União na arquibancada: torcedor fanático, pai passa paixão pelo JEC aos filhos

Miguel Almada chegou em Joinville em 1980 e se tornou torcedor fanático do tricolor

União na arquibancada: torcedor fanático, pai passa paixão pelo JEC aos filhos

Miguel Almada chegou em Joinville em 1980 e se tornou torcedor fanático do tricolor

Lucas Koehler

Nascido em Arroyos y Esteros, interior do Paraguai, a 67 quilômetros da capital Assunção, Miguel Almada, de 58 anos, decidiu, a partir de 1980, mostrar que o amor pelo Joinville rompe fronteiras e que o esporte pode ser um instrumento para educar e se divertir com os filhos.

Torcedor fanático do Cerro Porteño, seu coração futebolístico passou a ficar dividido quando chegou na maior cidade catarinense. Como as terras paraguaias não ofereciam muitas oportunidades de estudos e trabalho, Miguel veio à Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em Joinville, estudar engenharia através de um programa voltado para estudantes da América do Sul.

Quatro anos depois, porém, a situação parecia se tornar desabar. Por conta de fraudes, os governos encerraram o projeto. Sem alternativas, Miguel procurou um professor e pediu ajuda: “O negócio é o seguinte, ou tu me dá um emprego ou vou ter que ir embora”.

Apesar de não conseguir conversar com o solicitado, a súplica foi atendida. “Não tenho tempo para falar contigo, mas pega o jaleco e amanhã você começa a ministrar aulas”, ouviu, quase sem acreditar.

Foi pela oportunidade trabalhista que o professor de matemática conheceu o JEC. Miguel, à época sem condições financeiras adequadas, foi morar em uma pensão de um amigo do seu tio, localizada na rua Plácido Olímpio de Oliveira, no bairro Bucarein. No local, se surpreendeu com uma janta, simples, servida às 18h, com o sol ainda se despedindo do céu.

Mais tarde, novamente com fome, decidiu caminhar pelo bairro, quando viu, pela primeira vez, um carro de lanches vendendo x-salada. Após comer três pães com hambúrguer, alface e tomate, o paraguaio voltou a dar passos pelas ruas, até ver luzes fortes: era o estádio Ernesto Schlemm Sobrinho, o Ernestão.

“Cheguei lá e descobri que depois dos 30 minutos do segundo tempo a entrada era grátis. Entrei, sentei na arquibancada e vi o JEC ganhar de 7 a 1 do Rio do Sul”, lembra. A partir disso, foi amor à primeira partida.

Paixão tricolor de pai para filhos

Com camisa do JEC comprada e presença confirmada nos jogos, Miguel também conheceu sua esposa, Vilma Brancher Almada, e teve dois filhos em Joinville. Além do carinho e afeto, o professor tinha outra missão: compartilhar a paixão tricolor com o primogênito Miguel Júnior, agora com 29 anos, e com o caçula Vinícius, de 22 anos.

Para convencê-los, a camiseta do clube como presente era um ritual sagrado. Porém, os desafios eram grandes. Júnior teimava em admirar o Corinthians de Zenon, Sócrates, e, depois, o de Marcelinho Carioca. Já Vinícius, fã incondicional de Ayrton Senna, cravava seus olhos na Fórmula 1, ligando pouco para o futebol.

Vinícius, Miguel e Júnior Almada, respectivamente, com a camiseta do JEC | Foto: Vilma Brancher

Entretanto, no caso do filho mais velho, o que parecia ser o golpe fatal, foi o estopim para a aproximação com o Coelho. Depois do Corinthians vencer o JEC, na Copa do Brasil, por 3 a 0, Júnior ficou bravo, pediu para dormir ainda no estádio e, a partir dali, estava confirmado: ele é jequeano.

“Comprei uma nova camisa para ele no dia seguinte. Hoje em dia é torcedor fanático, sócio e cheio de produtos do time”, conta o pai.

Já com Vinícius o convencimento aconteceu após uma viagem para Irati (PR), onde o Joinville iria jogar. Apesar do cansaço da viagem de quase quatro horas, foi o envolvimento da família na estrada e no estádio paranaense que despertou o encanto do filho mais novo pelo JEC.

Miguel Almada (à esq.), Vinícius (ao seu lado, à dir.) e Júnior (o primeiro da fila, à dir.), em viagem a Irati (PR), em 2009 | Foto: Divulgação

Com o trio carimbado pelo preto, branco e vermelho, passaram a saborear o clube para além das partidas e títulos. “Começamos a frequentar o Centro de Treinamento (CT), conhecer e conviver com jogadores, conhecer ídolos como o goleiro Marcão. Isso aumenta o amor pelo clube”, ressalta Miguel.

Futebol e pedagogia: uma forma de educar

Contrário a recorrer para violência ou formas mais enérgicas para educar os filhos, Miguel conta que sempre optou pelo diálogo, com o futebol envolvido. O esporte, além de lazer, é utilizado para a família se divertir. “Aqui em casa sempre criamos algum bolão envolvendo o JEC. Quem perde tem que pagar, não tem perdão”, comenta, sorrindo.

As brincadeiras, aliadas às viagens para ver o tricolor jogar, criaram uma união e afetos cada vez maiores entre eles. “O futebol ajuda muito na relação. O lado pai e filho dá lugar ao lado pai e amigos”, analisa.

Para Júnior, consumir futebol com o pai torna o convívio ainda mais positivo, já que a modalidade aumenta a emoção nos momentos que são realizados juntos.

Miguel Almada (em pé) e seu filho Júnior (sentado, no centro) no vestiário da Arena Joinville, em partida do “Torcedor Solidário” do JEC | Foto: Divulgação

Ele destaca que praticar ou assistir esportes, assim como qualquer lazer, se torna mais prazeroso quando se é feito com algum familiar. No caso do jogos do JEC, o rapaz cita, inclusive, a confraternização com cervejas que são feitas entre pai e filho.

Já Vinícius reforça que o JEC foi um caminho para criar laços com o pai. “Essa paixão foi aumentando cada vez mais. Vejo isso como um ponto muito positivo. A paixão por um time cria mais proximidade com a família”, destaca.

O jovem pensa que o esporte não deve ser visto apenas como um jogo, mas como espetáculo. “Algo surpreendente que pode ser eterno, levado para o resto da vida”, afirma.

Ele ainda destaca a importância da saúde, bem-estar e motivação que o tema desenvolve para a família.

Memória e futuro

Com histórias e lembranças afiadas, Miguel relembra que, entre os momentos mais marcantes vividos com os filhos e o JEC, está o título do Campeonato Brasileiro da Série C, em 2011, quando o Joinville venceu o CRB e, depois de sete anos, voltava à segunda divisão do futebol nacional. “Após o título, eu, bobão, comecei a derramar umas lágrimas. Meus dois filhos me abraçaram dizendo que ‘até que enfim somos campeões'”, conta.

Apesar de ter presenciado diversos acontecimentos com o Joinville, o professor e paraguaio ainda tem sonhos para realizar com o clube. Um deles é ver o time novamente na Série A e, dessa vez, com a esposa também na arquibancada, que reluta a frequentar estádios. “A família toda, fazendo viagens para ver o JEC no Maracanã, Morumbi e em vários outros”, finaliza.

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