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Como a última grande pandemia atingiu o futebol brasileiro

O governador Carlos Moisés liberou os treinamentos para equipes profissionais do estado. Embora algumas prefeituras tenham impedido as práticas e as equipes estejam sendo cautelosas em relação ao retorno dos trabalhos presenciais, a decisão do governo estadual deixa a volta do Campeonato Catarinense mais próxima. Porém, a curva do coronavírus segue crescendo no país todo, incluindo Santa Catarina.

Logo que ganhou projeção mundial, o coronavírus foi comparado à gripe espanhola, que gerou uma pandemia no planeta em 1918. Apesar do nome, a doença surgiu nos Estados Unidos e se disseminou durante a Primeira Guerra Mundial. Ao todo, 500 milhões de pessoas contraíram a gripe e mais de 50 milhões de vidas foram perdidas. No Brasil, os números oficiais apontam para 35 mil mortos, inclusive o então presidente da República, Rodrigues Alves. Já o coronavírus acabou de superar a marca de 13 mil mortos no Brasil, em números oficiais.

Mas e o futebol? Onde entra nessa história? Bom, o esporte naturalmente foi afetado pelas duas pandemias. Em 1918 o Brasil sediaria o Sul-americano de seleções (atual Copa América), competição que foi adiada para o ano seguinte e foi a primeira conquista da seleção brasileira na história. O futebol ficou paralisado por quase dois meses no Rio de Janeiro e três em São Paulo. O primeiro Campeonato Catarinense só seria disputado em 1924, então a gripe espanhola não causou maiores efeitos no estado.

Em outros locais foi bem diferente. No Rio a gripe atingiu em cheio os clubes que disputavam o estadual. O principal afetado foi o Fluminense. A equipe carioca teve 24 sócios infectados e um de seus atletas faleceu. Archibald French havia sido contratado naquele ano junto ao Bangu e era peça importante da equipe que estava prestes a conquistar o Carioca quando o campeonato foi interrompido. Faleceu aos 22 anos após contrair a gripe.

French morreu de gripe espanhola aos 22 anos. Foto: Arquivo

O goleiro Marcos Mendonça também foi infectado, mas se recuperou. Quando o futebol foi retomado, o Flu fez apenas um jogo, que lhe garantiu o título daquele ano e não entrou mais em campo em 1918. Os colegas dedicaram a conquista ao jovem French.

O futebol carioca ainda choraria a morte de João Cantuária, de 24 anos. O atleta do São Cristóvão era muito querido na cidade e seu falecimento causou muita comoção. O jogador foi homenageado pelo clube em seu hino, composto pelo genial Lamartine Babo, no verso: “Estimulam sua fibra extraordinária os grandes feitos do saudoso Cantuária”.

São Paulo também teve atletas vitimados pela doença. O campeonato já estava conturbado por conta de uma confusão envolvendo Paulistano e Palestra Itália, no confronto que registrou a primeira briga entre torcidas no estado. Reclamando de perseguição da arbitragem, o Palestra chegou a abandonar o campeonato entes de ele ser paralisado. Durante a pausa, Octavio Egydio de Oliveira Carvalho, destaque da Associação Atlética das Palmeiras, faleceu aos 26 anos.

A A.A. das Palmeiras liderava a competição quando ela foi interrompida, mas quando retornou acabou perdendo o título para o Paulistano. O campeonato se estendeu tanto que só acabou em 1919. Tanto o campeonato carioca quanto o paulista realizaram apenas os jogos que ainda definiriam o campeão do torneio. Já o Campeonato Gaúcho foi interrompido e não voltou mais. A edição de 1918 não teve campeão.

Ainda não tivemos nenhum caso de jogador vitimado pelo coronavírus, ainda que vários tenham testado positivo para a doença. Porém, olhar para a história é um bom indicativo para não repetirmos os erros do passado.