Conheça trajetória do advogado com registro mais antigo na OAB em Joinville
Aos 89 anos, ainda é procurado para fazer consultas, orientações e dar conselhos
Aos 89 anos, ainda é procurado para fazer consultas, orientações e dar conselhos
Um dos advogados mais antigos de Joinville, Carlos Adauto Vieira, fez sua carreira na defesa pelos direitos trabalhistas. Hoje, com 89 anos, mora no Centro da cidade junto da esposa Márcia. Por causa da fama de bom advogado, ainda é procurado para prestar consultas, orientações e dar conselhos.
Natural de Lages, Adauto desembarcou na rodoviária joinvilense em 1957, aos 24 anos, junto com uma mala cheia de livros. Recém formado advogado, trocou a capital catarinense, onde estudou Direito, para vir a Joinville, moradia de um grande número de trabalhadores, com o objetivo de transformar a cidade do trabalho e fazer a defesa dos seus trabalhadores.
Na época, havia pouco conhecimento sobre os direitos trabalhistas, precisou orientar empresas e, até mesmo, os sindicatos. Conforme realizava os atendimentos, o número de clientes aumentava e o nome dele ficou conhecido na cidade. Enquanto algumas empresas buscavam se adequar, outras o vinham com maus olhos. “Achavam que eu era comunista”, lembra.
Adauto procurava estar entre os trabalhadores. O lageano conta que ia até as empresas, se encontrava com os funcionários e perguntava sobre as condições de trabalho. Ali, falava sobre os direitos e já começava as defesas das ações judiciais.
Em uma dessas visitas, metalúrgicos lhe disseram que queriam um aumento. Então, Adauto foi trabalhar no caso, procurou o sindicato e o Fórum. Foi fortemente apoiado pelos trabalhadores, que saíram em defesa do aumento salarial. Logo depois, Adauto foi até o Fórum entregar o pedido de dissídio, juntamente com os trabalhadores. Chegando lá, porém, uma surpresa. Segundo ele, a empresa já tinha dado o aumento antes da entrega do pedido. “O próprio dono ficou apavorado [com o movimento]”, recorda.
O advogado também lembra de um caso em que mulheres artesãs trabalhavam para uma empresa, mas ao invés de irem até o local de trabalho, cumpriam a função em casa, fazendo a limpeza e pintura dos artefatos. Adauto foi em busca do dono da companhia porque, apesar de pagar as profissionais de forma correta, elas não tinham todos os direitos garantidos.
“Fui avisá-lo, fazer uma orientação. Muitas pessoas não tinham o conhecimento. Então ele me afirmou que queria fazer o certo e registrou-as corretamente”, recorda. Apesar de alguns patrões se colocarem a dispor do advogado e até mesmo procurá-lo para orientações, havia aqueles que contestavam. “Não queriam pagar [salário mínimo], não queriam ajudar nos estudos daqueles que eram menores [de idade]”, afirma.
Adauto chegou a ser contratado por uma empresa para fazer adequações nas contratações de trabalho. “Falavam ‘você tá defendendo o patrão’, mas o que eu fazia era para que ele [dono de empresa] não errasse, orientava para fazer as coisas certas”, conta.
Adauto não tinha medo de falar ou enfrentar. “Sempre tive paixão por justiça”, conta. Na década de 1960, devido a fama por defender a classe operária, foi alvo da Ditadura Militar. O advogado lembra que, pouco tempo antes do golpe de 1964, já havia alertado durante uma fala em praça pública que a repressão estava por vir.
O lageano chegou a ser preso pelo regime. “Era uma sexta-feira. Estava na avenida Getúlio Vargas quando um fusca chegou”, lembra. No caminho para a detenção, o veículo pifou “e me pediram pra ajudar a empurrar o carro”, diz rindo. Depois, ficou em Curitiba. Ao todo, foram cerca de quatro meses preso, pelo que se recorda.
Na época, ouviu dizer que um empresário joinvilense comemorou sua prisão. “Já prenderam nosso maior inimigo”, teria dito. Em resposta, Adauto escreveu uma sátira, conhecida como “Tia Herta”, que fala sobre um parasita no corpo do diretor que, de tanto lutar contra o bicho, acabou se queimando sozinho. “Até hoje me perguntam quem era o tal empresário, mas eu não digo”, ri.
Além do progresso nos direitos trabalhistas em Joinville, Adauto fez parte de conquistas que envolvem também os advogados. Na época que veio para Joinville, não havia subseção na cidade. Adauto conta que participou diretamente desta conquista. A subseção foi criada em 1971. Ele foi presidente da entidade de 1998 a 2000.
Outra luta empenhada pelo advogado foi a criação de uma vara trabalhista na cidade. “Na época, se levava cerca de 50 meses para julgar uma ação”, relata. Por isso, fez parte da reivindicação para que os processos trabalhistas de Joinville passassem a ser julgados aqui e, assim, trazer mais agilidade para o julgamentos.
Adauto ficou conhecido por defender os direitos trabalhistas, mas não só, o advogado também ganhou fama por conseguir fazer boas defesas e ganhar os processos dos quais participava. “Estudar. É que eu estudava bem as ações, encontrava argumentos”, conta.
Apesar de não atuar mais em processos, continua a ser procurado. “Muitas pessoas ainda me procuram para pedir orientações. Eu falo que não advogo mais, mas querem se consultar comigo”, diz. Por isso, segue em contato com pessoas mais próximas.
Aos 89 anos, não deixou o conhecimento de lado. É, inclusive, membro da Academia Joinvilense de Letras. O advogado conta que está sempre escrevendo, procura publicar escritos em revistas. Hoje, escreve um livro para manter as memórias vivas e poder as histórias que tanto gosta.