Como a indústria de Joinville está sendo afetada pelas tarifas de 50% do governo Trump
Empresária afirma que muitas empresas já enfrentam perda de competitividade e renegociação de contratos com os EUA
Empresária afirma que muitas empresas já enfrentam perda de competitividade e renegociação de contratos com os EUA
As tarifas de até 50% impostas pelo governo Trump ao Brasil já provocam apreensão entre empresas exportadoras de Joinville, especialmente nos setores metalmecânico, plástico e de tecnologia. Segundo a empresária de comércio exterior Carla Pinheiro muitas empresas já enfrentam perda de competitividade e renegociação de contratos com o mercado norte-americano, cenário que pode levar à retração de investimentos, adiamento de projetos e até demissões se não houver resposta efetiva.
Carla Pinheiro, empresária de comércio exterior e CEO da Unique Aduaneira, afirma que, assim como no Brasil inteiro, o tarifaço de Trump têm gerado apreensão entre as indústrias exportadoras de Joinville, especialmente nos setores metalmecânico, plástico e de tecnologia.
A avaliação é de que há incerteza e cautela quanto à manutenção de contratos e à sustentabilidade dos negócios, com possibilidade de redução das margens de lucro para preservar acordos com importadores dos Estados Unidos. “Isso impacta negativamente, e vamos dizer que não tivemos nem muito tempo de se preparar para isso. Foi praticamente da noite para o dia”, comenta.
Setores como os de máquinas e equipamentos, autopeças e componentes industriais já relatam dificuldades em manter a competitividade no mercado norte-americano, de acordo com a empresária. Carla informa muitas empresas já registram queda na competitividade de seus produtos no mercado norte-americano e enfrentando renegociações de contrato com distribuidores, que buscam alternativas mais viáveis.
“É complicado exportar para os EUA com essa taxação. Negociar com o Brasil hoje ficou inviável financeiramente pelo custo que os EUA vão ter com a importação dos produtos do Brasil”, ressalta.
O impacto das tarifas norte-americanas também atinge de forma indireta empresas fornecedoras ligadas às exportadoras de Joinville. “Porque todas as cadeias são interligadas, e quando uma exportadora perde força, fôlego, toda a rede de fornecedores é afetada, toda a cadeia sofre, especialmente as pequenas e médias empresas”, afirma. Ela aponta que já há redução de pedidos, renegociação de prazos e retração de planos de expansão, especialmente nos segmentos de química, metalmecânico e embalagens.
Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em 2024,
Santa Catarina aparece em quarto lugar na lista de maior prejuízo financeiro (R$ 1,7 bi), mas é o estado com a segunda maior queda prevista no PIB: -0,31%.
A empresária ressalta que algumas companhias têm direcionado esforços para ampliar negócios na América Latina, Europa e mercado asiático, embora esse redirecionamento exija tempo e adaptação, já que não é simples substituir rapidamente a demanda do mercado norte-americano para outro mercado.
O redirecionamento das exportações é uma alternativa considerada por empresas de Joinville, especialmente para mercados do Mercosul e de outros países da América Latina, que oferecem menor barreira de entrada e custos mais acessíveis.
No entanto, segundo Carla Pinheiro, essa transição não é simples, pois muitas indústrias adaptam seus produtos especificamente para atender às exigências do mercado norte-americano. “Um item personalizado para os Estados Unidos pode não ter tanta receptividade em outros mercados”, explica.
Já para produtos mais comuns e de maior aceitação em outros mercados, há possibilidade de abertura de novos mercados, mas isso exige investimentos. Entre as adaptações necessárias, Carla cita certificações, ajustes de embalagem e tradução de rótulos para o idioma local, o que torna o processo mais demorado e custoso. “Não é uma transição simples”.
Para Carla Pinheiro, as medidas adotadas pelo governo federal até o momento são “extremamente tímidas” diante da gravidade da situação. Ela avalia que há falta protagonismo na condução do tema, tanto no campo diplomático, com a retomada do diálogo e negociação com os Estados Unidos, quanto no apoio à internacionalização das empresas, com estímulo à diversificação dos mercados.
“Quando o governo não se posiciona para uma negociação e também não dá subsídio para o mercado interno, fica bastante delicado para a economia e para as empresas e indústrias do nosso Brasil, e Joinville é uma cidade altamente industrial e exportadora”, ressalta.
Caso a situação se prolongue sem uma resposta efetiva e positiva, a empresária afirma que há risco de retração no nível de investimentos, adiamento de projetos com os EUA, e em casos mais críticos demissões. Embora o parque industrial de Joinville seja considerado forte e resiliente, mesmo as empresas mais sólidas sentiriam os impactos de um desequilíbrio nos fluxos de exportação. “Isso é inevitável”, afirma.
A empresária explica que o momento exige uma combinação de estratégias. A diversificação de mercados é essencial, mesmo que o processo seja complexo. Também é importante fortalecer os canais já existentes em outros países onde as empresas já atuam, tanto com parceiros americanos quanto de outros mercados.
Ela ainda comenta que a inovação e a diferenciação de produtos podem ser caminhos para manter a competitividade diante de um ambiente tarifário mais hostil. Além disso, Carla recomenda que as empresas se aproximem das entidades de classe, buscando ações conjuntas, troca de experiências e construção de soluções coletivas para enfrentar os desafios.
Carla Pinheiro ressalta que o comércio exterior não é uma atividade isolada e que suas oscilações afetam diretamente o PIB local, a geração de empregos e a arrecadação tributária. Nesse sentido, medidas como o “tarifaço” norte-americano não afetam apenas as empresas exportadoras, mas toda a comunidade econômica regional, já que toda a cadeia produtiva sofre os reflexos.
Ela defende que o tema seja tratado com seriedade, por meio da união entre setor público, iniciativa privada e sociedade organizada para preservar a competitividade e garantir o desenvolvimento sustentável de Joinville.
Com arquitetura única em Joinville, Palacete Dória precisou ser construído por empresa de Curitiba: