Confira o perfil dos mortos pela dengue em Joinville em 2023
Reportagem é baseada em dados fornecidos pelo sistema de Saúde de Joinville
Reportagem é baseada em dados fornecidos pelo sistema de Saúde de Joinville
Vetor da dengue, o mosquito aedes egypt está em Joinville desde, pelo menos, 2011. Dez anos depois, em 2021, a cidade registrou as primeiras cinco mortes. Menos de dois anos depois, o número sextuplicou. Até 10 de julho de 2023, Joinville perdeu 34 moradores pela doença. Com base nos dados fornecidos pela Secretaria de Saúde, a reportagem do jornal O Município Joinville coletou e organizou informações sobre o perfil das vítimas.
A maioria dos mortos pela dengue em Joinville no ano de 2023 são mulheres, 22 das 34 vítimas são do sexo feminino. Elas tinham entre 26 e 98 anos. Quatro delas não tinham registro de comorbidade. Cinco tinham registro de múltiplas comorbidades.
O restante dos mortos eram homens (12), de 23 a 94 anos. Dois deles não tinham registro de comorbidade. Três deles tinham registro de múltiplas comorbidades.
Segundo Cristiane Soares, gerente de Vigilância em Saúde, a manifestação clínica da doença é igual para todos. Sobretudo, o que amplia a gravidade do quadro é reeinfecção, ou seja, ter dengue mais de uma vez.
No caso das pessoas com comorbidades, o aumento do risco de morte ocorre pois a dengue desequilibra o sistema imunológico da pessoa. “A pessoa com comorbidade está estável e a dengue vai lá e descompensa”, explica Cristiane. Por isso a maioria das mortes é registrada em pacientes que apresentam alguma outra condição de saúde, comuns em pessoas mais velhas.
Entretanto, a gerente de Vigilância em Saúde reforça que os casos crítico da doença são provocados pela desidratação. “Também pode estar relacionado a uma situação de hemorragia mas é principalmente a hidratação”, desmestifica Cristiane. Ela diz que, assim que o paciente toma conhecimento da doença, é preciso ingerir cerca de seis litros de água por dia. Ela também alerta que antinflamatórios e anticoagulantes estão proibidos.
“Tem pessoas que apresentam falta de apetite e náuseas ou vômitos, o tratamento é beber água mas você não consegue, é necessário sim procurar um serviço de saúde porque a hidratação vai precisar ser intravenosa”, conta Cristiane.
A região de Joinville que mais teve vítimas foi a Centro/Norte com dez mortes. Seguida das regiões Nordeste, Leste e Sudeste, com seis mortes cada uma. A região com menos mortes foi a Oeste.
A maioria das mulheres morreu no Centro/Norte, oito mulheres, enquanto dois homens morreram na região. A região onde mais homens morreram foi a Sudeste, com quatro mortes. Na área, duas mulheres morreram.
A região com menos mortes de mulheres foi a Sul, com uma morte, e na Oeste não houve nenhuma. Já a região com menos mortes de homens foi a Nordeste e a Oeste, ambas com uma morte em cada. Na região Sudoeste não houve morte de homens.
“É uma doença que veio e vai ficar, a dengue terá periodos de pico”, adianta Cristiane, da Vigilância em Saúde de Joinville. Embora o momento de explosão de casos seja nos períodos mais quentes do ano, or conta do processo de reprodução do mosquito vetor, ela alerta que podem ocorrer intervalos entre os anos.
Conforme a tendência de outras regiões do país que tem quadros de dengue há mais de 30 anos, Cristiane diz que a Secretaria de Saúde pôde perceber que nem todos os verões serão endêmicos, mas que os cuidados não podem diminuir.
Neste ano, a primeira morte em Joinville foi registrada em março, quando uma mulher morreu no dia 17. Ela tinha 26 anos e era moradora do Jardim Paraíso, na região Nordeste da cidade. Ela não tinha nenhuma comorbidade.
As próximas mortes só foram registradas no mês seguinte, em abril. Sete mulheres morreram e quatro homens, totalizando 11 mortes no mês. A pessoa mais nova a morrer neste mês foi um homem de 23 anos, sem registro de comorbidades. Ele morava no Paranaguamirim, região Sudeste de Joinville, e morreu no dia 18 de abril. Ele foi a pessoa mais jovem a morrer em Joinville pela doença.
Já a pessoa mais velha a morrer em abril foi uma mulher de 98 anos, com registro de comorbidades. Ela morava no bairro Bom Retiro, região Centro/Norte. A morte ocorreu no dia 3 de abril. A mulher foi a pessoa mais velha a morrer na cidade pela doença na cidade.
O mês de maio foi o recorde de mortes em Joinville, com 12 vítimas. Delas, seis eram mulheres e seis eram homens. A pessoa mais nova a morrer em maio era uma mulher de 41 anos. Ela era moradora do bairro Costa e Siva, no Centro/Norte de Joinville. A mulher tinha comorbidades e morreu no dia 19.
A pessoa mais velha a morrer em maio foi um homem, de 92 anos, morador do bairro Guanabara, região Sudeste. Ele morreu no dia dois e tinha comorbidades.
Em junho, 10 pessoas morreram por dengue em Joinville. Oito vítimas eram mulheres e dois homens. A pessoa mais velha a morrer neste mês era uma mulher de 93 anos, moradora do bairro Nova Brasília, no Sudoeste. Ela morreu no dia 5 e apresentava comorbidades.
A pessoa mais nova a morrer em maio também foi uma mulher. Ela tinha 32 anos e morava no bairro Aventureiro, no Nordeste da cidade. Ela morreu no dia 23 e não tinha registro de comorbidades.
Na região Centro/Norte, dez pessoas morreram em 2023. Oito mulheres e dois homens. Todos os mortos na região apresentavam comorbidades, dois tinham múltiplas comorbidades (um homem e uma mulher). Duas mortes na região ocorreram em abril, quatro em maio e quatro em junho. O bairro Bom Retiro teve três mortes, Pirabeiraba teve duas e o Bucarein, Saguaçu, Costa e Silva, Glória e Santo Antonio tiveram uma cada.
A pessoas mais nova a morrer na região tinha 41 anos (duas mulheres com essa idade morreram na área, uma do Costa e Silva e outra de Pirabeiraba) e a pessoa mais velha tinha 98 anos, uma mulher que morava no Bom Retiro.
Na região Leste, seis pessoas morreram por dengue. Quatro eram mulheres e dois homens. Uma das mulheres não tinha comorbidade registrada. Duas mulheres e um homem tinham múltiplas comorbidades e o restante tinha comorbidades.
Três mortes na região ocorreram em abril, duas em maio e uma em junho. O bairro Iririu e o Comasa tiveram cada um duas mortes. O Espinheiros e o Boa Vista tiveram uma morte cada. A pessoa mais nova a morrer na região tinha 54 anos, uma mulher sem registro de comorbidades que morreu no dia 3 de abril, no bairro Iririu. A pessoa mais velha a morrer na região tinha 86 anos, também uma mulher, mas apresentava comorbidades. Ela morreu no dia 20 de julho no bairro Comasa.
Na região Nordeste, seis pessoas morreram por dengue em 2023, cinco mulheres e um homem. Três das mulheres não tinham comorbidade registradas, uma tinha múltiplas comorbidades e o restante apenas comorbidades.
Uma das mortes ocorreu em março, duas em abril, uma em maio e duas em junho. O Aventureiro teve três mortes, o Jardim Paraíso teve duas e o Jardim Sofia uma. A pessoa mais velha a morrer na região tinha 94 anos e múltiplas comorbidades. Ela morreu no dia 8 de abril. Já a pessoa mais nova a morrer na região tinha 26 anos, uma mulher, que morreu em 17 março, o primeiro óbito da cidade. Ela morava no Jardim Paraíso e não tinha registro de comorbidade.
Já na região Sudeste, seis pessoas morreram por dengue em 2023. Essa foi uma das únicas regiões que os homens superaram as mulheres em número de mortes. Quatro homens e duas mulheres morreram. Duas mortes foram registradas em abril, três em maio e uma em junho.
O bairro Paranguamirim teve três mortes, o Guanabara duas e o Ulysses Guimarães uma. A pessoa mais velha a morrer na região tinha 92 anos. O homem morava no bairro Guanabara, tinha comorbidades e morreu no dia 2 de maio. A pessoa mais nova a morrer na região tinha 23 anos, o homem morreu no dia 18 de abril, não tinha registro de comorbidades e morava no Paranaguamirim.
A região Sul teve três mortes por dengue em 2023. Dois homens e uma mulher, dois deles tinham múltiplas comorbidades. Duas mortes aconteceram em abril e a outra em maio. O bairro Floresta teve duas mortes e o Itinga teve uma.
A pessoa mais velha a morrer na região tinha 90 anos. O homem tinha múltiplas comorbidades e morava no Floresta. Ele morreu no dia 30 de abril. A pessoa mais nova a morrer também era um homem, de 78 anos. Ele não tinha registro de comorbidades e morreu no dia 10 de abril, no bairro Floresta.
A região Sudoeste teve duas mortes por dengue em 2023. As duas mulheres moravam no bairro Nova Brasília e tinham comorbidades. A mais velha, de 93 anos, morreu no dia 5 de junho. Já a mais nova, de 73 anos, morreu no dia 31 de maio.
Na região Oeste, apenas uma morte foi registrada. O homem tinha 80 anos e morava no bairro Vila Nova. Ele apresentava comorbidades e morreu no dia 2 de junho.
As duas pessoas mais novas a morrerem por dengue em Joinville são, um homem de 23 anos e uma mulher de 26 anos. Ele morreu no dia 18 de abril, morava no Paranguamirim, na região Sudeste e não tinha registro de comorbidades. Já ela morreu no dia 17 de março, morava no Jardim Paraíso, região Nordeste e também não tinha registro de comorbidades. Ela foi a primeira morte por dengue em Joinville em 2023 e a segunda pessoa mais nova a morrer na cidade por conta da doença. Ele foi a oitava morte.
As pessoas mais velhas a morrerem e Joinville são duas mulheres uma de 98 e outra de 94 anos. A de 98 anos tinha comorbidades e morava no Bom Retiro, região Centro/Norte e foi a 3ª morte da cidade em 3 de abril. Já a segunda mais velha, de 94 anos, tinha múltiplas comorbidades e morava no Aventureiro, região Nordeste, ela foi a 5ª morte em 8 de abril.
As pessoas que moravam na região Centro/Norte tinham de 41 anos a 98. Três de 41 a 45, quatro de 74 a 79, duas de 82 a 83, e uma de 98. Todos com alguma comorbidade
Já na região Leste, as vítimas tinham de 54 a 86 anos. Duas de 54 a 67, uma de 73, e três de 80 a 86. Apenas a mais nova não tinha registro de comorbidades.
Na região Nordeste, os mortos tinham de 26 a 94 anos. Uma de 26, duas de 32 a 34, duas de 56 a 62 e uma de 94. As três pessoas mais novas não tinham registro de comorbidades.
Na região Oeste apenas uma morte de 80 anos, com comorbidade.
No Sudeste, as vítimas tinham de 23 a 93 anos. Duas de 23 a 31, duas de 48 a 50, duas de 73 a 86 e duas de 92 a 93. Apenas o mais novo não tinha comorbidades.
Na região Sul, os mortos tinham de 78 a 90 anos. Apenas um não tinha registro de comorbidades.
Os bairros com mais mortes em Joinville não são os com mais casos confirmados até 10 de julho. Cristiane Soares, gerente de Vigilância em Saúde, explica que isso ocorreu, pois, quando uma morte é confirmada, mais ações são voltadas ao bairro, de conscientização e cuidados com a saúde. Assim, quando uma morte ocorre, a comunidade tende a se mobilizar o que evita novas vítimas.
Os primeiros casos de dengue em Santa Catarina foram relatados em 2011, em Joinville e São João do Oeste. Em 2012, Joinville volta a registrar casos, acompanhada de Itapema e Chapecó. Já em 2014, Itajaí apareceu no mapa da dengue e, no ano seguinte, houve a primeira epidemia de dengue no estado na cidade.
Segundo o Anderson da Silva, da Vigilância Sanitária, Joinville e o estado passaram por um processo de colonização do mosquito vetor. Com o passar dos anos, a população do mosquito cresceu e tende a crescer ainda mais. Anderson explica que os ovos podem ser colocados em ambientes secos para eclodir só no ano seguinte. “Ele pode ficar 1 ano e 3 meses amortecido”, explica sobre o ovo do mosquito.
Devido à essa resistência do vetor, Joinville saiu de 54 casos notificados em 2014, segundo dados da Dive, para mais de 50 mil em 2023. Na plataforma disponibilizada pela Prefeitura de Joinville, os dados são fornecidos a partir de 2020. De lá para cá, a quantidade de casos confirmados cresceu 214 %.
Já as mortes pela doença saíram de cinco casos em 2021 para 34 até o fim de junho de 2023, um crescimento de 530%.
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