“Algo que não tem preço”: conheça voluntária venezuelana que ensina espanhol para deficientes físicos em Joinville
Mary Josefina ministra aulas no local como voluntária
Venezuelana, Mary Josefina, de 50 anos, é professora voluntária na Associação dos Deficientes Físicos de Joinville (Adej) há dois anos. Ela, mesmo com dificuldades de fala, proporciona aos colegas que frequentam o local a oportunidade de aprenderem espanhol.
Mary mora na cidade desde 2018, após receber ajuda comunitária de uma instituição religiosa para sair do país natal. Ela conta que chegou no Brasil caminhando, mas que começou a ter problemas nas pernas depois de uma queda, em 2019.
Com o acidente, teve polineuropatia periférica, doença que surge após danos graves em nervos periféricos. Estes nervos possuem a função de levar informações para o cérebro, medula espinhal e restante do corpo.
Um dos principais sintomas é a fraqueza, que fez com que perdesse força progressiva, de início na perna direita e, posteriormente, na perna esquerda. Com isso, necessita de cadeira de rodas para se locomover.
O contato com Associação dos Deficientes Físicos de Joinville aconteceu no final de 2020, quando procurava uma oportunidade de emprego no Centro Público de Atendimento aos Trabalhadores (Cepat).
“Conversei com um funcionário do Cepat, que me disse que eu poderia conseguir passagem de ônibus gratuita. Foi assim que cheguei aqui na associação, onde fui muito bem acolhida”, relembra.
De aluna a professora
Após conhecer o local, iniciou as sessões de fisioterapia. Além disso, participava de um grupo de convivência, conduzido por um estagiário do curso de assistência social. “Com todas as dinâmicas que fazíamos com ele, surgiu a ideia de que eu poderia ensinar espanhol”, conta.
Quem também participava do grupo é Claudinei da Rosa, de 53 anos, que relata que o ensino do idioma era uma necessidade da associação. “Se você ver, hoje em dia está sendo mais utilizado o espanhol do que o inglês. Como ela estava aqui e disse que poderia ser voluntária, foi uma oportunidade”.
Diante disso, a associação preparou os materiais necessários para que Mary pudesse iniciar as aulas. A primeira aconteceu no dia 16 de março de 2021. Ao menos seis alunos participam das aulas.
Aprendizado
Para Claudionei, desde as primeiras aulas, ele se sente grato por aprender e ter a oportunidade de conversar com outras pessoas. “Já apreendemos bastante. E, com certeza, vai agregar na vida de todos, principalmente porque estão vindo muitas pessoas da Venezuela. Então é bom poder interagir com essas pessoas também.”
Já para Sebastião Adair, 59, natural da Rússia, diz que as aulas são ótimas e a associação é de extrema importância para muitas pessoas. “É bom apreendermos, pois tem muita gente de fora e que muitas vezes falam conosco e não entende. É bom ter as aulas para poder entender”, frisa.
Cadeirante, Ado Santos, de 40 anos, já participa das atividades da associação há 10 anos e agora também iniciou as aulas de espanhol, principalmente por motivos profissionais.
“Comecei as aulas para poder ter no currículo e conseguir um bom emprego. Então a expectativa de aprender uma nova língua é muito grande.”
Gratidão
Religiosa, Mary Josefina diz que ensinar espanhol aos colegas de associação é uma oportunidade de devolver o carinho que recebeu da Adej. “Na igreja sempre nos preparam para ensinar. Então é uma oportunidade de dar, assim como recebi. Adej me ajudou tanto que quero dar também. E é algo maravilhoso”, diz emocionada.
Ela conta também que ficou emocionada no fim do ano passado, quando os alunos apresentaram uma peça musical em espanhol.
“A forma com que eles apresentaram e leram os textos foi muito bonito. Eles cantaram, tocaram violão. Então sinto que todo o esforço até agora valeu a pena. É algo que não tem preço”, finaliza.