor no campeonato

Caminhos da Série D: como o JEC se prepara para busca do título e acesso à Série C

Torcedores e comissão técnica falam da expectativa do Tricolor no campeonato

“Nossa camisa é tradição; tua história, gloriosa. JEC nasceu campeão, honra, glória e união. Insuperável nossa paixão”. O tradicional canto do Joinville Esporte Clube traduz a expectativa para o desempenho do time no Campeonato Brasileiro da Série D. O Tricolor estreia fora de casa neste sábado, 5, às 16 horas, contra o FC Cascavel (PR).

O diretor de futebol do Joinville, Leonardo Roesler, divide o planejamento da equipe para este ano em dois blocos: classificação para a segunda fase da D e o acesso à C. Ele garante que todo trabalho que vem sendo feito, desde o equilíbrio da folha salarial à montagem do elenco, visam a escalada.

Já o presidente do clube, Charles Fischer, afirma que dentro do clube todos têm consciência que a briga será para subir e que o Joinville vai em busca de pontos dentro e fora de casa. A expectativa é chegar entre os primeiros — se não o primeiro — nesta primeira fase da competição.

Caminhos para o acesso

A Série D de 2021 está dividida em seis fases. Na primeira etapa, os 64 clubes são distribuídos em oito grupos com oito times cada. Dentro de cada chave, todos se enfrentam em turno e returno, totalizando 14 jogos. Os quatro melhores classificados em cada grupo avançam para o mata-mata, que começa com 32 equipes na segunda fase.

O JEC está no Grupo 8, composto pelas equipes de Aimoré (RS), Marcílio Dias (SC), Rio Branco (PR), Esportivo (RS), Cascavel (PR), Juventus (SC) e Caxias (RS). Os grupos foram divididos por região, ou seja, no grupo do JEC estão apenas times da região sul do Brasil.

Os times do Grupo 8 classificados para a segunda fase, enfrentam os classificados do Grupo 7.

Nas sete primeiras rodadas da competição, a equipe comandada por Leandro Zago fará três partidas na Arena Joinville e quatro como visitante.

Sem conquistar a vaga no Campeonato Catarinense neste ano, o Joinville não tem calendário nacional garantido para 2022. Portanto, para se manter no páreo e garantir o acesso à Série C, o time precisa avançar três eliminatórias, além da fase de grupos.

Caso não suba, o Tricolor precisa torcer para Juventus ou Marcílio Dias subirem e ficar com a vaga. O Coelho nunca foi campeão da Série D, sua melhor colocação foi quando ficou em 4º, em 2010.

Desafios da gestão

De acordo com o presidente do JEC, neste momento o clube está em busca de novos jogadores para compor a equipe, mas, ao mesmo tempo, têm como prioridade a redução da folha de pagamento.

Charles Fischer, presidente do Joinville /Sabrina Quariniri/O Município Joinville

As dificuldades financeiras do JEC se iniciaram já em 2015, quando o time disputava a Série A do Brasileirão, aponta Charles Fischer. À época, com a queda para a Série B, a dívida se iniciou em mais ou menos R$ 6 milhões. Muito disso se deu, de acordo com o presidente, pela falta de planejamento de gestões anteriores. Atualmente, a dívida está na casa dos R$ 50 milhões.

“A gente tem trabalhado nisso. Temos que reduzir para depois ver quais são as peças que vão faltar pra equilibrar e não chegar no final do ano quebrado. Claro que a gente tem que subir, não tem nem conversa, né? Mas não dá pra subir quebrando o clube, fazendo loucura”, expressa Fischer.

Apesar da dívida do clube ser ainda muito considerável, que acaba travando na hora da contratação, o diretor de futebol Leonardo Roesler afirma que com “grande criatividade” da diretoria e bom trabalho do presidente e departamento financeiro, ajustes, realinhamento e alongamento das dívidas de longo prazo, o clube conseguiu manter uma folha salarial que hoje está entre as médias altas da competição. Juntando salários, auxílio-moradia e imagem, o valor beira os R$ 350 mil.

O presidente afirma que um dos maiores problemas do clube sempre foi o atraso salarial. Justamente por esta questão existe um controle máximo na movimentação do fluxo de caixa, seja na hora de emprestar jogadores ou contratar. “O que a gente não pode é mandar embora”, ressalta Fischer.

Segundo ele, um dos avanços desta atual gestão, inclusive, foi a diminuição das ações trabalhistas. Quando assumiu como presidente do JEC, haviam mais de 60 processos. No último ano, foram apenas três ações ajuizadas contra o clube. Em 2021, o clube não sofreu com ações.

“Agora não temos nada atrasado. Nós temos a responsabilidade de subir, mas também temos responsabilidade com a instituição. Amanhã nós saímos, mas vamos deixar as coisas em ordem, pelo menos, na parte financeira”, garante Fischer.

Leonardo Roesler, diretor de futebol do Joinville / JEC/Divulgação

Roesler diz que a “gordurinha financeira” não garante títulos, mas contribui na montagem do time. “Mas é um momento crítico do clube, estamos com grandes dificuldades pra contratações de peças pontuais. Então, isso é algo que nos prejudica durante o dia a dia”, confessa Roesler. “Mas o elenco foi montado dentro do orçamento já pré-estabelecido no início do ano”, conclui.

Necessidades do time

De acordo com o diretor de futebol, a equipe carece, neste momento, de um meia, um centroavante, após a saída de Alisson Mira no final do Catarinense, e um zagueiro.

Com a vinda de Leandro Zago para o comando do JEC, Roesler acredita que a equipe será mais competitiva, apostará na posse de bola e velocidade.

“Ele é um cara entusiasta de tudo do futebol. Assim como eu, pensa muito parecido a forma de jogo, de estrutura de equipe. Encontrei nele um perfil que imagino que o clube hoje precise, não só pensando dentro do campo, mas também dando auxílio fora. E ele tem ideias muito modernas de jogo, um estilo que a competição precisa”, elogia.

Nova cara do JEC

Com passagens vitoriosas pelas categorias de base de times como Atlético Mineiro (MG) e Ponte Preta (SP), o JEC é o primeiro time profissional da carreira de Leandro Zago, 40. Ele assumiu a equipe no dia 30 de abril.

Arte Júlia Fischer/Jornal O Município Joinville
Arte Júlia Fischer/Jornal O Município Joinville

Desde o primeiro contato de Roesler, seu amigo de outras datas, Zago passou a estudar o elenco e buscar maneiras de auxiliar a equipe. Suas primeiras impressões não decepcionaram.

“Um perfil de grupo que gosta de trabalhar, sedento por evoluir e se desenvolver. Receptivo com informações de treinamento e metodologia”, avalia.

Inclusive, metodologia é o que não falta para o comandante. Formado em treinamento em esportes, gestão de pessoas e psicologia de alto rendimento esportivo no centro de conhecimento e inovação esportiva do Barcelona, Zago se utiliza de correções de vídeos individuais e em grupo para auxiliar seus jogadores.

Ele também aplica como técnica o desenvolvimento de manuais com os jogadores, onde os atletas são individualizados junto a analistas e auxiliares, em busca do aperfeiçoamento.

“Quando digo correções, não necessariamente são erros, mas análise de detalhes, para os jogadores tomarem consciência do trabalho. A mentalidade que quero instituir é de que estamos em busca de evolução. Eu, como treinador, e eles como atletas. Não podemos deixar o ego e a vaidade à nossa frente e achar que já sabemos fazer o que precisa ser feito. É um desenvolvimento diário e coletivo”, sublinha.

Arte Júlia Fischer/Jornal O Município Joinville

Referências e meta

Zago tem como referência na profissão José Mourinho, que atualmente treina a Roma e Bernardinho, treinador de vôlei, conhecidos por levarem o atleta ao seu máximo potencial, diz.

Como estilo de jogo para a competição, pretende adotar a cultura da região: competitividade, agressividade, defesa forte e prioridade nas bolas paradas. O discurso dentro e fora do vestiário não destoa: busca por títulos.

“Se a gente mirar no título, acerta no acesso. O clube é bi (bicampeão) nas duas divisões, podemos ser tri (tricampeão), ganhar um divisão que o clube ainda não tem. Queremos fazer história dentro do clube e estamos trabalhando pra isso, dentro de um orçamento reduzido, sem fazer loucuras e pagando funcionários em dia. Isso é o mais importante”, destaca o técnico.

Arte Júlia Fischer/Jornal O Município Joinville

Apaixonados pelo JEC, torcedores comentam expectativas para a Série D

Para a estreia do JEC neste sábado, o torcedor Paulo Roberto Cardoso, 31 anos, vive um misto de sentimentos: otimismo e medo.

Apesar de sustentar pequenas críticas, acredita que o trabalho do Departamento de Futebol tem sido bem feito e que o Tricolor tem acertado nos detalhes, trazendo a confiança do acesso e brigará pelo título.

“Mas se não der certo, ficaremos sem série novamente, e isso seria um pesadelo para nós, torcedores”, reflete Cardoso.

Joinville de berço

Desde que nasceu, por influência do pai e do avô, Cardoso acompanha aos jogos do Tricolor. Aos 5 anos, pisou pela primeira vez no antigo Ernestão e, desde então, não parou mais de escalar as arquibancadas.

Paulo está á direita, ao lado do ex-jogador Perdigão / Paulo Roberto Cardoso/Arquivo pessoal

Aos domingos era de praxe: sacar o manto tricolor e seguir para o estádio, na companhia do pai. Quando a condição financeira não ajudava, ficava grudado ao rádio a pilhas na esperança de ganhar um sorteio de ingressos.

Sua realização como torcedor aconteceu aos 9 anos, quando trocou passes com o ídolo da década de 1990 Marcos Paulo, o “Agulha”, também conhecido como artilheiro impiedoso, com 80 gols marcados.

Inclusive, o primeiro título que assistiu do clube foi de forma inusitada, na final dos anos 2000, quando o clube conquistou o bicampeonato Catarinense.

“Eu deixei cair a corneta que estavam distribuindo no estádio embaixo da arquibancada. Desci entre os degraus para pegar e não conseguia voltar, cheguei entalar no vão da arquibancada, tentando sair, e nada. Pensei que iria perder o jogo. Meu pai chamou a polícia e conseguiram me tirar. No fim, consegui assistir a vitória”, conta. 

Atualmente, acompanhando ao time apenas pela TV por causa da pandemia da Covid-19, sua principal missão tem sido influenciar as filhas, de 8 e 4 anos, a também amarem o clube e, claro, ficar na torcida pelo acesso para reconstruir as boas lembranças que guarda das tardes de domingo no Ernestão.

Paulo no gramado da Arena com as filhas / Paulo Roberto Cardoso/Arquivo pessoal

Digo sempre que as melhores tardes de domingo que tive com meu pai foram no estádio de futebol. Sempre acompanhei o JEC em todos os momentos, desde os rebaixamentos no Ernestão aos acessos na Arena. E agora não será diferente”, garante o torcedor. 

Garra e competitividade

A torcida organizada do Joinville, União Tricolor (UT), espera que o time entre para este campeonato com garra e competitividade.

Para Diogo Rodrigo Veiga Bruning, 31, presidente da UT, a esperança está nas novas peças trazidas pelo clube, que, para ele, precisam dar a vida nesta competição. Até porque, sem o acesso, o time ficaria sem vaga para a D, já que não classificou pelo Catarinense 2021.

Arena Joinville vazia por causa da pandemia da Covid-19 / Facebook/Divulgação

“Então temos que fazer das tripas coração para ter esse acesso, nem pra ser campeão, mas ter o acesso à Série C”, afirma o presidente da UT. 

Com o acesso, calendário e verba diferentes, Bruning acredita numa melhora do clube. Ele, que está na União desde a sua fundação, em 2001, e como presidente da organizada há três anos, tem feito o que pode para fortalecer ainda mais a torcida, mesmo de longe, em tempos de pandemia, sem a presença nos estádios e restrições sanitárias.

Ele conta com a ajuda de outros membros do grupo, fanáticos pelo Joinville, que sentem uma paixão que os torna capazes de colocarem a vida à disposição do time.

“Disso podem ter certeza, não só eu, mas qualquer torcedor organizado está ali porque dá a vida pelo tricolor”, garante. 

Mas, às vezes, este amor também é capaz de cobrar. “E, em relação ao time, se tiver muito ruim, a gente vai até lá conversar com os jogadores e dar uma motivação maior”, completa. 

Torcedor é o que sobe na arquibancada

Rogério Adriano Meirelles Machado, 43, mais conhecido como Paulista — por ser natural do estado de São Paulo —, é um dos fundadores da União Tricolor e, além de compor a organizada, atualmente é diretor de patrimônio do Joinville Esporte Clube. 

União Tricolor/Facebook

Ele conta que aceitou o cargo justamente pelas dificuldades financeiras que o clube vem enfrentando nos últimos anos. Junto à diretoria, tem trabalhado para melhorar a situação. “Estamos vendendo o almoço pra comprar a janta”, aponta.

Mesmo diante deste cenário, Paulista acredita no time, que em sua opinião vem sendo bem montado. Ele assegura que a equipe vai brigar para subir. Com relação ao apelido, garante que da cidade só reserva as boas recordações, já que desde que desembarcou em Joinville, aos 19, seu coração é Tricolor.

“Logo que mudei pra Joinville fiquei amigo do pessoal da Raça, antiga torcida organizada, e foi paixão à primeira vista. Para mim, torcedor vê jogo pela arquibancada, não pela TV”, dispara. 

Confira os confrontos do JEC:

5/6 – 19 horas – FC Cascavel (PR) x JEC
12/6 – 15 horas – JEC x Aimoré (RS)
19/6 – 15 horas – JEC x Juventus (SC)
26/6 – 16 horas – Marcílio Dias (SC) x JEC
4/7 – 16 horas – Rio Branco (PR) x JEC
11/7 – 15 horas – JEC x Caxias (RS)
17/7 – 19 horas – Esportivo (RS) x JEC


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