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Coronel Armando fala sobre interferência do STF, cloroquina, impeachment de Moisés e desfiliação

Deputado federal, que conversou com a reportagem do jornal O Município Joinville, também falou sobre as eleições municipais em Joinville

Para dar sequência à série de entrevistas com parlamentares que têm vínculo com a cidade, o jornal O Município Joinville entrevistou, no mês de agosto, o deputado federal Coronel Armando (PSL). Outras duas entrevistas foram feitas com Darci de Matos (PSD) e Rodrigo Coelho (PSB).

Fazendo jus ao título de sua patente, Armando recebeu a reportagem batendo continência, antes de convidá-la para entrar no conforto de sua casa, localizada na região centro-norte do município.

Na ocasião, o parlamentar falou sobre a interferência do STF no combate à pandemia do novo coronavírus, criticou a condução do governo de Santa Catarina no combate à doença e citou “posicionamento ideológico” com relação ao uso da cloroquina.

Além disso, o deputado também falou sobre o impeachment de Moisés, seu pedido de saída do PSL e, sem apontar candidato, disse quais serão as dificuldades enfrentadas pelo próximo prefeito de Joinville.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Interferência do STF e da imprensa

Coronel Armando faz parte da comissão mista de saúde do Congresso Nacional responsável por fiscalizar as ações do governo federal no combate à pandemia do coronavírus. Ele afirma que, na avaliação da comissão, o presidente Jair Bolsonaro tem agido de forma correta, assim como o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello.

No entanto, acredita que a atuação poderia ter sido ainda melhor, caso não houvesse tanta interferência do Superior Tribunal Federal (STF) e da imprensa no geral que, em suas palavras, “responsabilizaram o presidente pela morte das mais de 100 mil pessoas”. Para ele, a pandemia se tornou “decisão política”.

“Primeiro que já iriam ocorrer mortes de todo jeito. Segundo, quem decidiu tomar a condução dos estados e municípios foram os governadores. Quando o STF transferiu a decisão para governadores e prefeitos, o governo federal perdeu a possibilidade de coordenar as ações”, afirma Armando.

O deputado, amigo pessoal de Bolsonaro há 44 anos, diz que o governo “não é insensível” e lamenta as milhões de mortes no país por conta da doença. Contudo, além de se preocupar com a saúde, aponta, o governo também precisava pensar na economia e fazer monitoramento das regiões.

“O número (de mortes) é muito elevado, só que é preciso avaliar o valor relativo. Nós temos 210 milhões de habitantes, naturalmente nós vamos ter mais mortes que países com uma população menor, então você tem que achar a taxa per capta por milhão.”, explica.

Auxílio dos deputados

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Assim como o governo federal, que criou o auxílio emergencial para dar assistência à população no período de pandemia e “flexibilizou regras trabalhistas para evitar demissões”, como cita Armando, os deputados federais agiram para que recursos não faltassem aos estados.

“Eu, particularmente, fiz um projeto para apoiar a telemedicina. Isso facilitaria as consultas para o paciente que não precisaria ir ao médico toda hora, para evitar o contato”, explica.

Outra proposta de Armando aprovada pelo Congresso Nacional foi a prorrogação de receitas médicas. Agora, as receitas podem valer por três meses ou mais, dependendo do medicamento.

“Fiz esse projeto para pessoas com deficiência manterem o acompanhamento médico, mesmo no (período de) Covid”, afirma.

Armando também cita que verbas orçamentárias foram repassadas para 11 cidades catarinenses. Além disso, a prefeitura de Joinville pediu apoio do deputado com o Ministério da Saúde para a liberação de hidroxicloroquina.

“Então acho que cada deputado tem feito a sua parte, alguns mais diretamente ligados e outros menos, mas todo mundo tem feito a sua parte. Lembrando também que as emendas parlamentares dos deputados e senadores são 50% para saúde, desta forma, já tem pelo menos recursos para manter os hospitais”, lembra.

Isolamento prematuro e falta de estrutura

Embora o primeiro caso de coronavírus tenha sido detectado em janeiro, de acordo com Armando, o problema só foi realmente descoberto em março. No entanto, as informações e desinformações sobre a doença já circulavam, diz.

Em Santa Catarina, pensa que, com viés político, “para criar atrito com o governo federal”, foi decretado o isolamento social de forma prematura e, como consequência da decisão, a economia quebrou no estado.

“A gente não tinha casos ainda naquele momento. Além disso, se foi decretado, deveria ter preparado a estrutura para quando viessem os casos e tudo estivesse pronto. Nós chegamos num estado gravíssimo e a nossa estrutura não está compatível. Houve falha da secretaria de saúde do estado”, aponta.

Outro problema citado pelo deputado na gestão de Moisés é a demora na instalação de novos leitos de UTI para Covid-19. Inicialmente, o governo do estado chegou a cogitar a possibilidade de instalar hospitais de campanha, como foi o caso de Itajaí, mas desistiu da ideia em junho e resolveu investir em unidades já existentes.

Para Armando, o governador já deveria ter investido inicialmente em hospitais e unidades de saúde efetivas, pois ajudaria a aumentar a capacidade no estado de leitos e equipamentos de maneira permanente.

“Cada leito de UTI custa, por dia, ao município, R$ 1.600. Quando se ativa um leito, é paga uma taxa de R$ 1.500. E, a partir daí, são R$ 1.600 por dia. Santa Catarina, quando começou a pandemia, tinha quase mil leitos. Ele (governador) disse que tinha mais cerca de 400 que começou a pagar, mas na hora que precisou não estavam prontos”, afirma Armando.

“Remédio do Bolsonaro”

Armando acredita que a questão da vacina para Covid-19 precisa ser agilizada no país, mas enquanto uma fórmula não for aprovada,  a hidroxicloroquina é uma das alternativas para a população. O parlamentar afirma que conhece a eficácia do remédio, já que quando militar, fez o uso do medicamento contra malária, em missão na Amazônia.

Ele cita que, por falta de comprovação científica, muitos médicos se negaram a utilizar o medicamento. No seu entendimento, este posicionamento é ideológico de pessoas contrárias ao governo que não querem utilizar o “remédio do Bolsonaro”.

“Se eu estiver num avião e tiver um paraquedas não testado, eu vou usar ou vou cair porque o paraquedas não foi testado?”, questiona.

O deputado acredita que muitas pesquisas científicas sobre a cloroquina foram feitas com a metodologia errada. Ele afirma que as mortes causadas pelo uso do medicamento se deram porque foram utilizadas doses excessivas.

“Qualquer remédio se você toma uma dose maior pode fazer mal, realmente tem que chegar na dose certa. As pesquisas internacionais não seguiram determinados métodos, então houve complicação”, acredita.

Armando diz que vinha sendo questionado pela população do por quê de a cloroquina não estar sendo utilizada em Joinville. Em rápida avaliação que fez após visitas aos hospitais da cidade, percebeu que pessoas com sintomas da doença estavam sendo mandadas de volta para casa.

Em conversa com secretário da Saúde do município, Jean Rodrigues da Silva, foi informado de que, dos 195 médicos que estão ligados à secretaria de Saúde, apenas 58 queriam usar a cloroquina.

Para facilitar o acesso ao medicamento para a população, a prefeitura de Joinville montou o Centro de Atendimento Precoce para Covid-19, onde apenas médicos que querem prescrever o remédio fazem o atendimento.

“Aí está a explicação. Quando esse paciente volta, já é pra ocupar um dos leitos de UTI. Então se você chega e encontra um médico que não dá cloroquina porque não está provado cientificamente, você vai voltar pra casa”, afirma. (No dia da entrevista, os leitos de UTI apresentavam 100% de ocupação na cidade).

Impeachment de Moisés

Para o deputado federal, o impeachment de Moisés pode acontecer, mas não será neste ano, “não porque o interesse de quem quer o impeachment é fazer uma eleição indireta dentro da Alesc”, pensa Armando.

Ele afirma que, desde o início, o governador Moisés brigou com o Bolsonaro e entrou em alinhamento com governadores do Rio de Janeiro e São Paulo, que faziam críticas abertas ao governo federal.

Após a polêmica dos respiradores, Moisés acumula três processos contrários na Alesc. Para Armando, além de medidas que foram tomadas de forma precipitada, o governador não soube gerir as finanças e cumprir normas.

“Eu tive uma palestra no Ministério da Saúde onde colocaram que a pasta, no Brasil, tem em torno de R$ 300 bilhões neste ano da pandemia. Se gasta, por dia, neste período, R$ 600 milhões. O que aconteceu quando começou a jorrar dinheiro? Na correria de dispensa de licitação, começou a corrupção”, afirma.

Mesmo as acusações envolvendo o nome da vice-governadora catarinense, Daniela Cristina Reinehr, na opinião do deputado, ela não tem participação nos casos de corrupção apontados contra o governo.

Ela tá sendo colocada pra tirar toda a chapa, ela não teve uma participação efetiva. Houve um assalto a banco, ela tava do lado de fora do banco e vão dizer que ela teve a mesma participação de quem botou a arma e deu o aumento. Ela tava lá fora, dentro do carro do assaltante”, diz.

Desfiliação do PSL

Em dezembro do ano passado, um grupo de 29 deputados federais do PSL entrou com ação no Tribunal Superior Eleitoral  (TSE) para declarar justa causa para se desfiliar da sigla. Os deputados alegaram perseguição política. Coronel Armando foi um deles.

O deputado diz que ainda aguarda o resultado do pedido, que se deu, segundo ele, após ter sido afastado da comissão municipal do partido em Joinville. O intuito dos parlamentares é entrar para o Aliança pelo Brasil, partido que ainda não saiu do papel.

Desde que o Aliança esteja criado, sim, eu vou. O processo está em andamento e a gente acredita que durante o ano que vem já deve estar pronto. Para esta eleição não teve condição”, afirma.

Eleições em Joinville

Armando acredita que as eleições possam acontecer no dia 15 de novembro, apesar de não concordar com a data. Para ele, as eleições deveriam ser unificadas em 2022 e só votou pelo adiamento porque outra proposta não foi apresentada.

“Estamos num ano de pandemia, gastando R$ 3 bilhões em eleições municipais quando se poderia estar gastando em recursos para saúde. Acabar com o fundo eleitoral também ajudaria na economia. Serão R$ 2 bilhões este ano, mais R$ 1 bilhão que se investe na justiça eleitoral”, esclarece.

Quando questionado sobre quem irá apoiar nas eleições municipais de Joinville, Armando é enfático: “Meu candidato é o Bolsonaro”.

“Aqui, como eu sou deputado federal e sou da cidade, eu prefiro não me manifestar. Até porque não tenho candidato de partido. Vou acompanhar e que ganhe o que for melhor pra Joinville, e quem ganhar vai ter meu apoio”, argumenta.

Mesmo sem candidato, afirma que o próximo prefeito vai pegar a prefeitura com as contas em dia, com boa educação e saúde. Por outro lado, enfrentará problemas na infraestrutura, principalmente os causados pelas obras do Rio Mathias.

Outro ponto negativo apontado por Armando foi a construção da ponte do Adhemar Garcia, uma promessa de campanha que não foi cumprida.

“A gente passa aí pela cidade, ela é esburacada e há muita reclamação nesse sentido. Mas em um conjunto da obra, quem receber a prefeitura vai receber com recursos, sei que ele (Udo Dohler) recebeu cheia de dívida. E o próximo vai receber uma estrutura organizada”, afirma.


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