Casos de febre amarela em macacos aumentam em Santa Catarina e no Paraná
No Paraná os casos também aumentaram
No Paraná os casos também aumentaram
O aumento do número de macacos infectados pela febre amarela no Paraná e em Santa Catarina desde julho do ano passado chama a atenção para a circulação do vírus na região e serve de alerta para a importância dos brasileiros se vacinarem contra a doença.
Segundo o Ministério da Saúde, o número de epizootias, ou seja, óbitos ou adoecimentos de primatas infectados pelo vírus amarílico, aumentou muito em Santa Catarina, que, junto com o Paraná, concentra praticamente 99% de todas as notificações confirmadas.
Conforme a pasta, de julho de 2017 a junho de 2018, seis estados – Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins – confirmaram 867 epizootias. No período 2018-2019, o total de casos baixou para 126, notificados por oito estados – Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.
Entre julho de 2019 e o início de maio deste ano, embora apenas três estados – Paraná, Santa Catarina e São Paulo – tenham confirmado casos da doença entre macacos, o total chega a 348. Ou seja, faltando ainda dois meses para o fim do atual período epidemiológico, o aumento em comparação com o período anterior já está em torno de 180%.
De acordo com a pasta, de julho de 2019 ao começo deste mês, Santa Catarina tinha confirmado 54 casos de macacos infectados pela febre amarela. Entre 2018 e 2019, foram reportados apenas quatro casos ao ministério. Nenhum no período 2017-2018. Até meados de março deste ano, duas pessoas morreram no estado em decorrência da doença: um morador de Camboriú e outro de Indaial.
No Paraná o aumento dos casos chama a atenção. Segundo a Secretaria de Saúde do Paraná, o vírus amarílico matou ou causou o adoecimento de pelo menos 287 macacos entre julho de 2019 e o último dia 8. Os casos foram notificados em 43 dos 399 municípios paranaenses. Do total, 133 casos foram confirmados entre os dias 27 de março e 8 de maio deste ano – só entre 24 de abril e 8 de maio, foram 27 confirmações.
Há ainda 89 casos em investigação e 423 notificações em que não foram colhidas amostras para análise. Mesmo assim, o total de casos confirmados do atual período epidemiológico da doença no estado é várias vezes maior que os de anos anteriores. De julho de 2018 a junho de 2019, a secretaria atestou 49 epizootias. De julho de 2017 a junho de 2018, nenhum caso foi identificado no Paraná.
Embora macacos não transmitam a febre amarela para humanos, que só são infectados quando picados por mosquitos capazes de transmitir o vírus, especialistas monitoram o contágio desses animais porque os consideram um alerta, um indício da presença do vírus em determinadas regiões. De posse destes dados, órgãos públicos podem planejar ou intensificar campanhas de vacinação contra a doença.
Foi o que fez o governo do Paraguai na semana passada. Após ser informada de que muitos macacos mortos no Paraná foram encontrados em uma região próxima à fronteira, a Diretoria do Programa Ampliado de Imunização, do Ministério de Saúde Pública e Bem-Estar Social do Paraguai recomendou que os moradores da região de Salto del Guairá procurassem os postos de saúde e tomassem a vacina contra a doença, conforme noticiou o jornal paraguaio ABC Color.
Apesar do alerta de aumento do número de ocorrências entre macacos, o Paraná não registra casos da doença entre humanos desde julho de 2019. Desde julho de 2018, todos os municípios paranaenses são considerados parte da área com recomendação vacinal. Isso não impediu, porém, que o número de infectados aumentasse, entre julho de 2017 e junho de 2018, de dois casos confirmados para 17. Nesse período, uma pessoa morreu devido à doença.
Em entrevista à Agência Brasil, o professor Fernando de Camargo Passos, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná, surpreendeu-se com os dados recentes. “É surpreendente esse grande número de casos no Paraná. Ainda que já estivéssemos prevendo um avanço da febre amarela [entre macacos] no estado, pois a doença, que já tinha atingido outros estados antes de vir em direção ao Sul, agora avança em ondas entre estes animais [no Paraná]”, disse o pesquisador, reforçando a importância de a população se vacinar para evitar que a doença atinja as pessoas.
Passos explicou que, em áreas de mata, o vírus amarílico é transmitido apenas por mosquitos de dois gêneros (Haemagogus e Sabethes) que costumam viver na copa das árvores, onde dividem espaço com os macacos. À medida que picam os primatas para se alimentar de seu sangue, as fêmeas desses insetos vão espalhando a doença.
Além disso, os mosquitos podem picar uma pessoa que entre na mata. O maior temor dos especialistas é que, ao voltar à cidade, uma pessoa infectada seja picada por mosquitos Aedes aegypti, potencial transmissor da doença.
“O maior problema é que muita gente não toma a vacina contra a febre amarela, que está voltando a entrar em áreas onde já não existia mais, inclusive em áreas urbanas”, afirmou Passos. “Com isso, a preocupação, o perigo, é a doença se espalhar pelas cidades e passar a ser transmitida pelo Aedes aegypti, que já transmite a dengue [além da zika e da chikungunya] e que infesta muitas áreas urbanas”, acrescentou o professor, reforçando a importância dos macacos para o controle da doença.
“Já houve casos de pessoas matarem ou maltratarem os animais por achar que podem ser responsáveis pela transmissão da febre amarela, o que não é verdade. O monitoramento dos macacos é muito importante porque eles têm este papel de sentinelas. Sua morte por febre amarela pode indicar a dispersão da doença e alertar a vigilância epidemiológica”, acrescentou Passos, lembrando que matar ou causar mal a esses animais é crime ambiental.
Ao longo da última semana, a reportagem pediu à secretarias de Saúde e de Comunicação de Santa Catarina outras informações além das fornecidas pelo Ministério da Saúde, mas não obteve resposta. Em nota do início de abril, quando confirmou a segunda morte no estado, a Secretaria de Saúde informou que já havia registrado a morte de 39 macacos pela doença, além de 10 casos de pessoas infectadas. Na ocasião, a pasta reforçou a importância de os moradores de todo o estado com mais de 9 meses de idade se vacinarem.