Fernanda Silva
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O dia começa cedo para o casal Osmar e Valli Scheel, de 53 e 50 anos, moradores do bairro Vila Nova, em Joinville. Pequenos produtores de leite, alimentam o gado, cortam trato, ordenham as vacas e iniciam o processo de embalagem do produto.
A família vive da venda de leite desde 1997 e resiste ao processo de industrialização. “Hoje em dia, tem muita gente que quer mais o natural”, diz Osmar. “Tem sempre alguém que pede para ser encaixado [nas vendas], mas não dá, não produzimos tanto assim”, conta rindo.
Antigamente, o casal também produzia queijo, mas precisou parar. “Fazíamos queijinho, mas não tinha leite o suficiente, então paramos e ficamos só com a venda do leite”, conta Valli.
O negócio da família já passou por inúmeras mudanças. Além da venda direta aos clientes, os Scheel chegaram a vender para fábricas de leite e derivados, prática comum entre os antigos leiteiros joinvilenses. Porém, sem ter um bom retorno financeiro, decidiram deixar a proposta de lado e focar na venda direta. “Imagina o preço do leite hoje, a gente ganhava uns 80 centavos em cima disso”, compara Osmar.
Atualmente, o casal consegue vender o litro por R$ 3, mas o preço pode variar. O produtor explica que a mudança dos preços dos insumos também atinge os pequenos trabalhadores do setor. Apesar de cortar trato para alimentar os animais do próprio terreno, outros produtos que precisam ser comprados para a produção e mantimento dos animais têm sofrido altas significativas de valores, o que impacta na renda e preços aplicados pela família.
Hoje, a renda familiar vem, principalmente, da produção e venda do leite. Mas, o casal também consegue converter em salário a plantação de aipim e japão, como a família chama, uma espécie de inhame.
Início da produção
Casados desde 1990, ambos já moravam no Vila Nova com os pais durante a infância. “Na época, faziam tudo de bicicleta. Meu pai ia até Jaraguá do Sul visitar os parentes. Hoje, a gente já vai de carro”, conta Osmar.
O terreno onde a família vive era de um parente de Osmar. Na década de 1980 o pai comprou o local e, em 1997, o casal começou a produção de leite.
Nos primeiros anos de casamento, Valli trabalhava como empregada doméstica e Osmar, como carpinteiro. Inclusive, foi ele um dos responsáveis por colocar de pé o prédio que abriga a Estação de Tratamento de Água, no Vila Nova. Depois, ele virou vigilante no local.
Osmar lembra rindo que, posteriormente, foi transferido para trabalhar na Estação de Tratamento de Esgoto no Jarivatuba e, depois, para monitorar um cemitério.
A lonjura dos locais de trabalho e precariedade da época fez com que ele decidisse começar o próprio negócio. “Lá, não tinha nem guarita [no cemitério], em dias de chuva, tinha que ficar nos lugares onde as pessoas acendiam as velas”, lembra. Hoje, Osmar ri da situação, mas na época era difícil, confessa.
Quando deram início ao negócio próprio, tinham apenas duas vacas. Hoje, possuem mais animais. Eles explicam que a quantidade varia por conta do período de gestação e produção de leite.
Cotidiano
Para dar conta do recado, Osmar e Valli ordenham as vacas duas vezes ao dia. Depois, a mulher fica responsável por fazer, com todo o cuidado, o processo de embalagem do leite. A produção é toda realizada apenas pelo casal.
Os animais ficam livres, em um grande pasto, onde passam os dias andando, comendo e descansando. Durante a noite, voltam para o celeiro, comem e, de barriga cheia, voltam a dormir.
Valli auxilia o marido no cuidado dos animais e é a principal responsável pela embalagem do produto. O dia é corrido para a mulher, que também se divide nos cuidados da casa e dos demais animais. Além das vacas, o casal vive rodeado pelos cavalos, galinhas, cães e gatos.
Trabalho resiste
O estilo de vida também encantou os três filhos. Apesar de todos terem optado por trabalhar fora, preferiram morar perto dos pais, na Estrada dos Morros.
Inclusive, o trio já propôs ao casal que fossem trabalhar “fora” e deixassem a agricultura de lado. Os pais, porém, preferiram continuar no trabalho que já se dedicam há décadas. “Imagina ter que deixar de cuidar do pasto, ia crescer muito mato”, imagina Osmar.
Crescidos em meio à natureza, não abrem mão da calmaria e seguem firmes e fortes na atividade que desempenham juntos há 25 anos.
