Como as tarifas impostas pelo governo Donald Trump podem afetar a indústria de Joinville

Em 2024, os Estados Unidos foram o maior destino das exportações de Joinville, com 22% do total

Como as tarifas impostas pelo governo Donald Trump podem afetar a indústria de Joinville

Em 2024, os Estados Unidos foram o maior destino das exportações de Joinville, com 22% do total

Lara Donnola

O comércio exterior tem um papel fundamental para a economia joinvilense. Em 2024, os Estados Unidos foram o maior destino das exportações de Joinville, com 22% do total. Em entrevista ao jornal O Município Joinville, a presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Carla Pinheiro, analisa os impactos das tarifas impostas pelo governo Donald Trump na indústria local.

Em 2024, os Estados Unidos foi o país que Joinville mais exportou (22%) e o quinto de onde mais importou (4,8%). Em 2025, o cenário é parecido, os EUA continua sendo o que mais recebe exportações de Joinville (21%) e passou a ocupar a quarta posição nas importações (5,2%). Os dados são da ComexVis, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

A presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Acij, Carla Pinheiro, afirma que as tarifas impostas pelos Estados Unidos durante o governo Trump podem afetar diretamente a indústria de Joinville, que é fortemente conectada ao comércio exterior. “Qualquer mudança de relações comerciais globais gera um reflexo direto ou indireto para a indústria, a cidade, o estado e o país”, comenta. “No entanto, ainda é cedo para afirmar que já houve impactos significativos”.

O anúncio das tarifas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, incluiu uma lista com as novas alíquotas e a lógica de aplicação baseada na reciprocidade tarifária com cada país. O Brasil, por ter uma tarifação considerada menor, foi incluído na faixa mínima de 10%.

Porém, apesar de aparentemente mais branda, a alíquota de 10% já traz impactos relevantes para setores estratégicos. Carla destaca dois produtos específicos afetados por tarifas mais elevadas, o aço e o alumínio, que passaram a ter uma taxa de 25%. “Essas tarifas sim aumentam o custo dos compradores americanos, o que pode desestimular algumas exportações daqui pra lá”, informa.

Interpretações equivocadas sobre a taxação

Carla ressalta que o objetivo das medidas é incentivar a produção interna americana. “O Trump está buscando a retomada da industrialização do país dele, para que eles comprem do próprio país”, diz. Ela alerta para uma interpretação equivocada no mercado, que entende que as tarifas seriam aplicadas diretamente aos produtos brasileiros, quando, na verdade, incidem sobre a entrada desses itens nos EUA.

De acordo com Carla, Joinville, que exporta uma variedade de produtos como peças, componentes industriais, autopeças, motores elétricos, compressores e máquinas, é afetada, pois muitos desses itens utilizam aço e alumínio na fabricação. “Com as tarifas, esses produtos vão chegar mais caros no mercado americano. As nossas indústrias podem perder competitividade frente a outros fornecedores de outros países”, afirma.

Além das exportações, outros setores também podem sentir os efeitos, segundo a empresária. Isso pode levar à renegociação de contratos, de fornecedores e, consequentemente, gerar instabilidade econômica. “Gera um estresse na economia. Inclusive na bolsa de valores”, pontua. Ela ainda destaca que os impactos podem afetar também operadores logísticos, transportadoras e prestadores de serviço da cadeia de comércio exterior.

“Todo o ecossistema depende de um bom fluxo comercial pro exterior pra dar certo”, afirma, destacando que a instabilidade nas relações internacionais gera cautela e pode impactar os investimentos na região.

Empresas devem ser estratégicas

Segundo a presidente do Núcleo Negócios Internacionais da Acij, ainda é cedo para afirmar se já houve mudanças concretas nas estratégias das indústrias locais, mas ela garante que as empresas que exportam para os Estados Unidos não estão inertes. “As empresas certamente estão fazendo reuniões de alta direção, planejamento, olhando metodologias, fazendo contas pra ver como é que fica a questão de custo”, comenta.

Para ela, mais do que uma reação pontual, o momento evidencia a necessidade de diversificação de mercados, investimento em inovação e diferenciação de produtos, além do fortalecimento do diálogo entre setor produtivo e formuladores de políticas públicas para garantir a competitividade da indústria brasileira.

Além disso, a empresária avalia que esse cenário de instabilidade nas relações comerciais com os EUA pode abrir novas possibilidades para as indústrias brasileiras, especialmente no sentido de buscar a diversificação de mercados.

Segundo Carla, isso serve como alerta para que as empresas estudem melhor os riscos do comércio exterior e reflitam sobre onde manter suas produções. Além de explorar novos destinos para exportação, Carla defende que é essencial investir em inovação e diferenciação de produtos para manter a competitividade.

Embora ainda não haja relatos concretos de perda de contratos por parte das indústrias de Joinville, Carla destaca que o clima é de atenção e incerteza. “É mais um estresse que gera no mercado financeiro. Empresas que exportam para os Estados Unidos já acompanham de perto os impactos das tarifas e estudam estratégias para mitigar possíveis efeitos, como buscar novos mercados ou ampliar a atuação no mercado interno”, diz.

Carla ainda cita que o agronegócio não é um setor relevante nas exportações de Joinville, mas destaca que a cidade pode ser afetada indiretamente, já que abriga empresas que fornecem máquinas, tecnologia e serviços para esse segmento. Segundo ela, mesmo setores não impactados diretamente pelas tarifas podem sofrer com o “efeito cadeia”, caso o Brasil perca espaço no mercado americano.

Com isso, para ela, o cenário é de atenção e alerta, já que a perda de mercado externo pode afetar não apenas os exportadores diretos, mas também todo o ecossistema que depende da manutenção das relações comerciais com os Estados Unidos.

Medidas da Acij diante das tarifas

Carla Pinheiro informa que o Núcleo de Negócios Internacionais da Acij tem promovido ações para orientar os empresários diante das novas barreiras comerciais. Um dos exemplos foi o Meeting Comex, realizado nos dias 8 e 9 de abril, considerado o maior evento de comércio exterior do Brasil, que reuniu mais de 2,6 mil participantes.

Durante o encontro, CEOs de grandes empresas da região discutiram os impactos das tarifas anunciadas por Trump e estratégias para enfrentá-los. O tema também foi abordado em painéis sobre logística internacional. Além disso, Carla afirma que o núcleo realiza reuniões quinzenais com especialistas para debater assuntos em alta no comércio exterior, e as tarifas americanas certamente serão pauta nas próximas agendas.

Carla elogia a força do polo industrial de Joinville e o trabalho dos empresários locais. Com esse cenário, ela aconselha os empresários a diversificar seus mercados e adaptar seus produtos para atender novos clientes. Apesar das incertezas, ela acredita que os Estados Unidos continuarão sendo um importante parceiro comercial, mas enfatiza a necessidade de investir em inovação e tecnologia como diferenciais para manter a competitividade brasileira no mercado global.


Assista agora mesmo!

Região de Joinville já era habitada há 10 mil anos: conheça os quatro povos anteriores à colonização:

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo