Agosto Dourado: banco de leite recebe em média 100 litros por mês em Joinville; entenda como funciona
Unidade que fica na Maternidade Darcy Vargas beneficia diversas crianças
Unidade que fica na Maternidade Darcy Vargas beneficia diversas crianças
Com nutrientes, vitaminas e minerais suficientes para gerar anticorpos e proporcionar imunidade, o leite materno é o melhor alimento que bebês podem receber. No entanto, há casos em que as mães não conseguem amamentar seus filhos do próprio seio, seja porque as crianças nasceram prematuras ou com patologias.
É justamente para atender a este público que existe o banco de leite da Maternidade Darcy Vargas, que só no mês de julho recebeu 111 litros, 37 doadoras e 66 receptores. Em junho, foram 107 litros de leite materno, que foram destinados a 59 bebês.
Cláudia Bortolaso Pinto, médica pediatra neonatologista e coordenadora médica do banco de leite humano da MDV, explica que o espaço é um setor dentro da maternidade que funciona através de doações voluntárias de mães que possuem excesso de leite.
Ela reforça que o leite materno é o melhor alimento para o bebê, esteja ele doente ou saudável, e que o leite de fórmula, muitas vezes utilizado para substituir o leite materno, não possui os anticorpos e vitaminas suficientes.
“As doações são feitas por mães que amamentam seus bebês exclusivamente do seio. Este bebê está saudável, ganhando peso, mas mesmo assim ela produz a mais. E este excedente ela doa para o banco de leite”, explica.
As mulheres interessadas em doar, podem entrar em contato direto com o banco de leite pelo telefone (47) 3461-5704.
Neste primeiro contato, são colhidos os dados dessa mãe, como nome, telefone e endereço, e são feitas orientações. A partir disso, são enviados frascos para a coleta do leite. Se, em uma semana, a doadora conseguir coletar 300 mililitros (ml), a técnica de enfermagem vai à casa e retira o conteúdo, que deve estar congelado.
Após a coleta, a doadora ainda precisa passar por exames capazes de identificar se possui alguma comorbidade ou infecções. Além disso, é preciso saber se a doadora faz uso de algum medicamento e seus hábitos.
“É permitido para a doadora que ela fume até dez cigarros por dia, drogas ilícitas e álcool, não. Partimos do princípio que uma mãe doadora precisa ser saudável”, afirma a médica.
Mesmo que a doadora tenha negativado os exames pré-natal para infecções, é coletado mais uma amostra de sangue e enviado para o Hemosc, onde possuem parceria, para testagem para os vírus de sífilis, HIV, hepatites, retrovírus HTLV e chagas.
“Quem fez tatuagem também precisa esperar um ano para doar, já que o procedimento deixa resquícios de pigmento e chumbo que podem passar para o leite. Quem fez transfusão de sangue, precisa esperar pelo menos três anos. São vários os fatores de análise e cuidado”, explica.
O leite recebido, passa por um processo de pasteurização e é destinado para o consumidor final, que são recém-nascidos que nascem com cardiopatias ou outras patologias cirúrgicas que precisam de correção imediata e prematuros, que ocupam a UTI neonatal.
Além disso, o alimento também supre a necessidade dos bebês de mães que não têm volume de produção de leite que possa alimentar seu recém-nascido.
“Tem bebês também que nascem com pneumonia, por exemplo, ou má formação que precisam da UTI, mas não necessariamente são recém-nascidos, e que não podem ficar com suas mães”, afirma.
Além de bebês do Hospital Infantil, que possui 20 leitos infantis, o banco de leite também atende crianças de todo interior de Santa Catarina.
Quando a pandemia da Covid-19 chegou a Joinville, em março do ano passado, Cláudia definiu o momento que os bancos de leite de Santa Catarina viveram como catastrófico.
Como não haviam ainda muitas informações sobre a doença, também era uma incerteza se o coronavírus poderia ser transmitido pelo leite materno. “Estávamos desesperados, pensamos que iria fechar”, lembra.
A partir de então, foram feitas reuniões diárias para entender melhor o vírus e suas consequências, até que foi descoberto que não era prejudicaria um recém-nascido.
“Hoje as mães lactantes podem e devem tomar a vacina da Covid porque passam anticorpos para este bebe, que criam agentes de defesa contra o vírus”, fala.
Como medida de proteção, as reuniões com as mães deixaram de ser presenciais e os atendimentos externos foram fechados, portanto, só eram atendidas mães que davam à luz na maternidade. O elo com as lactantes foi mantido através de grupos de WhatsApp, onde tiravam suas dúvidas.
Uma técnica de enfermagem também mantinha contato com as mães para questionar se as mulheres apresentavam sintomas gripais, se algum familiar estava com Covid ou se teve contato com alguém positivado. Caso sim, era necessário esperar o prazo de 14 dias para voltar a fazer as doações de leite.
Os atendimentos externos retornaram em junho deste ano, com restrições. Apesar das medidas restritivas, Cláudia afirma que os estoques do banco de leite da maternidade não chegaram a zerar. O local recebe, em média, de 40 a 50 doadoras por mês.
No Brasil, existem mais de 200 bancos de leite. O banco de leite da Darcy Vargas é referência em Santa Catarina.
A médica pediatra neonatologista reforça a importância da doação, já que há mães que não podem ficar com seus bebês. Um litro de leite, por exemplo, é capaz de alimentar dez recém-nascidos.
“Essas mães doam num ato voluntário e altruísta. Ficam com pena de colocar o excedente do leite fora, porque dão importância pra isso, compartilham o próprio leite. É um dos atos mais solidários, elas não conseguem mensurar a importância que isso tem para os bebês da UTI neonatal”, finaliza.