Conheça a prática de observar e fotografar pássaros em Joinville

Já foram registradas 460 espécies na cidade

Conheça a prática de observar e fotografar pássaros em Joinville

Já foram registradas 460 espécies na cidade

Yasmim Eble

Os pássaros são animais adorados por muitas pessoas e a observação de aves vem crescendo anualmente em Joinville. De acordo com o Comitê Brasileiro de Registro Ornitológicos, o Brasil possui 1.971 espécies de aves. Apenas em Joinville, 460 espécies já foram registradas, cerca de 71% dos registros do estado. 

No município, existe o Clube dos Observadores de Aves da Mata Atlântica (Coama) que reúne cerca de 15 pessoas de diversas idades para a prática tradicional de fotografar e observar os animais da região. O fundador do clube, Edson Ricardo Dressel, se diz um observador da natureza e iniciou o clube após uma conversa com o filho.

Um registro da ave Tiê-Sangue. | Crédito: Vinicius Ferreira

“Era um dia com uma manhã bem bonita, meu filho mais novo estava do lado de fora da casa e eu perguntei o que ele estava fazendo. Ele me respondeu que estava olhando a natureza”, conta. Edson relata que algo estranho aconteceu após olhar para os passarinhos na natureza.

Ele sempre foi alguém que criava passarinhos e tinha até mesmo um viveiro. “Eu sempre gostei de observar o comportamento dos animais. Mas quando eu ouvi meu filho falando aquilo, surgiu a necessidade de soltar todas as aves que eu tinha”, relembra.

Espécie Tapirucu, registrada em Joinville. | Crédito: Júlio Perger

Um tempo depois, outra pessoa cruzou o caminho de Edson e fez com que ele criasse o clube, 12 anos atrás. “Eu já tinha o conhecimento do BirdWatching, mas nunca havia pensado em criar um clube. Eu sempre gostei de observar os pássaros, mas eu amo ainda mais estar em contato com a natureza”, acrescenta. 

Como funciona a observação de pássaros

O clube tem em média 15 pessoas, com algumas participando de apenas algumas observações. Os momentos para registrar e olhar a natureza acontecem em grupos pequenos, por ser necessário silêncio e paciência. “Não podemos fazer barulho, pois o pássaro nota e o registro fotográfico se torna difícil”, comenta Edson. 

Os grupos são em torno de cinco pessoas e a saída é pelas 6h. O local normalmente é decidido pelo grupo, que se encontra aos fins de semana.  “Nós temos uma página de Facebook e um blog onde deixamos nossos registros, além do WikiAves que é uma plataforma boa para quem observa e fotografa pássaros”, conta Edson. 

Vinicius Ferreira

O planejamento depende do objetivo da famosa passarinhada. Quando envolve o registro de um pássaro mais raro, é necessário um maior cuidado para escolher o local, o dia e as técnicas para realizar o registro. “Há algumas espécies de pássaros que vivem no chão, no interior da mata preservada. Nesses casos, precisamos nos aproximar de outras formas”, explica. 

Técnicas utilizadas

Para se aproximar desses animais é necessário criar uma ambientação para que ela apareça na visão dos observadores. “O melhor para o animal é que ele se aproxime, pois dependendo dos movimentos nós podemos assustar as aves”, relata. 

Normalmente, é utilizado o playback do canto dos pássaros. São instaladas também casinhas dentro do mato e criadas iscas com milho. Os principais meses para realizar os registros são no período de acasalamento, entre agosto e novembro. 

O grupo viaja para diversos locais como Campo Alegre e São Bento do Sul, no entanto, as localidades de Joinville ainda são as mais comuns para os encontros. 

A arte da fotografia

Junto a observação de pássaros, a arte de fotografar os animais também é muito praticada no município. A paixão pelo hobby da fotografia começou recentemente para o morador de Joinville, Vinicius Ferreira, de 32 anos.  “Essa atividade sempre me despertou curiosidade, mas nunca tive muitas oportunidades para praticar”, relata.

Em um momento, ele passou a desenhar as diferentes espécies de aves que ele observava na cidade. Seus parentes sempre contavam sobre os nomes e os hábitos da espécie, fazendo assim uma paixão nascer. 

A principal influência dele foi a irmã, que fotografa aves há anos. Ele gostava de ver as fotos que ela publicava e ficou com vontade de fazer o mesmo. “Hoje, com uma câmera em mãos, a observação de pássaros virou um vício e sempre que eu tenho a oportunidade saio para registrar novas espécies”, relata Vinicius que é formado em Publicidade e Propaganda. 

O joinvilense Júlio Perger, de 64 anos, sempre gostou de fotografia. Começou com filmagens e ainda tem a câmera que usava. Júlio trabalhou na Tupy, na Consul e seu último trabalho foi na Wetzel. 

A primeira filmadora do joinvilense, onde tudo começou. | Crédito: Júlio Perger

Após se aposentar, ele e a esposa viajaram para diversos lugares, registrando os momentos. Anos depois, ele comprou uma câmera e então começou a fotografar a natureza. “Em uma viagem até Bonito, em Minas Gerais, fotografei um pássaro típico da região e daí me veio o desejo e o encanto de explorar outras espécies. Foi algo natural”, explica. 

Espécie Aracua, registrada em Bonito, Minas Gerais. | Crédito: Júlio Perger

Ele também sempre teve um amor pelos pássaros. Quando criança, apanhava alguns para colocá-los em gaiolas e observá-los cantar. “Hoje, com mais conhecimento, vejo o quanto isso era cruel. Acredito que eles precisam viver em liberdade para podermos contemplar toda a sua beleza”, finaliza Júlio. 

Equipamento e registros

Vinicius relata que algumas aves são fáceis de se achar, algumas nem tanto e outras quase impossíveis. “Por isso é um desafio constante. Como costumo dizer para os meus amigos, passarinhar é como jogar Pokémon Go, mas com animais reais”, conta. 

O que fez Vinicius comprar uma câmera foi um vídeo que assistiu, chamado Planeta Aves, dirigido pelo biólogo Willian Menq. No vídeo, ele dá dicas de como observar os pássaros e quais equipamentos usar. 

Equipamentos que Vinicius usa para realizar os registros. | Crédito: Vinicius Ferreira

O equipamento não é complexo. Ele utiliza de uma câmera superzoom, um tripé para situações específicas e o celular para identificar e atrair as aves.Ele escolheu o equipamento por ser discreto e leve, o que facilita o trabalho em longas caminhadas e trilhas. 

No celular, ele usa o aplicativo Merlin, que oferece vários recursos de identificação de aves e também disponibiliza áudios do canto das espécies. Júlio começou com uma Canon T6, com uma lente 18.55 e outra 75.300. “Devido ao alto custo dos equipamentos e por eu ser um fotógrafo amador, eu uso a câmera até hoje”, relata o joinvilense.

Equipamento utilizado pelo joinvilense em suas passarinhadas. | Crédito: Júlio Perger

Para quem está começando, as câmeras superzoom são a melhor opção.  “Com elas é possível aprender os princípios básicos da fotografia e ganhar prática para depois migrar para modelos profissionais”, relata Vincius. 

Espécies da cidade

No bairro Saguaçu, onde Vinicius mora, é comum encontrar espécies como o Bonito-lindo, Tucano-de-bico-verde, Alma-de-gato, beija-flor-cinzento, Aracuã, Jacu, Saracura-do-mato, Benedito-de-testa-amarela, saíra-militar, entre outras.

“Eu gosto muito de fotografar os Surucuás, pois além de serem aves bonitas também são bem calmas e facilitam o trabalho de quem quer registrá-las”, relata. 

Uma de suas fotos mais marcantes registradas foi a da espécie Socó-boi-escuro nas redondezas da Usina do Piraí. “Essa é uma ave rara no Brasil que depende de ambientes preservados e rios rochosos com água limpa para sobreviver”, explica ele.

O registro do Socó-Boi-Escuro. | Crédito: Vinicius Ferreira

Naquele dia, para realizar o registro, Vinicius precisou rastejar até a margem do rio para não assustá-la e fazer os registros. O morador de Joinville sempre sai cedo para realizar os registros, entre 5h e 6h.

Biguá é a espécie favorita de Júlio, pois é um pássaro que dá impressão que gosta de ser fotografado. “Ele faz poses e é incrível de se fotografar. Mas gosto também da espécie Tapicuru, Martim Pescador, Lavadeira Mascarada, entre outros”, conta.

Crédito: Júlio Perger/Arquivo Pessoal

Devido a pandemia, Júlio se restringiu a fotografar em Joinville, principalmente na Praia da Vigorelli e no Zoobotânico. 

O amor pela natureza

“Eu além de um observador de pássaro, eu sou um observador da natureza. Estou há 20 anos convivendo com ela, entrando no mato, é incrível”, conta Edson. Para ingressar nesse ramo, segundo o joinvilense, é necessário gostar da natureza e estudar a flora e fauna da região. 

“Em dez anos observando pássaros, há espécies que eu só vi uma vez. Então é necessário paciência”, relata. O Clube dos Observadores de Aves da Mata Atlântica (Coama) também está de portas abertas para receber os interessados pelo Facebook oficial da instituição. 

Para Júlio, é importante que a pessoa busque conhecer os equipamentos e como conseguir flagrar os pássaros sem estressá-los. “A dica que deixo é, quem gosta dessa arte que é a fotografia procurar se aperfeiçoar buscando sempre mais conhecimentos”, argumenta. 

Sua vontade é, futuramente, fazer um curso profissionalizante para dar mais suporte para quem não sabe fotografar e está começando. Vinicius compartilha da mesma opinião e acredita que nem só de fotografias é feita a observação de pássaros. Para ele é possível admirar esses animais nas ruas da cidade, em parques, sítios ou florestas. 

Crédito: Júlio Perger

“Há estudos comprovando que a observação de pássaros contribui para o nosso bem-estar, tornando as pessoas menos propensas a desenvolverem ansiedade e depressão”, finaliza Vinicius, que acredita que a população só tem a ganhar preservando e observando as aves.


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