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Caso dos respiradores: ex-secretário da Casa Civil mentiu endereço e apagou conversas com advogado

Ex-secretário destruiu provas, o que embasou o pedido de prisão preventiva

Com o sigilo levantado pela Justiça de Santa Catarina sobre a investigação que apura a compra dos 200 respiradores da Veigamed a R$ 33 milhões, veio a tona os motivos que levaram a força-tarefa (Tribunal de Contas, Ministério Público, e Polícia Civil) a pedirem a prisão preventiva do ex-chefe da Casa Civil do Estado, Douglas Borba. A equipe já havia falado no sábado, 6, sobre a destruição e ocultação de provas.

Segundo a força-tarefa, no primeiro depoimento, Douglas concedeu acesso parcial às conversas de Whatsapp aos investigadores. No primeiro relatório, a força-tarefa já havia identificado que ele apagara uma mensagem para a servidora Márcia Pauli, em que diz que “Leandro vai fazer contato”.

Com o aparelho de Douglas em mãos, os investigadores descobriram que toda a conversa entre o ex-secretário e o advogado Leandro Adriano de Barros, de Biguaçu, foram apagadas do aplicativo. O mesmo aconteceu no celular de Leandro. A força-tarefa acredita em uma ação coordenada entre eles.

Apesar da destruição das conversas, os investigadores têm provas da relação entre ambos, que eram colegas de política no município e possuem residência no mesmo condomínio. No computador de Borba na Casa Civil foram encontrados prints de conversas com Leandro via Whatsapp, o que comprovaria que houve conversas, mas não estão mais nos celulares.

Além disso, Douglas informou endereço errado aos investigadores. No primeiro depoimento, afirmou que morava no condomínio em que mora Leandro, mas o imóvel está desocupado. No segundo depoimento, o ex-secretário admitiu a informação falsa.

“No interrogatório dia 9 de maio de 2020, dia em que foi deflagrada a operação O2, logo depois da frustração do cumprimento dos mandados de busca e apreensão residenciais, Douglas Borba foi novamente ouvido pela Força-Tarefa, oportunidade em que, quando questionado sobre o verdadeiro local de residência, indicou uma casa na praia de São Miguel, em Biguaçu, e confessou que o primeiro endereço informado por ele era, na verdade, uma casa já desocupada”, informa o relatório.

Veigamed sabia que não poderia entregar respiradores

O documento entregue pela força-tarefa que apura a compra dos 200 respiradores da Veigamed mostra que, antes mesmo do pagamento realizado pelo Estado, já se sabia que não seria possível a chegada dos equipamentos. Em 30 de março, o representante da empresa CIMA no Brasil, Samuel Rodovalho, que faria o meio de campo para a compra dos equipamentos, repassou notícia para outros compradores, mas não para o Estado.

A força-tarefa diz no documento que “tal fato era de conhecimento dos investigados, uma vez que o representante da empresa CIMA no Brasil, Samuel Brito Rodovalho, no dia 30 de março de 2020, ao realizar uma reunião com representantes da RTS Rio S/A e do Hospital Albert Einstein […] informou que não havia mais respiradores disponíveis”.

O pagamento pela Secretaria de Saúde de SC aconteceu somente em 2 de abril. Mesmo com a ciência de que os respiradores prometidos do Panamá não estavam mais disponíveis, o empresário Fábio Guasti, que representou a empresa Veigamed na negociação, pressionou os servidores Márcia Pauli (ex-superintendente de Gestão Administrativa) e José Florêncio da Rocha (coordenador do Fundo Estadual de Saúde) para que o pagamento adiantado fosse realizado.

Segundo a força-tarefa, a empresa RTS Rio S/A e o Hospital Albert Einstein são instituições que também manifestaram a intenção de adquirir ventiladores pulmonares. Sem os equipamentos, foram avisados da frustração da compra. O encontro foi acompanhado pelo advogado César Augustus Martinez Thomas de Barros, apontado como um dos articuladores do esquema.

Segundo o documento, o fato foi confirmado por Rodovalho ao ser ouvido pelos investigadores. “Mesmo ciente da informação, conforme demostrado pelas Autoridades investigantes, o investigado Fábio Deambrósio Guasti mantinha contatos cobrando e pressionando servidores do Estado de Santa Catarina para que fosse realizado o pagamento dos valores da transação”, diz o texto.

Investigado diz que vai ‘passar perrengue grande’ após bloqueio de R$ 11 milhões

A força-tarefa que investiga a compra dos 200 respiradores da Veigamed por R$ 33 milhões ainda tenta entender a participação de Davi Perini Vermelho no esquema, mas já sabe que ele seria um dos beneficiados. O vereador pelo Democratas em São João do Meriti (RJ) e presidente da Câmara municipal está preso e deve ser transferido para Santa Catarina.

O vereador, conhecido como Didê, teve conversas apreendidas pela força-tarefa que comprovam sua participação. Em mensagens trocadas com a companheira Luana, ele comenta o andamento das negociações e lamenta a ação da polícia.

Em 3 de maio ele diz que “Nós pagamos 200 respirador problema está fila desde dia 27 de abril para embarcar”, se referindo aos respiradores comprados pelo Estado. “Está tudo pago […] E esperando o embarque”, acrescentou no mesmo dia.

O fato dele utilizar a palavra “Nós” é um dos indícios que aponta para sua atuação em nome da Veigamed. Em outro trecho do mesmo dia, Didê diz à companheira que “empresas dele […] Eu que faço negócios e uso empresa”, diz. Com ele, Didê se refere a Pedro Nascimento Araújo, CEO da Veigamed.

A companheira pergunta “Você acha que vai dar ruim o negócio de Santa Catarina?”, em 3 de maio. Com a comprovação de Didê responde “Fica rico, fica podre […] Jesus”.

O vínculo é comprovado em outro momento da mesma conversa. O vereador lamenta as ações da polícia. “prenderam ontem 11 milhões nosso kit”, diz, em referência aos valores bloqueados em uma empresa de Joinville. Segundo a força-tarefa, a Veigamed compraria testes para Covid-19 e revenderia, a fim de lavar o dinheiro.

“Mas carga de São Paulo 2,5 milhões”, acrescenta, em referência a 15 mil testes para Covid-19 apreendidos. Os testes são fruto de roubo no Aeroporto de Guarulhos: o caso ainda está em investigação.

Somando os R$ 11,1 milhões apreendidos em Santa Catarina, mais os R$ 2,5 milhões em testes, a Veigamed perdeu R$ 13,6 milhões. O fato de Didê reconhecer como perda sua é outro indício de que ele responde pela empresa.

“Pica tá cu Pedro [Araújo] Coitado […] E de tabela no meu”, disse à ela em 2 de maio. “Quebrei até resolver passar perrengue grande”, complementou no dia 4.

O pedido de prisão preventiva de Didê tem base em indícios de que ele apagou conversas no celular. Inclusive admitiu a destruição das provas na conversa com Luana. Ele é o único investigado com cargo público no momento, mas não possui foro especial, já que os crimes indiciados não foram cometidos com relação ao mandato.

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