Conheça história do fundador de um dos primeiros comércios do bairro Fátima, em Joinville

Osvaldo Luiz Ceolin, o Nego, foi um dos primeiros moradores a construir um comércio no bairro Fátima

Conheça história do fundador de um dos primeiros comércios do bairro Fátima, em Joinville

Osvaldo Luiz Ceolin, o Nego, foi um dos primeiros moradores a construir um comércio no bairro Fátima

Bernardo Gonçalves

Osvaldo Luiz Ceolin, apelidado de Nego, é uma das pessoas mais conhecidas do bairro Fátima, zona sul de Joinville. Fundador do Restaurante do Nego, um dos comércios mais tradicionais da cidade, Osvaldo, de 66 anos, possui uma longa história com a região e foi um dos primeiros moradores a construir um comércio no bairro.

Com muita força de vontade e apoio da família e clientes, são mais de três décadas levando o nome do bairro para todas as outras região e também para o restante do estado.

Por conta da importância desta contribuição, receberá no mês de novembro, na Câmara de Vereadores, o título de cidadão honorário de Joinville. O título coroa, de certa forma, um trabalho e esforço que iniciou muito antes do restaurante se tornar realidade.

Onde tudo começou

Natural de Verê, cidade do interior do estado do Paraná, Osvaldo chegou em Joinville no ano de1973 e começou a trabalhar como torneiro mecânico na companhia Hansen (Tigre). “Comecei como ajudante e como era muito curioso, fui me destacando e em três meses já subi de cargo”, relembra.

Após algum tempo, a empresa inaugurou a recreativa Ser Tigre (atual parque Hansen) e precisava de pessoas para trabalhar no restaurante no horário do almoço. A partir disso, começou a trabalhar nos dois locais. Segundo ele, a rotina era corrida, já que iniciou também um curso profissionalizante durante a noite.

“Saía de casa às 5h30, trabalhava o dia todo e depois ia estudar. Chegava só às 23h30. Ou seja, 18 horas fora de casa.” Mesmo com isso, a paixão por servir as pessoas com alegria, através do atendimento, surgiu.

Osvaldo no primeiro emprego, como torneiro mecânico. | Foto: Arquivo Pessoal
Osvaldo (segundo sentado da esquerda para direita) no trabalho como garçom na SER Tigre. | Foto: Arquivo Pessoal

Ao todo, foram 18 anos em ambos os trabalhos. Porém, foi pego de surpresa e demitido do emprego. Mesmo tendo ainda o trabalho de garçom, já tinha o desejo de abrir o próprio negócio e pediu para ser demitido.

Com o dinheiro das rescisões – ainda em cruzeiro -, além dos valores que a esposa Florentina Ceolin tinha conquistado com uma pequena papelaria, construiu uma pequena sala de 80 metros quadrados em um terreno na rua Fátima, onde morava, para montar uma lanchonete. Porém, todo o dinheiro disponível foi utilizado para a obra e precisava ainda de todos os materiais.

“Eu precisava equipar todo o local e não tinha dinheiro. Soube de um cara que estava vendendo um comércio no Iririú. Sem dinheiro, peguei o carro que eu tinha e troquei por cinco mesas, 20 cadeiras e outros maquinários necessários. Já o primeiro pedido de mantimentos para o primeiro mês foi fiado e as bebidas foram consignadas”, conta.

Osvaldo com uma bandeja na mão durante a função de garçom. | Foto: Arquivo Pessoal

Com isso, a lanchonete estava pronta por dentro, mas ainda faltava um detalhe: o nome. Osvaldo conta que vários nomes foram pensados, mas nenhum era o ideal. Até que surgiu a ideia de colocar Restaurante do Nego, já que era o apelido de nascença. “Quando nasci, minha mãe sempre me chamava de meu nego. E o apelido ficou desde então. Todos me conhecem por nego, então escolhemos esse para colocar como nome”, recorda.

Com o nome escolhido, faltava a inauguração, que aconteceu em um dia estratégico. A data escolhida foi um dia antes do aniversário de Joinville, em 8 de março. Osvaldo explica que a escolha foi para poder atrair o público da região zona sul, que, segundo ele, precisava se deslocar para o Centro para ir em uma lanchonete. Desta forma, a lanchonete do Nego foi inaugurada no dia 8 de março de 1991 com um espaço que comportava cerca de 30 pessoas.

Negócio promissor

Apesar de oferecer dois lanches simples, o começo do empreendimento, um dos primeiros do bairro, foi promissor. Tanto que, após um mês, uma funcionária foi contratada. Além disso, quase quatro meses depois da inauguração, os clientes pediram que o proprietário fizesse pizzas. “Minha esposa falou que a gente não tinha estrutura para fazer, mas eu insisti e começamos a fazer também.”

Com a ajuda da esposa e dos dois filhos, Andreia e Andy, a lanchonete foi crescendo e cada vez mais clientes foram indo ao local. Porém, o trabalho consumiu praticamente todo o tempo da família. “A nossa primeira ampliação foi em 1993, nos terrenos que comprei por aqui. Mas era trabalho quase 24 horas. Eu e minha esposa quase não dormíamos e as crianças dormiam de baixo do balcão da cozinha, porque não dava levar elas em casa, mesmo sendo do lado”, lembra.

Lanchonete e Pizzaria do Nego após primeira ampliação na rua Fátima, que ainda não era asfaltada. Foto: Arquivo Pessoal
Na segunda ampliação, Osvaldo começou a expandir para o andar de cima. | Foto: Arquivo Pessoal

No mesmo ano da primeira expansão, chegou outro pedido dos clientes: o tradicional prato feito. Osvaldo diz que pediam somente arroz, feijão e ovo frito. Com isso, começaram também a atender essa demanda e o sucesso do comércio continuou forte, mesmo tendo somente quatro pessoas para realizar as funções necessárias.

“Queria dar um passo maior que a perna”

“As vendas davam retorno, mas eu queria dar um passo maior que a perna.” Assim Osvaldo descreve o principal problema que enfrentou com o restaurante: a má administração.

Apesar das boas vendas, o proprietário tinha dificuldades em gerenciar todos os valores e, por conta disso, foi necessário pegar empréstimos. “Entre 1997 e 2000, eu devia quase R$ 300 mil e estava quebrado. Muitos credores vinham me cobrar e ainda cobravam juros”, conta.

Este cenário seguiu por alguns anos, mas em nenhum momento pensou em desistir. “Eu acredito no trabalho e continuei trabalhando, como sempre fiz. Também sempre andei com pessoas positivas.”

Osvaldo em pé no restaurante. | Foto: Arquivo Pessoal

Diante disso, Osvaldo procurou ajuda da Ajorpeme, uma das principais associações de Joinville que busca benefícios para os micros e pequenos empresários da cidade. Com a instituição, conseguiu estudar e se aperfeiçoar sobre o negócio que possuía.

Já em 1998 conseguiu, por meio do Sebrae – serviço de apoio às micro e pequenas empresas, R$ 50 mil para mais uma ampliação. Além disso, a partir daquele período, a esposa assumiu a gestão do empreendimento.

Expansão

Com mais recursos disponíveis, a principal meta do casal era quitar as dívidas e a expandir o empreendimento. “Chamamos um credor por vez e negociamos as dívidas. Um de cada vez, para conseguirmos pagar. Com os lucros, fomos também comprando terrenos próximos e ampliando a lanchonete”, diz.

A estratégia funcionou tão bem que no ano de 2003, além de quitar boa parte das dívidas, fez outra ampliação e inaugurou a Churrascaria do Nego. Na ocasião, autoridades da cidade estiveram presentes no momento especial para toda a família e comunidade.

Segundo funcionários mais antigos, Osvaldo realizava as obras durante as madrugadas.|  Foto: Arquivo Pessoal
Estrutura na época em que a churrascaria foi inaugurada. | Foto: Arquivo Pessoal

Com mais espaço, além do preparar o clássico almoço e também as pizzas, começou a vender frango assado. “Desde o começo as vendas foram ótimas, mas nem sempre foi fácil”, relata. Mesmo com o negócio indo bem, a esposa de Osvaldo ficou sobrecarregada com a parte dos almoços e a venda de frango foi cessada.

Dois anos depois, já com o espaço atual que o restaurante possui, construiu salões para a realização de festas. Além disso, também instalou, mesmo com grandes dificuldades por conta de diversas burocracias, dois transformadores e um gerador de energia. Era a “subestação do Nego”, como ele mesmo define.

Osvaldo ao lado de um banner com informações sobre o restaurante. | Foto: Arquivo Pessoal

“O bairro estava crescendo muito, mas não colocavam postes o suficiente. Isso fazia com que faltasse luz direto aqui. Com os equipamentos, não tínhamos esse problema. Por isso, muitas pessoas começaram a dar preferência e fazer os eventos aqui. Elas falavam ‘vou fazer minha festa lá no Nego porque sei que lá tem energia’”, comemora.

Já com o novo modelo de empreendimento, a última ampliação aconteceu em 2014. Atualmente, são cinco salões de festas, com capacidades que viriam de 42 a 220 pessoas, além do espaço do restaurante, que comporta 400 pessoas. Ao todo, são mais de 70 funcionários.

Estrutura atual do restaurante. do Nego. | Foto: Arquivo Pessoal

Gratidão

Osvaldo vai receber o título de cidadão honorário e a data escolhida para a honraria não é aleatória. A homenagem acontece no dia 8 de novembro, quando Osvaldo completa 67 anos. Para ele, o título será de extrema importância e serve também para retribuir todo o apoio que recebeu para ter o reconhecimento que o estabelecimento tem hoje.

“Se fosse para começar tudo de novo, eu faria. Nosso trabalho aqui fortaleceu o bairro Fátima e aqui está todo o investimento da minha vida e da minha família. Todos os funcionários sempre colaboraram também. Então sou grato demais por essa homenagem”, finaliza. Quem indicou Osvaldo para receber o título foi o vereador Lucas Souza (PDT).

Agora só como conselheiro do empreendimento, Osvaldo tem como hobby favorito o ciclismo. | Foto: Arquivo Pessoal
Osvaldo ao lado da esposa (mais à dir.) e com os filhos Andy (centro) e Andreia (à esq.). | Foto: Arquivo Pessoal

Filha de Osvaldo, Andreia Ceolin, de 42 anos, que agora administra o local ao lado do irmão, Andy Ceolin, possui o sentimento de gratidão. Para ela, a zona sul de Joinville é base da família.

“Tinha nove anos quando o pai abriu a lanchonete e tudo o que a gente tem está aqui. Me sinto muito grata pela região. Meus pais tiveram muitas dificuldades, mas sempre tivemos muita humildade e respeito com todos os clientes. Foi muito bom crescer com toda a região e queremos para sempre manter essa ‘cara de casa de vô’, que acolhe a todos”, finaliza.

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