delegado polícia federal joinville
Sabrina Quariniri/O Município Joinville

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O primeiro filtro dos crimes. Esta é uma das definições que o delegado Vinicius Faria Zangirolani, titular da delegacia da cidade, atribui à sua função na Polícia Federal. O delegado conversou com a reportagem do jornal O Município Joinville para explicar como funciona o trabalho da PF, suas investigações e competência.

Zangirolani explica que, com raras exceções, a Polícia Federal atua em investigações contra crimes relacionados ao tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, crimes políticos e violação dos direitos humanos. Em suma, infrações com repercussão interestadual ou internacional e, portanto, de competência da Justiça Federal.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Entre as atribuições de um delegado da PF, estão: expedição de mandados de busca e apreensão, mandados de prisão e, dependendo da situação, pedidos de quebra de sigilo telefônico e bancário.

“Ele (o delegado) também funciona como o primeiro filtro dos crimes, para ver se aquela situação que foi trazida por outras forças policiais é realmente crime ou não. Caso seja, se cabe prisão em flagrante ou não; se os materiais trazidos precisam ser apreendidos ou não. Se for crime em flagrante, se vai ficar preso, se aquele tipo de crime específico se pode arbitrar uma fiança ou não. Então o delegado já faz o primeiro filtro jurisdicional da situação que está acontecendo. Basicamente, é uma carreira híbrida, pois é policial e jurídica ao mesmo tempo”, esclarece Zangirolani.

Parceria com outras forças de segurança

Em muitas situações, a PF trabalha em parceria com outras forças de segurança, como a Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal (PRF). O delegado afirma que nada impede que as polícias trabalhem juntas, no entanto, é preciso respeitar as atribuições de cada uma.

Quase que diariamente, a PRF se depara com situações de falsidade ideológica ou de documentação e mercadorias de contrabando, por exemplo, durante suas abordagens a carros e caminhões em rodovias federais. Quando há indicação desses crimes, a ocorrência é levada diretamente ao delegado da PF.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Em casos de tráfico de drogas, pela Constituição Federal, cabe à PF reprimir este crime. Mas, de acordo com o delegado, em função da capilaridade maior das forças policiais estaduais, a qual a PF não possui e, sendo assim, não alcança a todos os municípios, existem convênios firmados entre a União e as secretarias de segurança estaduais que dão autonomia à Polícia Civil para também atuar no combate ao tráfico de entorpecentes.

Este convênio foi pensado com base na política criminal, a fim de conceder independência às forças locais para, caso necessário, adotarem providências durante um flagrante. Vale destacar que existem exceções quando trata-se de tráfico internacional, também chamado de transnacional.

“Que é aquela droga que vem do Paraguai, Bolívia, Colômbia ou droga que está sendo remetida para Europa, para Ásia e África. Nesses casos, só a PF atua”, reitera.

Projetos para 2021

Há um ano e meio à frente do comando da delegacia de Joinville, o delegado diz que o foco tem sido melhorar ainda mais os trabalhos nas duas áreas de atuação da PF: a jurídica que, de forma resumida, combate crimes, e a administrativa, que faz prestação de serviços aos cidadãos.

“Então a PF tem esses dois braços. E, em Joinville, desenvolve bastante bem as atividades judiciárias e administrativas”, garante.

Os projetos para este ano é dar continuidade ao que foi iniciado em 2020. No âmbito administrativo, o planejamento vai desde reduzir o tempo de espera de tramitação dos processos para obter uma arma de fogo à melhora no espaço de atendimento ao cidadão.

Inclusive, há oito meses, por meio de convênio, pessoas que precisam dar entrada em seu passaporte ou estrangeiros que buscam por documentação possuem um novo espaço no Garten Shopping. Antes, os habitantes eram atendidos na própria delegacia da PF, no bairro Boa Vista.

Espaço no Shopping Garten/Polícia Federal/Divulgação

“Hoje temos um espaço bem bacana lá, com condições para atender melhor as pessoas. Mas não foi apenas o espaço, o tempo de agendamento também diminuiu. Hoje, aqui em Joinville, conseguimos disponibilizar agendamento em torno de 48 horas”, diz. “A ideia é melhorar também a condição do atendimento dos imigrantes, a gente tem um quadro muito grande de imigrantes na região, por causa da necessidade de mão de obra, e a gente queria melhorar o espaço que tinha pra atender os estrangeiros que precisam estar constantemente regularizando sua situação”, conclui, citando que a delegacia atende a uma média de 400 estrangeiros por mês.

O que poucas pessoas sabem é que a Polícia Federal também atua na área de produtos químicos. Ou seja, dentro da estratégia de política criminal, a PF fiscaliza a aquisição de empresas a produtos que possuem a comercialização controlada para que não haja desvio de finalidade, já que esses materiais podem ser utilizados no refino de entorpecentes, por exemplo. A ideia é continuar aprimorando a atividade.

No ano passado, junto à Receita Federal, a PF apreendeu quatro toneladas de cocaína na região de Joinville. Conforme o delegado, o crime organizado tem tentado utilizar o modal marítimo para fazer a exportação da droga.

“Queremos manter a excelência que a gente já tem na polícia judiciária, nossas investigações e apreensões”, afirma.

Principais conquistas

Zangirolani afirma que as grandes conquistas da PF nos últimos anos estão relacionadas com gestão de sistemas, tecnologias, inteligência policial e a integração e cooperação de outras forças policiais e órgãos de fiscalização. Para ele, a principal finalidade da PF é a desarticulação de organizações criminosas.

“Aumentar a efetividade do combate ao crime organizado podemos dizer que é o DNA da PF”, assegura.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Um dos exemplos em que há emprego da inteligência policial utilizado pelo delegado são as investigações de fraude relacionadas ao auxílio emergencial. Ele explica que a PF, junto à Caixa Econômica Federal, coordenam as informações sobre o auxílio em âmbito central, de Brasília.

Essas informações são tratadas pela especializada em crimes fazendários e o sistema utilizado é capaz de identificar organizações criminosas que estejam atuando por trás de fraudes.

“Se a Polícia Federal fosse investigar cada caso ela não iria conseguir, com a força policial que ela tem, apurar todos. Também não teria um resultado satisfatório em quase nenhum deles. E isso (investigações) tem resultado na deflagração de várias operações, praticamente mensais, cumprimentos de mandados e busca, prisão em vários estados do país. E, em vez de você ir atrás de um caso, aquela situação de desvio de R$ 1.450, você consegue atingir uma quadrilha que estava por trás daquele desvio e de outros R$ 20 mil, R$ 30 mil, R$ 40 mil”, afirma.

Missões de destaque e atuação em Joinville

Com passagens por Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná antes de vir a Joinville, uma das missões mais marcantes da carreira do delegado aconteceu em Jales (SP). Durante sua passagem pela cidade, em 2010, participou de uma investigação que desarticulou um grupo que cooptava menores de idade para revender drogas.

Outra missão que cita é mais recente, aconteceu em 2017, denominada Operação Cerberus, deflagrada em Três Lagoas (MS). Na ocasião, a PF prendeu integrantes de uma organização criminosa que transportava drogas e armas do Paraguai ao Rio de Janeiro.

“Isso é uma coisa que pra nós era muito caro, porque eram armas que iriam matar pessoas, colegas policiais. Era um grupo muito bem articulado, inclusive, tinha o envolvimento do filho de uma desembargadora, que na ocasião foi preso em flagrante”, diz o delegado. “É um trabalho muito gratificante, porque este grupo criminoso, depois que uma parte estava presa, fez um movimento para resgatar o líder preso. Pelo que acompanhamos, havia a possibilidade de morte de colegas e agentes neste resgate e conseguimos interromper a ação”, conclui.

O delegado chegou a Joinville em janeiro de 2020, pouco antes da pandemia da Covid-19 atingir a cidade. Um dos trabalhos que considera importante que fez na região foi dar apoio a uma investigação de Itajaí, que era relacionada a um grupo também envolvido com tráfico de drogas e corrupção de agentes do estado.

“A gente também conseguiu desenvolver alguns trabalhos relevantes na área de pedofilia, que foram feitos prisões de dois pedófilos aqui o ano passado que atuavam na nossa região. Então é um serviço gratificante, que muitas vezes a gente faz em parceria com a Polícia Civil. É um trabalho que eu, particularmente, acho importante, que é tirar esses pedófilos de circulação”, afirma.

Com menos de dois anos na cidade, Zangirolani não mede elogios à equipe que comanda em Joinville. Ele afirma que a experiência de seus colegas dentro da polícia e de como fazer polícia federal em outras regiões e estados faz com que o grupo tenha excelência em seus resultados.

“Aqui nós temos três policiais que, regularmente, todo o curso de formação em Brasília são recrutados pra treinar e formar essa equipe lá. Nós temos policiais aqui que são especializados em crimes que que estão entrando em evidência agora, como crimes cibernéticos, crimes envolvendo criptomoeda. Então, assim, o que eu destaco no efetivo aqui de Joinville é o alto grau de qualificação e experiência dos servidores, nas mais diversas áreas”, elogia.

Trajetória

Natural do Espírito Santo, antes de entrar para a PF, Vinícius Faria Zangirolani atuou como advogado. Com sonho de ser delegado federal, prestou três concursos públicos e trabalhou como escrivão por quatro anos, antes de assumir a função, em 2003.

Com mais de 14 anos na atividade, o delegado já atuou como chefe da PF em Mato Grosso do Sul, no interior e na capital, no interior de São Paulo e chefiou também uma equipe de investigações especiais no interior do Paraná. Sua especialização é em combate ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

“De Três Lagoas (MS) eu retornei pra Londrina, que é o meu berço, onde está minha família e onde estudei. Em 2020, recebi o convite para vir pra cá”, conta.

Em Joinville, além do gosto pela cidade e reconhecimento pelos seus profissionais, Zangirolani também cultiva paixão pela vista de sua janela, que contempla a natureza.

Para ele, mesmo em meio à pandemia, o trabalho da PF não foi afetado.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

“Ela (pandemia) foi um divisor de águas pra mostrar que, realmente, a segurança pública aqui no estado está ali, à disposição do cidadão, mesmo nos momentos mais dificeis”, finaliza.


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