Abordagem multidisciplinar promove melhora na qualidade de vida de pacientes com diabetes em Joinville
Atenção Primária à Saúde desempenha um papel estratégico para potencializar os resultados clínicos e previne complicações
Joinville registrou, entre 2020 e 2024, 631 óbitos pela doença de acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC), sendo que os números cresceram ano a ano dentro desse período.
Para evitar a evolução da doença, a Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha um papel estratégico no atendimento aos usuários com diabetes, atuando na prevenção, tratamento e acompanhamento destes pacientes de forma multidisciplinar e contínua.
Entre as ações desenvolvidas pela Saúde em Joinville estão os grupos de apoio para usuários com doenças crônicas, entre elas, o diabetes, com um acompanhamento rotineiro destes pacientes na APS.
Estudo publicado pela revista de artigos científicos Asclepius International Journal of Scientific Health Science em maio de 2025 mostra que a abordagem multidisciplinar é essencial para melhorar o controle glicêmico e a qualidade de vida dos pacientes.
O estudo ainda reforça que programas de educação em saúde fortalecem a autogestão e a adesão ao tratamento. Especialistas confirmam que a prática colaborativa potencializa os resultados clínicos e previne complicações. Portanto, recomenda-se a incorporação sistemática desse modelo nas diretrizes de saúde pública.
Em Joinville, além da equipe da Estratégia Saúde da Família, composta por médico, enfermeiro e agente comunitário de saúde, o atendimento multidisciplinar do paciente com diabetes contempla, caso necessário, atendimento psicológico, terapia ocupacional, fisioterapia, nutricionista, educador físico, além de encaminhamentos a médicos especialistas da pediatria, psiquiatria e ginecologia, conforme a necessidade de cada caso.
Ela explica que o usuário é encaminhado pela equipe de Saúde de Família para a equipe multidisciplinar, normalmente quando apresenta hemoglobina glicada alta. Ou seja, quando possui elevados níveis de glicose no sangue ao longo de um período de dois a três meses.
“Temos uma grande quantidade de pacientes diabéticos. Prioritariamente, o paciente com o diabetes descompensado é encaminhado à nutricionista. Temos alguns critérios para encaminhamento, porque atendemos várias equipes. O paciente é monitorado pela equipe de Saúde da Família e, quando precisa de algo mais especializado, é encaminhado”.
A unidade do Glória está localizada em uma região com média de idade alta. Segundo o levantamento do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), a incidência do diabetes em idosos (população acima de 65 anos) é de mais de 30%.
A nutricionista explica que o espaço e a equipe disponíveis no Glória são privilegiados e que, assim, os profissionais conseguem interagir entre si e também com os pacientes.
Ela conta que, na nutrição, o atendimento é feito em grupo de quatro a cinco pessoas, mas com uma preocupação com as demandas individuais.
“O atendimento dura cerca de 1h30 e é bem detalhado. Fazemos com mais pessoas para aumentar o acesso, mas é bem personalizado. Consigo fornecer todas as informações e olhar para cada um. Nesse momento, já sei que o ‘paciente 1’ tem uma necessidade individual, mas que pode ser aproveitada pelo grupo. Assim, mesmo que alguns não cumpram o critério de estar com a hemoglobina glicada alta, consigo atender esse paciente, oferecendo maior acesso. As consultas individuais restringiriam o número de pacientes”.
“Depois da intervenção nutricional, eu acompanho o paciente por um tempo. A gente consegue ver uma diferença já imediata na Produção Hepática de Glicose (HGP). Na hemoglobina glicada, a melhora depende de um tratamento a médio ou longo prazo. Mas, no geral, os pacientes têm uma mudança muito positiva”.
Na sua opinião, a atividade física é negligenciada não só pelos pacientes com diabetes, mas pela população em geral. E os números comprovam a sua visão.
De acordo com pesquisa do Serviço Social da Indústria (Sesi) realizada em 2023, cerca de 39% dos brasileiros nunca fazem atividade física, enquanto 13% fazem raramente – montante que representa mais da metade da população. De acordo com esse mesmo levantamento, somente 22% praticam exercícios diariamente.
“A atividade física é fator de proteção para todas as doenças crônicas não transmissíveis. Quem tem diabetes, deve fazer atividades para controlar, para a doença não agravar, manter a glicemia mais perto da normalidade possível, evitar picos, etc. Embora a célula não consiga processar a glicemia normalmente nesses pacientes, quando ele faz atividade física, o músculo consegue usar a glicemia circulante no sangue para fazer com que o corpo dê energia para a atividade. Por isso, ela é tão importante para o diabético manter-se saudável”, destaca Túlio.
Já em outra unidade, no bairro Adhemar Garcia, atividades são realizadas na piscina com pacientes com descontrole grave da glicose no sangue. “Medimos a glicemia antes de iniciar as atividades e também ao final para evitar a hipoglicemia. Ali, é um trabalho diferenciado, onde a gente só recebe pacientes diabéticos com essa característica com o objetivo de prevenir futuras amputações”, conta.
Segundo dados divulgados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2023, o diabetes é responsável por 28 amputações de membros inferiores diariamente no Brasil. A doença é a principal causa de perda de pernas e pés no país, superando acidentes de trânsito, por exemplo.
“Avaliamos no começo e ao final de três meses vários fatores, qualidade de vida, atividade física habitual, aspectos cognitivos, força dos membros inferiores, velocidade de marcha, equilíbrio dinâmico e resistência orgânica geral. No geral, percebemos que as pessoas ficam mais felizes, com mais equilíbrio, autonomia e disposição para a vida diária, além da evolução em todas essas valências”, destaca.
“Um paciente que está com o diabetes descompensado não está nesta situação apenas porque não está comendo corretamente. Muitas vezes, é por causa das emoções desequilibradas, por falta de atividade física, porque não está socializando, etc. São muitos os fatores que podem descompensar uma glicemia ou vários combinados. Somos seres integrais. Nossa saúde depende de muitos fatores. Quando conseguimos juntar os saberes, os pacientes só têm ganho”.
Um dos pacientes é José Marques Ferreira, 69 anos, morador do Costa e Silva, que convive há mais de 5 anos com diabetes.
“Antes, eu ficava muito parado, muito sentado. E agora estou sentindo uma melhora com as atividades que a gente faz aqui. Está sendo ótimo, fiquei feliz que o médico me encaminhou para esse atendimento. Sinto bastante diferença. Quando estamos em casa, não encontramos tempo para isso. Estamos aprendendo várias coisas. A gente precisa disso”.
O diabetes melito tipo 1 é uma doença crônica não transmissível e hereditária, mas o diabetes tipo 2, que é o que acomete cerca de 90% dos pacientes diabéticos no Brasil segundo o Ministério da Saúde, está diretamente relacionado ao sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e hábitos alimentares.
“Trabalhamos com base em dados consolidados. Essa estrutura que temos e esses atendimentos que proporcionamos vão, além de tratar, também prevenir, o que é um dos objetivos principais da atenção básica”.