Como Joinville tornou-se pioneira na produção de geladeiras no Brasil
Rudolf Stutzer fabricou o primeiro modelo a gás do Brasil em Brusque e Wittich Freitag levou produção para o Norte do estado
Item de primeira necessidade e hoje presente de diferentes formas em todas as casas, a primeira geladeira fabricada no Brasil saiu da oficina de anzóis de Rudolf Stutzer, em Brusque, e ganhou escala pelas mãos de Wittich Freitag, em Joinville, anos depois.
O ano era 1947. Stutzer era um homem muito inteligente e autodidata, que sempre se dedicou em criar coisas novas. Ele não descansou enquanto não decifrou o enigma da geladeira importada, movida a querosene, que conheceu em Porto Alegre, durante uma viagem a trabalho.
“Ele ficou matutando porque embaixo tinha fogo e em cima gelo, pois eram coisas bem contrárias”, lembra Dolores Ingrit Heinzelmann, 85 anos, filha de Stutzer.
Ela recorda que era bem menina quando o pai decidiu criar uma geladeira a querosene. “Quando chegou em casa de viagem, ele começou a trabalhar e fez disso um projeto. Depois de muito trabalho, ele conseguiu realizar esse sonho”, diz.
Stutzer trabalhava dia e noite na oficina com o objetivo de fabricar a geladeira. Dolores conta que a primeira levou mais de um mês para ficar pronta. Para conseguir o feito, ele pediu ajuda ao cunhado, Oscar Bachmann, com os cálculos. Já a parte mecânica foi toda desenvolvida por ele, com chapas de metal dobradas manualmente.
Logo a notícia de que uma geladeira a gás havia sido fabricada em Brusque se espalhou, chegando até Joinville. Lá, o empresário Wittich Freitag, das Lojas Freitag, se interessou pelo negócio e decidiu vir a Brusque para ver de perto o feito de Stutzer.
“Ele chegou e falou para o meu pai que podiam levar a ideia para Joinville e abrir uma fábrica de geladeiras lá”, conta Dolores.
Stutzer aceitou e se tornou sócio de Freitag e também do empresário Guilherme Holderegger. No início, Dolores lembra que eram fabricadas duas geladeiras por semana. Em Brusque, seus amigos achavam loucura.
“Quando eles se acertaram na conversa, meu pai foi falar para os amigos em Brusque e eles diziam que era uma ideia louca, pois quem iria comprar todas essas geladeiras. Realmente o negócio tornou-se tão grande que hoje fabricam mais de mil geladeiras por dia”.
Foi assim, então, que surgiu a primeira fábrica de geladeiras do Brasil: a Consul. O nome da indústria foi um pedido do próprio Stutzer, como forma de homenagear seu amigo Carlos Renaux. “Meu pai exigiu que o nome da fábrica continuasse Consul”, afirma.
Stutzer ficou na empresa até o fim dos anos 1950. “Lembro que ele idealizou alguma coisa para a porta da geladeira, não aceitaram e fizeram algo bem diferente. Ele chegou bem abatido em casa, sentiu que não era mais o dono disso”, conta Dolores.
Professor Pardal
A filha recorda que o pai era um homem inquieto e sempre estava à procura de novos projetos. Depois de deixar a Consul, documentou em foto e vídeo a construção de Brasília, rodou o país fazendo excursões com um ônibus e, depois de uma viagem à Alemanha, criou o espetáculo das Águas Dançantes, que fez muito sucesso nos anos 60 e 70.
“Meu pai era um grande curioso, lembro que o chamavam de professor Pardal, pois ele tinha uma grande facilidade de fazer coisas diferentes”.
Dolores fala com orgulho das façanhas do pai e do legado que ele construiu. “Todas essas coisas enchem a gente de orgulho. Era um homem muito alegre, dado, uma grande pessoa”. Rudolf Stutzer morreu em 17 de janeiro de 1984.
“Eu e meus irmãos temos muita saudade dele e conseguimos incutir nos nossos filhos e netos o orgulho e amor que sentimos por ele”, finaliza Dolores.