Araquari tem o triplo de homicídios do mesmo período do ano passado
Delegado Thiago Escudero vê três fatores contribuírem para o número
Nos primeiros cinco meses deste ano, conforme os dados da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP/SC), dez pessoas foram vítimas de homicídio em Araquari. Este número representa o triplo de mortes registrados em 2019, quando três pessoas foram mortas.
Ainda conforme os dados, um número tão alto de homicídios não era registrado desde o período de 2018, quando oito pessoas foram mortas. De acordo com o delegado da Polícia Civil do município, Thiago Escudero, um conjunto de três fatores tem contribuído para o aumento da criminalidade.
O primeiro fator citado pelo delegado é do crescimento populacional de Araquari. Ele acredita que, como se trata, em sua maioria, de uma população carente, a criminalidade tem se instalado com maior facilidade.
“Dos dez homicídios, apenas um deles envolveu briga familiar, os outros, tentados ou fadados, foi de brigas internas ou entre facções”, explica.
“Política de descarcerização”
Outro fator que está atrelado ao crescimento populacional, de acordo com Escudero, é a política de descarcerização. Neste período de pandemia, em todo estado, 80 pessoas receberam prisão domiciliar por conta da pandemia do coronavírus, conforme dados da Polícia Civil.
Dessas, 39 delas não estavam cumprindo as medidas que o juiz havia determinado para mantê-los soltos, diz o delegado.
“Está sendo bem difícil conseguir mandados de prisão em relação a alguns crimes, e mesmo os presos em flagrante, acabam sendo liberados na audiência de custódia. Isso vai encorajando eles a praticarem os crimes e aumentarem o nível de violência, em razão da impunidade”, acredita Escudero.
Local de desova
Um terceiro fator explicado pelo delegado é que, como Araquari tem um grande território e muita região de mata, o município acaba se tornando um local de desova de crimes que acontecem em regiões próximas, como Joinville e Barra Velha.
Além disso, o delegado afirma que, muitas vezes, a vítima é até deslocada viva de outros locais para a região.
“A vítima é sequestrada nesses outros municípios e trazida para Araquari, que é uma região mais isolada, que tem menos câmeras de vigilância. A quantidade de policiais também é menor. Acabam efetuando a execução e o corpo é encontrado aqui”, explica.
Combate ao crime
Escudero diz que, durante a pandemia, houve uma sobrecarga maior de trabalho aos policiais militares e civis, já que as polícias acabaram se tornando autoridades sanitárias para garantir que os locais estivessem cumprindo as medidas impostas no decreto estadual.
Porém, mesmo com excesso de trabalho, o delegado afirma que as investigações feitas pela delegacia de Araquari não pararam, embora o atendimento presencial tenha ficado restrito a alguns casos.
“No final do ano passado, estouramos uma operação batizada de ‘Narcos’, onde conseguimos identificar 17 membros de uma facção criminosa. Dentre eles, pelo menos seis pertencentes à cúpula da facção de Araquari. Conseguimos efetuar a prisão de 14”, conta.
O que mais tem prejudicado a polícia, na visão do delegado, é a incidência nos crimes. Segundo Escudero, em muitos casos, para conseguir dinheiro, o criminoso que foi pego por furto ou roubo e foi liberado, acaba caindo por homicídio.
“Fora o risco de entrarmos em locais insalubres e perigosos, acabamos enxugando gelo. Em audiências, eles (os criminosos) são liberados e retomam para a vida do crime”, diz.