O Corpo de Baile Noara Beltrami, de Taguatinga (DF), cidade que tem limite com Brasília, participou da 38ª edição do Festival de Dança de Joinville em 2021 de uma forma que não era esperada. Parte do grupo sofreu um acidente de trânsito quando estavam prestes a chegar na casa em que os demais membros estavam hospedados. Ferida no acidente, a bailarina Maria Eduarda Meireles, a Duda, subiu ao palco aberto do evento nesta quarta-feira, 20, na praça Nereu Ramos.
No ano passado, o grupo se dividiu em dois para participar do festival. A primeira parte veio já no início do evento e o restante durante a competição. Por causa da dificuldade de encontrar voos diretos de Brasília a Joinville, o grupo optou por viajar de Brasília a Curitiba e, em seguida, ir de van até a hospedagem na cidade-sede.
No segundo grupo estava Duda, na época com 15 anos. Ela foi uma das vítimas do acidente que teve os maiores danos físicos, com o dedo do pé amputado. Apesar do acidente, o grupo não deixou de subir no palco. Porém, sem Duda. A bailarina não pôde participar do festival no ano passado devido aos ferimentos e voltou para Taguatinga. No entanto, ela está presente na 39ª edição.
“Depois de muito treino, aulas e ensaios, voltar aos palcos é me sentir viva novamente. Depois de um mês e 15 dias, voltei para as aulas de ballet clássico. Comecei com aulas de ballet iniciante, duas vezes na semana, e, após isso, voltei para a rotina normal com algumas adaptações”, conta Duda.
Duda teve ajuda de diversas pessoas e se diz grata pelo apoio recebido na cidade. Ela cita, em agradecimento, os médicos, bombeiros, equipe do festival e outras pessoas que acolheram ela durante o período em que esteve internada em Joinville.
“O Festival de Dança de Joinville é muito importante para mim. Acho incrível o tanto de pessoas de lugares diferentes que vão para o festival com o mesmo objetivo: respirar a dança por alguns dias”, diz.
Neste ano, Duda se apresentou com o grupo no palco aberto. Apesar de não ter a oportunidade novamente de subir no palco principal do evento, como seria no ano passado, ela afirma que participar do festival já é um grande feito, levando em consideração todo o período de recuperação após o acidente.
“Tive pouco tempo para me preparar para a seletiva deste ano. Fiquei muito tempo sem poder treinar. Comecei do zero e entendo que tudo é um processo”, finaliza. Ainda, está prevista uma apresentação de Duda no hospital que ficou internada, em agradecimento ao atendimento.
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O acidente em 2021
A professora Noara Beltrami veio junto com o primeiro grupo. Ela conta que a divisão aconteceu porque as datas do festival em 2021 não coincidiram com as férias escolares. Noara relembra dos momentos que antecederam o acidente com a segunda parte do grupo.
“Como o festival teve uma data que não pegou as férias escolares, alguns tiveram que ir depois para dançar os conjuntos. Eu e mais nove bailarinos fomos no início do festival e os demais foram após alguns dias”, conta Noara.
Durante a viagem para Curitiba, antes de embarcar na van com destino a Joinville, a segunda parte do grupo se dividiu em voos diferentes. Sendo assim, os primeiros que chegaram em Curitiba passaram o dia esperando os demais. A ida a Joinville aconteceu durante a madrugada do dia 8 de outubro, uma sexta-feira.
Noara conta que alugou uma casa no bairro Aventureiro. Naquela noite, antes da vinda da segunda comitiva, parte do grupo que já estava em Joinville já havia retornado das apresentações do dia no festival. Sendo assim, foram para a hospedagem dormir, enquanto o restante chegava na cidade de van.
“Quando era aproximadamente 2h, o meu telefone tocou com uma das bailarinas falando que o grupo sofreu um acidente. Eu perguntei qual era o local e ela falou que não sabia, pois todos estavam dormindo quando uma carreta colidiu com a van. Pedi uma localização. Quando olhei, o local era a 500 metros de onde estávamos”, conta.
Prontamente, os colegas que estavam na casa foram ao local ajudar. Ao todo, foram oito feridos, encaminhados para três hospitais de Joinville. Cinco deles foram atendidos no Hospital São José, dois no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt e um no Hospital Dona Helena.
O grupo foi atendido pelo Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. Inclusive, o prefeito Adriano Silva era um dos membros da corporação que estava de plantão na madrugada do acidente e atuou no resgate das vítimas.
Apoio para subir no palco
Além do trauma psicológico, o grupo ficou praticamente sem condições de se apresentar no Festival de Dança de Joinville. Com o acidente, os vidros da van quebraram e os cacos foram parar nos figurinos do grupo, assim como manchas de sangue nas roupas.
Noara conta que eles receberam apoio da Prefeitura de Joinville e da organização do festival. Os familiares das vítimas que estavam em Taguatinga foram até Joinville para prestar apoio.
“Com todo esse carinho, resolvemos participar do campeonato. Nós fomos classificados e ganhamos vários prêmios. A Duda foi a única que não dançou, pois teve que passar pela cirurgia. Neste ano, estamos prontos para voltar e contar com a Duda dançando”, comenta.
Noara afirma que a união do grupo foi fundamental para que a apresentação no palco do festival pudesse ter acontecido na edição passada do evento. Neste ano, além da participação no festival, o grupo de Taguatinga vai apresentar também o ballet Dom Quixote, às 20h de sexta-feira, 22, no Cine Teatro X de Novembro, em São Francisco do Sul.
“Acho que tudo isso só foi possível devido à união. Um foi apoiado por outro. Em Joinville, temos muitos amigos que mandaram mensagens. Foi graças a toda essa rede que conseguimos superar. Temos alunos com sequelas do acidente até hoje em dia, não só físicas, mas emocionais”, diz.