Conheça três artistas que atuam na construção da identidade cultural de Joinville

Reportagem conta a história de Leticia Helena da Maia, Bruno Bilbo e Egor Totmianin

Conheça três artistas que atuam na construção da identidade cultural de Joinville

Reportagem conta a história de Leticia Helena da Maia, Bruno Bilbo e Egor Totmianin

Redação O Município Joinville

Por Caroline Soares e Felipe Rosa, alunos de Jornalismo da Unisociesc

Joinville é mais do que a “Cidade da Dança”. É um mosaico onde diferentes expressões artísticas se encontram e se transformam. Em um cenário onde a tradição e a inovação se misturam, artistas moldam o espaço urbano, trazendo vida e movimento a cada esquina e estúdio. São grafiteiros que pintam a cidade com novas cores, bailarinos que atravessam continentes para compartilhar sua técnica, e jovens talentos que elevam cenários de comunidades em pontos culturais de renome.

O que torna especial a trajetória desses artistas não é apenas o domínio técnico ou o sucesso nas competições, mas a maneira como cada um deles contribui para a identidade cultural de Joinville. Como uma cidade tão diversa pode ser o palco perfeito para sonhos artísticos tão distintos?

A reportagem traz histórias de três personalidades que, por meio das próprias lutas e conquistas, desafiam as convenções e celebram a arte em suas formas mais autênticas.

Impacto e cor

Pintura feita com os alunos no projeto _Grafitando_ | Foto: Arquivo Pessoal

Em meio ao concreto e ao cotidiano apressado, o grafite emerge como uma forma de expressão capaz de transformar paisagens urbanas em verdadeiros marcos de manifestação e pigmento. Para Bruno Bilbo, grafiteiro e educador, a arte nas ruas de Joinville vai além da tinta sobre muros, é uma ponte para a reflexão e a conexão entre as pessoas.

“Hoje eu acho que está bem mais aberto às coisas. Quando a gente começou a pintar, há 20 anos, era bem discriminado. Não tinha esse papo de grafite e de arte, a galera chamava a polícia. Hoje, já pintamos em shoppings, faculdades, colégios e grandes empresas. O que antes era visto como marginal, agora é enxergado como arte. Apesar disso, ainda existe um preconceito gigante, mas artistas talentosos aqui têm aberto portas e mudado mentalidades”, destaca Bilbo.

O artista, de 37 anos, é natural de São Paulo e radicado em Joinville. Ele vê o grafite como uma ferramenta de revitalização. “O grafite tem esse poder de transformar esses ‘não lugares’ em lugares. Às vezes é um muro que ninguém nunca viu, e você faz um grafite e transforma ele. Você deu vida para esse lugar. O spray é até mágico, porque você está pintando e nem encostando nele, mas transformando”, comenta.

Além do trabalho autoral, Bilbo ensina grafite em dois projetos sociais: o “Grafitando”, no Cras, e o “Pintou Melhorias”, em colégios. “Já recebi feedbacks incríveis, a cor muda o cotidiano. Já me disseram ‘minha filha passa pela rua de trás só para ver o seu grafite.’ Isso faz toda a diferença”, conta o artista.

Para ele, o grafite é mais do que uma expressão, é uma necessidade. “Minha arte é um reflexo do que vivo no momento, uma forma de terapia. Sou um refém da arte, não tenho muito para onde correr”, conclui.

Artista dentro e fora das cenas

Apresentação do grupo de teatro infantil Amorabi, do qual Letícia era uma das professoras. | Foto: Arquivo Pessoal

Letícia Helena da Maia, 29 anos, é um reflexo da cultura pulsante da periferia de Joinville. Criada no bairro Itinga, sua trajetória se entrelaça profundamente com a comunidade e as atividades culturais desenvolvidas na Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga (Amorabi).

Atua como produtora cultural, mas o verdadeiro palco sempre foi a comunidade. Letícia carrega consigo a história da cultura nascida no Itinga, fruto direto das políticas culturais que emergiram na Amorabi.

Desde os 12 anos, ela encontra no teatro um espaço de expressão e transformação. Agora, Letícia atua em diversas frentes, sempre com a produção cultural como ferramenta de impacto.

Na Amorabi, organiza atividades artísticas e colabora em produções locais e de outros grupos que chegam à cidade. “Atualmente, também faço parte do Teatro Playback, um grupo de mulheres que traz para cena histórias reais, uma experiência incrível de arte e reflexão,” conta.

Produzir cultura em territórios periféricos é, segundo Letícia, uma tarefa cercada por dificuldades. “É sempre um desafio encantar as pessoas para virem ao teatro, para participarem das oficinas. Vivemos em uma cidade onde a passagem de ônibus é uma das mais caras do Brasil, e o acesso gratuito muitas vezes está restrito ao centro da cidade,” reflete.

Ainda assim, a artista acredita na potência do fazer artístico periférico. Para ela, a arte que emerge dessas comunidades é vibrante, autêntica e transformadora. “A cultura periférica é pulsante, está no cotidiano das pessoas. Mesmo invisibilizada, ela é o alicerce de uma transformação profunda”, complementa.

A Amorabi foi fundada há 25 anos e para Letícia é muito mais do que um espaço físico, é onde tem ideias, afetos e resistências. “A cultura é um direito, mas também é acolhimento, é pertencimento. Ela é feita de muitas mãos e traduz a nossa essência enquanto comunidade”, finaliza a artista.

Dois países, dois palcos

O russo Egor Totmianin veio para o Brasil em 2023 e atua como professor | Foto: Arquivo Pessoal

Egor Totmianin, de 22 anos, nascido na cidade de Perm, na Rússia, veio para o Brasil em fevereiro de 2023 e atua como professor na Germana Saraiva Escola Internacional de Ballet, em Joinville. O bailarino compartilha a experiência sobre a transição entre os países, as diferenças culturais que isso envolve e a visão que tem de Joinville como a capital da dança.

“Para mim, o mais importante sempre foi quando guardam a história da dança, as regras principais, quando tentam preservar essa identidade original. Aqui em Joinville, vejo essa segurança nas tradições do balé clássico. Fico muito feliz por saber que é um lugar onde essa essência é mantida”, destaca Egor.

O bailarino encontrou em Joinville não apenas a oportunidade de trabalhar, mas também um novo lar. Ele conheceu o marido joinvilense na Rússia e veio para o Brasil por causa dele. Começou a entender a cultura local assistindo às aulas de balé do parceiro, escutando atentamente para aprender a língua, o estilo de vida e a abordagem da dança. “Eu fiquei muito feliz em saber que iria viver na capital da dança do Brasil, que iria trabalhar exatamente aqui, onde eu tenho a possibilidade de trabalhar com a minha arte”, conta Egor.

A paixão e compromisso transparecem no trabalho e nas redes sociais, onde compartilha técnicas, métodos tradicionais e dicas para fortalecer o corpo e a mente na dança. Acompanhado na maioria por seguidores brasileiros, ele já reúne mais de 15 mil pessoas na comunidade do Instagram.

“Joinville tem bom futuro para entrar no palco internacional”, afirma, contente com a receptividade local e as oportunidades que surgiram em solo brasileiro. “No meu primeiro dia no Brasil, o que me impressionou foi o cheiro. Um cheiro tão gostoso. Eu fiquei impressionado no primeiro segundo. Quando comecei a ver a cultura da cidade, fiquei muito impressionado”, recorda o bailarino

Quando questionado sobre a mensagem que deseja passar aos alunos, ele responde de forma direta e inspiradora. “Primeiro, fazer exatamente o que você quer fazer. Segundo, se começar a fazer, fazer de verdade”, finaliza.

Mosaico vivo

A identidade cultural de Joinville não pode ser reduzida a uma definição única. Ela é moldada pela multiplicidade de histórias, expressões artísticas e visões que coexistem na cidade.

Desde o rigor clássico do ballet de Egor Totmianin, passando pelas cores vibrantes e transformadoras do grafite de Bruno Bilbo, até a arte pulsante da periferia representada por Letícia Helena da Maia, fica evidente que a cultura de Joinville é um mosaico vivo e dinâmico.

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