Com venda proibida, Vigilância Sanitária fiscaliza comércio de cigarros eletrônicos em Joinville
Fumantes da cidade contam como conheceram e começaram a utilizar os aparelhos
Fumantes da cidade contam como conheceram e começaram a utilizar os aparelhos
Proibidos no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros eletrônicos têm se tornado cada vez mais populares no país, incluindo em Joinville. Entre eles, os vapes e pods lideram a lista, principalmente entre os mais jovens.
Como uma alternativa aos cigarros convencionais, os eletrônicos têm, em sua composição, substâncias como nicotina, propilenoglicol e glicerol, ambos irritantes crônicos; acetona, etilenoglicol, formaldeído, entre outros produtos cancerígenas e metais pesados, com níquel, chumbo, cádmio, ferro, sódio e alumínio.
Para atrair consumidores, são incluídos aditivos e aromatizantes como tabaco, mentol, chocolate, café e álcool.
Em 2022, a Vigilância Sanitária de Joinville já apreendeu cerca de 50 quilos de cigarros eletrônicos. As apreensões acontecem, geralmente, em tabacarias e lojas de conveniências, no período noturno.
De acordo com Alisson Domingos, gerente do órgão, os estabelecimentos são autuados e têm os produtos retirados de comercialização. Porém, não há registro de interdição dos locais. O material recolhido é identificado e encaminhado para área descarte, ou descartado diretamente por um agente público, que deve comprovar a ação.
Ele cita que a quantidade apreendida até o momento é pequena se comparada com o número de fumantes, expondo um limite da fiscalização. “Os comércios expõem poucos produtos na loja física. Só podemos recolher o que tem no ato da fiscalização”, afirma.
Nas redes sociais e em diversos sites é possível encontrar cigarros eletrônicos a venda. O ambiente virtual também não tem fiscalização da Vigilância Sanitária, entretanto, Alisson ressalta que o fato não impede que outros órgãos façam este trabalho.
Para ele, a principal necessidade da cidade, atualmente, é descobrir quem fornece este tipo de produto. O gerente destaca que, em breve, o município deve ampliar o combate aos cigarros eletrônicos. “Fazer ações para coibir, orientar e conscientizar a população e usuários”, diz.
Thaís da Cunha, 24 anos, moradora de Joinville, conta que começou a fumar cigarros eletrônicos pela praticidade e sabores. O consumo é apenas nos fins de semana. Ela afirma saber dos prejuízos à saúde, por isso, opta pelas variações com menos nicotina. “Escolher por algo menos ruim”, sinaliza.
A garota complementa dizendo que não se sente dependente das substâncias, mas permanece tomando cuidados e usando pouco. “Não pretendo parar, mas meu uso já reduziu muito”, fala.
Outro fumante de cigarros eletrônicos, o estudante Caio Rodrigues Assis, de 20 anos, também morador da cidade, explica que fumava narguilé, mas, por influência dos amigos, passou a utilizar vapes e pods. “Não era muito fã, mas decidi experimentar. De primeira não gostei, mas logo depois fui pegando o jeito”, expõe.
Caio também prioriza o consumo apenas nos fins de semana, porém, expande o ato quando encontra amigos em outros dias. Ele cita também a necessidade de fumar conforme o local e momento. “Sempre que eu tomo uma cerveja, ou alguma bebida, vem a vontade de fumar um pod”, ressalta.
O estudante fala que já sente algumas consequências dos cigarros eletrônicos, como a falta de fôlego ao praticar algum esporte. “Impacta tanto que eu tento fumar o menos possível em dias de semana”, conta.
Com venda realizada, principalmente, em tabacarias, conveniências e na internet, Thaís comprou um vape por R$ 500 e, considerando seu consumo “baixo”, fala que gasta, em média, R$ 30 por mês para utilizar o aparelho.
Ela adquiriu o item de um vendedor local, mas cita que foi difícil achar. Além disso, a jovem afirma que recebeu instruções sobre como usar e quais riscos à saúde o produto causa.
Já Caio explica que comprou um pod e uma nic salt, um tipo de nicotina de formação natural encontrada na folha do tabaco, por R$ 300. O custo mensal para usar o cigarro eletrônico, com a compra de uma coil, resistência responsável por aquecer o aparelho, fica, em média, R$ 80 mensais.
No caso dele, a compra foi feita sem grandes barreiras. “Em uma loja de um amigo meu e foi bem fácil. Não teve nenhum aviso, mas somos cientes do que pode causar”, comenta.
De acordo com Felipe Westphal, pneumologista do hospital Dona Helena, em Joinville, ainda não é possível saber exatamente quais os danos que os cigarros eletrônicos podem causar à saúde a longo prazo, porém, já há efeitos relatados em curto período.
Os principais problemas estão relacionados às doenças pulmonares prévias, como asma, além do surgimento de doenças novas, geralmente, associada à inalação de compostos que contenham tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo responsável pelos efeitos psicotrópicos da maconha, e acetato de vitamina E, produto químico que ao ser inalado se junta ao tecido pulmonar.
Já Luciano Rodrigues da Silva, medico e representante do Conselho Regional de Medicina (CRM) de Joinville, a quantidade de nicotina nos cigarros eletrônicos, por vezes, é até oito vezes superior à encontrada em cigarros comuns. Além disso, o tempo de combustão pode ter uma duração de 12 a 26 minutos.
Luciano cita inúmeros possíveis problemas de saúde provocados pelos dispositivos eletrônicos. Entre elas, estão ligadas aos pulmões, como asma, chiado, bronquites e pneumonias, doenças na boca, aumento no risco de desenvolver infartos, hipertensão, acidentes vasculares, convulsões, além de aumentar o risco de desenvolver de tumores.
Para o representante do CRM de Joinville, o Estado deveria criar campanhas de conscientização e exibi-las na televisão, internet e diversos canais das redes sociais. “A propaganda deve ter grande impacto, mostrando como o uso desses cigarros afeta de forma severa a saúde do usuário”, analisa.
No início de maio, diversas entidades médicas solicitaram à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que mantenha a venda dos cigarros eletrônicos proibida no Brasil. O órgão pretende receber informações técnicas sobre os produtos até o dia 10 de junho.
Em nota, Associação Médica Brasileira (AMB) cita que a Anvisa não deve liberar a comercialização, importação e propagandas dos itens. Além disso, as entidades exigem medidas mais rigorosas para fiscalização e punição de violadores desta resolução e ressaltam a preocupação com o aumento do uso desenfreado desses dispositivos, em especial entre os jovens.
No documento, as instituições citam que os cigarros eletrônicos são uma ameaça à saúde pública, porque representam uma combinação de riscos já conhecidos, como efeitos danosos à saúde e o aumento progressivo do seu uso no país. Em especial, esses dispositivos atraem pessoas que nunca fumaram, persuadidas pelos aromas agradáveis, sabores variados, inovação tecnológica e estigmas de liberdade.
A nota é assinada por diversos grupos, como a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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