Conheça artista de Joinville que ganhou destaque após construir versão reduzida da vila do Chaves
Ele tem um projeto que pretende criar dioramas dos principais pontos turísticos de Joinville
Ele tem um projeto que pretende criar dioramas dos principais pontos turísticos de Joinville
O designer joinvilense Fabiano Debortoli, de 45 anos, transforma sua paixão por maquetes em obras realistas cheias de detalhes, como a famosa vila do Chaves, cenário que dedicou anos para reproduzir. As produções, que trazem memórias afetivas e referências culturais, encantam fãs e colecionadores. Com produção 100% artesanal, ele cria dioramas que vêm ganhando destaque nas redes sociais.
O interesse de Fabiano por maquetes e dioramas começou ainda na infância, por volta dos 8 anos de idade. Na época, ele assistia desenhos animados feitos em stop-motion. A técnica, que dá vida a bonecos e cenários em miniatura quadro a quadro, despertava sua curiosidade. “Eu imaginava como eram feitos aqueles bonecos e cenários que se movimentavam na TV como um passe de mágica”, comenta.
Isso o levou a desenvolver um fascínio cada vez maior por design de cenários e miniaturas, interesse que permaneceu latente até ser retomado com mais intensidade na vida adulta. Em 1998, ao ingressar no curso de Design da Univille, Fabiano reencontrou o universo do stop-motion, escolhendo justamente essa técnica para seu trabalho de conclusão de curso.
“Eu desenvolvi como TCC o primeiro curta-metragem de animação stop-motion da universidade”, informa. Após se formar, em 2002, seguiu carreira na área de webdesign, e há 10 anos atua como analista de webdesign em uma empresa de sistemas. “Foi em 2016 que redescobri e abracei de vez a arte dos dioramas”, conta.
O retorno de Fabiano ao universo dos dioramas aconteceu de forma espontânea, enquanto navegava pelo Instagram. “Me deparei com o trabalho de dois artistas dessa área, Fabiano Faucz de Curitiba, e Santiago Ribeiro, de Sorocaba. A riqueza de detalhes e o realismo das obras me chamaram muito a atenção”, menciona.
Pouco depois, ele soube de uma exposição dos trabalhos de Faucz na Biblioteca Pública de Curitiba e fez uma viagem rápida só para ver os trabalhos de perto. “Era o último final de semana da mostra. Era a motivação que me faltava pra eu cair de vez nesse mundo”, conta.
A partir disso, Fabiano passou a estudar intensamente sobre o universo dos dioramas, buscando referências, técnicas e materiais. Também entrou em contato com os próprios artistas que o inspiraram, em busca de mais informações sobre o processo criativo. Foi nessa fase que produziu seu primeiro trabalho: um diorama de uma casinha abandonada.
Entre os trabalhos produzidos por Fabiano Debortoli, o que mais chama atenção é a maquete da Vila do Chaves. A reprodução em miniatura do icônico cenário do seriado mexicano é uma das mais comentadas em seu perfil no Instagram, onde ele compartilha fotos do processo, detalhes da construção e curiosidades sobre suas produções.
“Eu me lembro até hoje do primeiro episódio que assisti no SBT quando pequeno, e desde essa época eu já manifestava a ideia de construir uma maquete da vila do Chaves”, conta o designer. Ele chegou a montar uma versão com papelão e giz de cera, mas não guardou nenhum registro da criação.
Anos depois, com mais conhecimento técnico e domínio sobre materiais e proporções, decidiu retomar o projeto. “Dessa vez eu queria fazer algo diferente e único”, afirma. O objetivo era dar à vila uma estética mais realista, com telhados, sacadas e ruas, como se fosse um grande cortiço que realmente tivesse existido.
A maquete da Vila do Chaves começou a ser construída em 2017, logo após Fabiano concluir seu primeiro diorama. Sem um projeto definido na época, ele decidiu tomar como base os cenários já conhecidos do programa, como o pátio principal, a entrada da vila e a rua. Com o tempo, passou a expandir esses espaços, acrescentando elementos que não existiam originalmente na série, como telhados, sacadas e outros detalhes que ajudaram a criar uma versão mais realista e viva do local.
O trabalho foi desenvolvido em etapas, com pausas e retomadas ao longo dos anos. O primeiro pátio foi finalizado em cerca de cinco anos. Em seguida, Fabiano ficou um ano sem trabalhar na maquete, até decidir dar continuidade ao projeto com um plano mais elaborado para o segundo pátio.
No total, foram oito anos dedicados à reprodução da vila e, mesmo assim, o projeto segue em evolução. “Ainda sigo acrescentando mais coisas nela”, comenta. Entre os elementos adicionados recentemente estão referências a episódios marcantes do programa, como o bastão de equilibrar do Chaves, a cama de gesso do Seu Madruga (ou o leite de burra) e a pichorra da Festa da Boa Vizinhança.
Segundo Fabiano, as maquetes produzidas variam bastante em tempo de execução, dependendo do tamanho, dos materiais utilizados e da complexidade de cada peça. “Desde 3 dias até 6 meses”, informa. Ele produziu uma maquete detalhada da torre do relógio, cenário do filme De Volta para o Futuro III, que levou seis meses para ser concluída.
Para dar vida às maquetes, Fabiano combina materiais simples com outros mais sofisticados, muitos deles adquiridos fora de Joinville. Entre os itens, estão: madeira balsa, massa plástica, isopor depron, papelão comum e papelão couro e latinhas de alumínio.
Também utiliza palitos de picolé e de churrasco, arames, papel kraft, gesso e até cimento.
Segundo ele, mais importante do que os materiais são os instrumentos utilizados no processo de produção, que fazem uma grande diferença no produto final. Ele utiliza colas de diversos tipos, pinças, lentes de aumento, estiletes bisturis, mini-retífica, tinta acrílica, betume, aerógrafo, soprador térmico, moldes de borracha de silicone e outros.
O processo de criação de uma maquete, segundo Fabiano, começa com uma etapa intensa de pesquisa visual. Ele busca o máximo de referências possíveis para estudar os elementos que pretende reproduzir. Essas referências são então transferidas para o computador, onde ele analisa proporções, detalhes e define a escala de cada parte da peça. “O que eu não consigo, eu tento usar de liberdade criativa pra reproduzir as partes que eu não consigo ver”, explica.
Essa liberdade é usada de forma cuidadosa, sempre com o objetivo de manter a coerência estética da obra. No caso da maquete da vila do Chaves, por exemplo, ele adaptou elementos arquitetônicos (paredes rachadas, portas e janelas) presentes na série, para criar partes que nunca apareceram no programa, com o objetivo de manter a identidade visual.
Dessa forma, conseguiu construir novos espaços sem destoar do cenário original. “Outro exemplo foi a torre do relógio: pra essa peça eu tinha apenas duas fotos como referência: uma dos bastidores, e outra era um print do próprio filme”, conta.
O que mais atrai Fabiano no universo das maquetes é a liberdade criativa. “Construir dioramas é como criar um universo só seu, onde você conduz e faz suas próprias regras”, comenta.
Para ele, esse tipo de trabalho estimula um novo olhar sobre objetos do cotidiano, que passam a ser vistos com outras possibilidades de uso. “Um pequeno frasco de plástico pode virar um botijão, ou as cerdas de um esfregão de metal virarem os arames de uma pequena gaiola”, exemplifica.
Os desafios, segundo ele, estão presentes em qualquer projeto, independentemente da escala ou complexidade. Ainda assim, é justamente esse exercício criativo que ele considera o mais interessante da arte dos dioramas. Fabiano faz questão de manter um processo totalmente manual. “Todas as peças que eu crio, eu as construo de forma 100% artesanal, sem impressões em 3D”, afirma.
Até hoje, ele já produziu cerca de 30 dioramas. No entanto, ele explica que quase metade dessas obras são peças replicadas. Apesar disso, sua preferência é por criar maquetes únicas, que não tenham cópias. “Eu prefiro criar maquetes que são filha única, pois assim eu posso colocar personalidade nelas”, comenta.
Embora crie um vínculo emocional com cada peça que desenvolve, Fabiano não hesita ao apontar sua maquete favorita: a Vila do Chaves. “Não só pelo tempo e dedicação que eu tive para construí-la, mas porque ela resgata uma memória afetiva muito forte, de um programa que representou uma parte feliz da minha infância, e do qual eu sigo sendo fã até hoje!”, expressa.
Fabiano encara a produção de maquetes como um hobby, porém, em 2022, criou um projeto especial da casinha do Seu Madruga e replicou dez unidades para venda pela internet. Além disso, ele também costuma produzir peças para presentear amigos.
Ele conta que recebe com frequência pedidos de orçamento de outras regiões do Brasil, mas deixa claro que produz apenas como um hobby. “Pra mim fazer dioramas é como uma terapia, uma válvula de escape. Passo praticamente todo meu tempo do horário comercial diante de uma tela, e quando estou imerso nos dioramas, é um momento que eu consigo ficar longe de um computador”, diz.
Para Fabiano, transformar os dioramas em fonte de renda comprometeria a liberdade e o prazer que sente ao produzi-los. “Eu acredito que, a partir do momento que eu transformar isso em fonte de renda, o prazer acaba virando um compromisso, e o tempo vira prazo de entrega”, comenta. Por isso, por enquanto, ele prefere manter essa atividade no campo pessoal.
O trabalho de Fabiano já alcançou grande visibilidade nas redes sociais. Um dos momentos de maior repercussão foi em 2022, quando publicou uma foto da maquete da vila do Chaves iluminada à noite, no quintal de casa, com uma lua cheia ao fundo. “Essa foto fez tanto sucesso que algumas pessoas chegaram a afirmar que ela era feita com IA, ou que eram do lugar real lá no México onde o seriado foi gravado”, comenta.
No mesmo período, ele passou a explorar outras plataformas, como o TikTok. Um dos conteúdos publicados por lá alcançou mais de 13 milhões de visualizações e, segundo ele, continua recebendo curtidas e comentários até hoje.
Apesar do alcance expressivo, Fabiano prefere manter uma relação equilibrada com as redes sociais. Atualmente, a repercussão é mais modesta, já que não sente necessidade de fazer postagens frequentes. “Eu tento não ficar refém das redes e dos algoritmos, pois eu acho que estão cada vez mais exigentes e agressivos”, aponta.
Fabiano ainda tem planos traçados dentro do universo das maquetes. Embora a vila do Chaves seja seu projeto mais conhecido, ele revela que ainda há cenários do seriado que não conseguiu incluir por falta de espaço, como o restaurante da Dona Florinda, a escolinha do Professor Girafales e o terreno baldio onde os personagens jogam futebol americano. A ideia, agora, é desenvolver esses ambientes em dioramas separados.
Além das referências ao programa, ele também planeja criar versões em miniatura dos principais pontos turísticos de Joinville. “Tenho em mente um projeto chamado Mini-Joinville, onde eu pretendo transformar os principais pontos turísticos da cidade em dioramas”, expõe.
Outro desejo de Fabiano é compartilhar seu conhecimento com outras pessoas interessadas na arte. “Tenho o desejo de criar um curso on-line, onde eu ensinaria técnicas e mostraria um passo a passo de construção de um diorama”, conta.
Casarão Neitzel é preservado pela mesma família há mais de 100 anos na Estrada Quiriri, em Joinville: