Como é preparar corpos para velórios? Agente funerário de Joinville usa redes sociais para tirar dúvidas
Bruno de Oliveira tira dúvidas da profissão para mais de 400 mil seguidores
Bruno de Oliveira tira dúvidas da profissão para mais de 400 mil seguidores
Cultivar o interesse em algo que para a maioria das pessoas é indesejável ou assustador, é incomum. Porém, é o que Bruno de Oliveira, de 30 anos, faz. O tanatopraxista atualmente é vendedor de planos funerários em Joinville.
Foi em Irati (PR) que surgiu a curiosidade por cadáveres. Lá, quando tinha sete anos, encontrou o corpo de um homem morto. Depois disso, passou a querer frequentar velórios e funerárias.
O desejo de encontrar os defuntos acontecia mesmo quando se tratava de pessoas desconhecidas. A curiosidade maior era saber como as pessoas sem vida eram preparadas e arrumadas para os velórios.
Bruno explica que, desde a infância, sempre pareceu tentador descobrir como era o processo, mas, ao fazer perguntas, as respostas eram carregadas por palavras e mensagens o amedrontando. A partir disso, em 2019, ele descobriu e iniciou um curso de necropsia em Joinville.
@brunotanatoResposta a @beshyoliveira6 piercing! ##morte ##funeraria ##tanatopraxia ##fypシ ##foryou ##cienciasmortuarias ##periciacriminal♬ som original – Bruno
Depois de experiências como agente funerário, o rapaz explica que a rotina na atual função é caótica. “Você não dorme bem, não come bem, tem dias que são 17 horas e eu não almocei”, conta.
Ele lamenta que as pessoas pensem que a função é apenas dirigir o carro da funerária, entretanto, envolve diversas outras competências, como a remoção do corpo no hospital, preparo adequado do corpo, levá-lo ao velório e, por fim, o sepultamento.
Para romper com julgamentos e preconceitos, Bruno decidiu criar canais e perfis nas redes sociais para desmistificar a morte. Ele diz que trabalhar com mortes é lidar com o preconceito de comentário e piadas desnecessárias, como envolvendo fantasmas. “Quero mostrar que é uma profissão normal”, explica.
Com cerca de 424 mil seguidores no TikTok e 29 mil no Instagram, o homem expõe o dia a dia no trabalho e tem também um objetivo de humanizar a profissão.
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Com diversos seguidores e já experiente na área, o rapaz utiliza as redes sociais também para tirar dúvidas, expor a rotina e contar os fatos inusitados da profissão.
Bruno conta, por exemplo, que não é possível, pela falta de espaço, um casal ser sepultado no mesmo caixão. “Até hoje, só vi uma mãe ser enterrada com a filha pequena”, diz.
No caso em que o falecido doa as córneas, o vendedor de planos funerários explica que o local é preenchido com algodão e plástico, que simula os olhos.
Ele também conta que a limpeza das salas deve ser realizada diariamente, utilizando água sanitária e desinfetante, além de, duas vezes ao mês, com apoio de hipoclorito de sódio.
O banho também é outro ponto que gera dúvidas nos seguidores. Segundo Bruno, ele é realizado com água em temperatura natural, com sabão no corpo e shampoo no cabelo.
Os adereços, como piercing, dentes de ouro brincos ou anel, não devem ser retirados do corpo. “Se a pessoa comprou, é dela para sempre”, sinaliza Bruno.
Apesar de entender que está na área desejada, nem sempre trabalhar com a morte é uma situação tranquila para Bruno. Ele conta que entre as principais dificuldades está o atendimento de crianças, situação que acaba com o seu dia.
O profissional conta que em um plantão já teve que atender dois óbitos de criança, ambas com apenas dois anos. “Tragédias em duas famílias. E eu tenho o meu filho, na época tinha a mesma idade, foi muito difícil”, relembra.
Além dos cuidados com o pequeno cadáver, os momentos mais dolorosos são levar a criança ao velório e abrir o caixão. “A avó veio e vi o primeiro olhar dela para o seu neto, imaginei a minha mãe naquele estado”, pensa.
Para o futuro, Bruno conta que deseja fazer diversos cursos, se especializar e ministrar aulas sobre o tema.
Além disso, ele quer crescer profissionalmente, comercializando planos de assistência familiar. “Quero mostrar que o tema que trabalho é algo necessário de se pensar. Muitas pessoas fogem da morte, mas é algo que não tem como fugir. É a única certeza que todos da vida”, finaliza.
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