Coreógrafo explica apresentação que gerou nota de repúdio da Câmara de Joinville e reforça que não houve “intenção de chocar”
Requiém SP foi apresentada na Noite de Gala de domingo, 27, baseada em missa para os mortos na liturgia católica
Requiém SP foi apresentada na Noite de Gala de domingo, 27, baseada em missa para os mortos na liturgia católica
Na noite deste domingo, 27, o espetáculo “Réquiem SP”, do Balé da Cidade de São Paulo, foi apresentado na Noite de Gala do 42º Festival de Dança de Joinville. A repercussão da apresentação motivou uma moção de repúdio por parte da Câmara de Vereadores.
Alejandro Ahmed, que é o criador, diretor e coreógrafo, afirma que tenta manter certa distância quanto os debates são “reativos e superficiais”. Ele conta que a apresentação é inspirada no réquiem de Gyorgy Ligeti, compositor húngaro, que começou a ser composto no ano de 1963 terminando apenas no início de 1965. Ele traz em sua forma todas as características musicais do compositor sem deixar de lado a tradição musical de um réquiem, e estreou em Estocolmo, na Suécia.
O espetáculo é marcado pelo uso de tecnologia para traduzir um cenário cheio de intensidade: o da maior metrópole da América Latina. “Réquiem SP”, do Balé da Cidade de São Paulo, é uma criação de Alejandro Ahmed que estabelece um diálogo entre distintas linguagens de dança, como o balé, o jumpstyle e as danças urbanas.
Os bailarinos vestem preto, com maquiagem carregada e dançam ao som de uma trilha envolvente, que em certos trechos era substituída por absoluto silêncio, reforçando uma atmosfera de tensão e intensidade no palco.
A performance tinha como objetivo representar o caos. Nas redes sociais, algumas pessoas a interpretaram como uma encenação de tom sombrio, provocando reações diversas do público.
Algumas pessoas saíram antes do encerramento da apresentação. Ainda assim, o Centreventos Cau Hansen permaneceu cheio até o final, com o elenco sendo aplaudido de pé pelo público ao fim.
Um réquiem é uma missa da Igreja Católica oferecida para o repouso da alma, explica Alejandro. Nas redes sociais, algumas pessoas a interpretaram como uma encenação de tom sombrio.
“Um réquiem é uma missa para os mortos na liturgia católica. Todos os réquiens em composição contêm a mesma letra, porque faz parte da liturgia. O texto, que é o que aparece nos vídeos, é em latim, mas escrito na fonética. É uma maneira sinestésica de ver o som. São palavras da liturgia católica”, explica. “É uma maneira de pensar a morte como a irreversibilidade da vida no tempo das coisas”.
A dança veloz, segundo Alejandro, vai em contraponto à composição. “Ele é bastante orgânico na relação de música e dança. Este foi o ponto de partida”.
Ele explica que entende que às vezes há uma confusão devido ao caráter pesado das vozes. “As vozes falam sobre morte, luto, sofrimento e até de renovação. Sai da parte black para a parte clara no final do espetáculo com este intuito. As ações muito reativas, sem perguntar do que se trata a situação, levam ao um mal entendimento”.
Segundo Alejandro, o movimento com as mãos feito por uma bailarina, que ele diz terem sido mal interpretados, são muito utilizados em danças pop e hip hop. Ele explica que é uma técnica de comunicar através da dança. “É uma fala abstrata com as mãos, sem simbologia além do desenho da dança em si”.
Comentários nas redes sociais, que foram reproduzidos por vereadores na Câmara, mostram que muitos demonstraram certo estranhamento diante da abordagem escolhida.
“Acho que algumas pessoas se assustaram com o peso da trilha, assim como poderiam se assustar com a missa de Mozart, que é pesada, porque é uma missa para mortos. Coreografar isso é um desafio grande. Em nenhum momento há, houve ou haverá algum insulto ou prerrogativa para chocar em si. A coreografia é feita como oferta de conhecimento, interposição de códigos entre música e dança sobre virtuosas específicas daquela mesma partitura. Foi um desafio para nós. Acho que há uma confusão um pouco acelerada sobre o que está se falando e bastante genérico. Estamos sempre dispostos a responder perguntas”, finaliza.
*Colaborou Lara Donnola
Com arquitetura única em Joinville, Palacete Dória precisou ser construído por empresa de Curitiba: