Covid-19: após morte da mãe, advogada critica resultados de testes e falta de atendimento em Joinville
Em março, Maria Rosa, de 71 anos, fez quatro exames contra a doença. Mesmo com diversos sintomas, apenas o realizado na saúde privada deu positivo
A advogada Simone Tambosi, 43 anos, foi mais uma, entre as mais de 970 famílias, a perder um familiar para a Covid-19 em Joinville. No caso dela, a vítima da doença é sua mãe, Maria Maciel Rosa, de 71 anos.
Além da dor pela perda, os sentimentos de injustiça e dúvidas também estão presentes. Com resultados diferentes em testes realizados na saúde privada e pública, hoje ela questiona a capacidade do poder público em garantir atendimento seguro contra a doença.
Maria sentiu os primeiros sintomas do coronavírus, incluindo febre, em 26 de fevereiro deste ano. No dia 3 de março, com diversos sintomas, Maria realizou o primeiro teste. O exame PCR (do cotonete) foi feito na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro João Costa. O resultado deu negativo.
Com os sintomas cada vez mais avançados, mãe e filha voltaram, no dia 10, à UBS do mesmo bairro. De acordo com Simone, elas tiveram que esperar cinco horas na fila para realizar o novo exame.
Desta vez, apesar da febre e dor de cabeça ainda estarem presentes, a unidade de saúde realizou o teste rápido. O resultado, o mesmo: negativo.
Na terceira tentativa, outros locais. No dia 14 de março, com a mãe mais debilitada, elas foram direto no Pronto Atendimento (PA) Sul, no bairro Itaum.
Lá, por ter se tornado um hospital de campanha contra a Covid-19 dois dias antes, Maria não pode ser atendida, já que não tinha um documento comprovando o teste positivo. “Mesmo com falta de ar eles falaram que não era prioridade”, conta Simone.
Na mesma data, ambas foram até o Centro de Triagem, localizado na Associação Atlética Tupy (AAT). Após novo exame, sendo mais uma vez o rápido, o resultado saiu novamente como não reagente.
Além disso, Maria recebeu um encaminhamento no qual o médico afirma que a paciente está com sintomas há cerca de dez dias e que poderia ser uma pneumonia bacteriana. “Disseram isso sem nem ter feito um raio-x”, reclama a filha.
Inconformadas, Simone e Maria foram até um laboratório privado, no dia 16 de março, fazer um novo teste. Após a mãe falar que estava com sintomas, o exame foi realizado com o “cotonete”. Ao contrário das outras três vezes, o resultado mudou: positivo para Covid-19.
Revolta em meio à dor
Após 13 dias desde o primeiro teste e agora com o resultado positivo em mãos, Simone a Maria voltaram ao PA Sul no dia 17 de março, às 9 horas. Ao chegar no local, a mãe da advogada já havia sofrido uma parada respiratória.
Apesar disso, ainda houve tempo para entubá-la, porém, insuficiente para mantê-la em vida. “Já não tinha o que fazer”, lamenta Simone.
Às 13 horas daquele mesmo dia, Simone recebeu uma ligação do hospital afirmando que sua mãe havia morrido. Ela, indignada, se revolta com a situação. “Poderiam ter salvado ela se tivessem a atendido nos dias anteriores. Só atendem quando o paciente está à beira da morte”, afirma, entristecida. Para ela, o sentimento que fica é o de impotência. “A população não sabe o que fazer, pra onde ir, quando ir ao médico”, destaca.
A advogada ainda conta que Maria tomou diversos medicamentos do tratamento precoce, disponibilizado pela Prefeitura de Joinville, mas que não funcionaram.
“Ela tomou cloroquina e ivermectina e não funcionou. Eu confiei nos resultados dos exames negativos e hoje ela não está aqui comigo.”
De acordo com Simone, a situação permanece difícil para a família. “Não aceitamos. Parece que nós somos os culpados, mas a culpa é do sistema desorganizado. Estamos com as mãos amarradas, sem saber o que fazer”, desabafa.
Procurada pelo jornal O Município Joinville, a Prefeitura de Joinville não respondeu os questionamentos da reportagem até a publicação desta reportagem.
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