Ciclista que morreu em Joinville havia escrito carta para esposa falecida
Ari da Cunha conheceu Marlete Vargas na rua Petrópolis, mesma em que foi atingido por carro
Ari da Cunha conheceu Marlete Vargas na rua Petrópolis, mesma em que foi atingido por carro
“Servir a comunidade estava entre meus princípios de vida”, foi o que escreveu Ari da Cunha, de 72 anos, que morreu ao ser atingido por um carro enquanto voltava para casa de bicicleta da Câmara de Vereadores de Joinville (CVJ) noite da última segunda-feira, 6. Ari era um líder comunitário no bairro Petrópolis e cruzava a cidade de bicicleta para reivindicar o direito de sua comunidade e dos idosos.
Seu Ari, como era chamado pelos vereadores, era viúvo, e na semana passada esteve na Câmara, no gabinete da vereadora Ana Lucia (PT), e pediu para imprimir dois arquivos. Um deles era a história dele e da esposa Marlete, o outro somente a história da esposa.
Em 22 de junho de 1968, Ari conheceu Marlete Vargas, na rua Petrópolis, mesma rua em que foi atingido pelo carro. Os dois se casaram no dia 14 de novembro de 1969. Juntos tiveram uma filha, Sonia da Cunha da Almeida, além de três netos, Huéllinton, Bruna Caroline e João Vitor.
Ambos foram funcionários na Tupy, Ari entre 1968 e 1970, e depois de 1974 até 1985, e Marlete de 1974 até 1981, quando “passou a se dedicar aos cuidados domésticos”. “Nossa família continuou extremamente ligada devido ao carinho e dedicação com que criou seus descendentes”, escreveu Ari.
O casal morou junto na rua Petrópolis por 51 anos, 2 meses e 13 dias, até o falecimento de Marlete em 29 de janeiro deste ano. Quando eles completaram 50 anos de casados, a CVJ os homenageou. “Homenagem feita pelos anos de serviço prestados a comunidade e pelo lindo exemplo de união bem-sucedida”, comentou em seu texto.
Ari encerra o texto com um parágrafo dedicado à sua falecida esposa: “No dia 21 de junho de 1968 uma rosa sem espinho nasceu no fundo do meu coração onde permaneceu até a data de 29 de janeiro de 2021 onde com muito pesar veio a falecer aos 74 anos de idade dois meses e sete dias, nos deixando a saudade, mas também o prazer e o privilégio de termos convivido com esse exemplo de ser humano, de mulher, de mãe e de avó. No meu coração será sempre como se você não tivesse partido, pois não já dor maior do que nos despedir do nosso próprio coração. Da morte só espero que traga paz e do reencontro com as pessoas amadas que já se foram. Quem parte para o descanso eterno, deixa lágrimas de saudades e lembranças imortais.”
“Quando eu tinha você ao meu lado me sentia mais forte, hoje me sinto muito fraco e sozinho pois olho por todos os cômodos da casa e vejo tudo muito vazio sem a sua presença. Como eu sinto sua falta, meu coração sofre com a saudade. Sem você tem sido muito difícil viver e será assim até o fim da minha vida.
Não penso em mais nada além de você, quando eu precisei de ti sempre esteve presente ao meu lado e quando você me precisou de mim eu também estava. Estive ao lado da cabeceira da nossa cama procurando te acalmar muitas vezes, pois a dor que você sentia também doía em mim, pois juntos formavámos um só corpo. Muitas lágrimas derramei por você nestes tempos difíceis.
Começamos nossa vida conjugal sem nada mas com a sua ajuda conseguimos conquistar muitas vitórias e eu sentia que tínhamos muita riqueza de amor, hoje me sinto muito pobre. Você foi minha protetora, acolhedora, ajudadora e a segunda mãe.
Permanecemos juntos por 52 anos, 7 meses e 1 semana que é igual 640 meses, 19.213 dias, 461.112 horas, 27.666.720 minutos ou 1.660.003.200 segundos. Aqui nossas mãos se encontram para construir uma história.
Há uns que falam e não ouvimos;
Há uns que nos tocam e não sentimos;
Há aqueles que nos ferem e nem cicatrizes deixam;
Mas há aqueles que simplesmente vivem e nos marcam por toda a vida…”
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Nas redes sociais, alguns dos vereadores de Joinville, com quem Ari sempre conversava para reivindicar direitos, o homenagearam.
“Agora seu Ari irá ao encontro da amada. Fica aqui os meus sentimentos a todos os familiares e amigos. Descanse em paz seu Ari”, escreveu Ana Lucia.
“Ele sempre aparecia. Aparecia para conversar, aparecia para opinar, aparecia para ajudar”, publicou Brandel Junior.
“Ontem, 6, ainda esteve em meu gabinete, conversamos bastante, mas infelizmente quando estava voltando pra casa, aconteceu essa fatalidade. Que Deus o tenha meu amigo e conforte o coração de todos os amigos e familiares”, escreveu Claudio Aragão.
“É com esse sorriso largo que sempre lembraremos do Seu Ari. Sempre disposto a uma boa conversa”, disse o pastor Ascendino Batista.
“A tristeza tomou conta de mim. E não segurei as lágrimas ao ler a carta do Sr. Ari para sua mulher”, comentou Tânia Larson.
“É difícil dentro da Câmara alguém não ter conhecido esse grande homem, inteligente e sempre por dentro dos assuntos dando grandes ideias e contribuições as discussões da casa”, relata Wilian Tonezi.
De acordo com informações dos Bombeiros Voluntários, Ari estava de bicicleta na rua Petrópolis por volta das 18h40, quando foi atingido pelo carro Toyota Fielder.
O condutor perdeu o controle do veículo antes da colisão, devido ao mau tempo e pista molhada. Após o atropelamento, o carro bateu contra um muro. Ao chegar no local, equipes do Samu já encontraram a vítima sem vida sobre uma calçada.
A Polícia Militar realizou o teste de bafômetro no motorista duas vezes, que resultou em zero para teor etílico no organismo dele. Após os procedimentos, ele foi conduzido até a Delegacia de Polícia Civil, para registro do boletim de ocorrência.
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