Covid-19: centro de tratamento precoce de Joinville volta à discussão
Prefeito Adriano Silva defende medicamentos, enquanto coordenador médico da Vigilância da Saúde afirma: "não existe tratamento precoce"
Em sessão realizada na última segunda-feira, 5, na Câmara de Vereadores, o prefeito de Joinville, Adriano Silva (Novo), defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19, ato que vem sendo feito com frequência nas redes sociais do político.
Além disso, ele afirmou que o Centro de Tratamento Precoce, localizado na Associação Atlética Tupy (AAT), mudará o nome para Centro de Tratamento Imediato, com a justificativa de “acabar com a política que se fez em volta da questão do tratamento precoce”.
Na sessão ele ressaltou que a cidade precisa fazer que os pacientes recebam o tratamento necessário e no momento adequado. E que no local há médicos e uma farmácia que estão realizando o tratamento com os medicamentos.
Ele ainda apela para que médicos da rede pública, que queiram fazer a dispensação dos remédios, procurem o Centro de Tratamento Imediato.
Exigidos por alguns, remédios como Ivermectina, Cloroquina e corticoides são negados e alvos de críticas por outros. Em Joinville, porém, a meta da Prefeitura de Joinville é atender a todos os pensamentos.
Luana Ferrabone, médica coordenadora do local, explica que a cidade promove uma combinação de medicamentos para tratar diferentes fases da doença, mas que não é imposto a ninguém. “É aplicado para melhorar os sintomas da Covid-19 e apenas para quem pede”, diz.
A doutora fala que é fundamental levar em consideração o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz sobre o tema, mas destaca que têm pessoas tomando e vendo efeitos positivos.
“Os laboratórios não comprovaram cientificamente a eficácia, mas estamos buscando as melhores alternativas”, pensa.
Ela opina que a ciência deve ser norteadora, porém, defende a autonomia do médico com os pedidos dos pacientes. “Um papel proibindo algo não pode ser maior que a experiência do profissional da medicina”, ressalta.
A doutora diz que, atualmente, há estudos “para tudo e para todos os gostos” e que não é possível, mesmo com documentos científicos destacando que os medicamentos não têm eficácia, convencer o paciente que tomou e viu resultado positivo.
Apesar disso, Ferrabone critica a forma que algumas farmácias estão vendendo “kits” contra o vírus.
“A maneira que está sendo comercializado está errada, inclusive pode até prejudicar os pacientes. É necessário analisar cada caso individualmente, ou pode ser como jogar gasolina no fogo”, analisa.
“Não existe tratamento precoce”, afirma médico de Joinville
Contrário ao tratamento precoce, Luiz Henrique Melo, coordenador médico da Vigilância da Saúde em Joinville e do Controle de Infecção do Hospital Dona Helena, é direto ao opinar sobre a eficácia dos remédios contra o coronavírus: “Não existe, não há nada que se previna o vírus além da vacina”.
Para ele, pacientes exigem os medicamentos por dois motivos: estímulo do poder público, promovido por uma prerrogativa federal, e pela população se sentir mais confortável quando está fazendo algo para ajudar no processo.
Porém, Melo afirma que pela Covid-19 ser um vírus novo, não há condições terapêuticas para prevenir a doença com os atuais remédios. “Esses medicamentos não curam e podem piorar o quadro de saúde”, destaca.
Melo complementa dizendo que é uma ilusão tomar Ivermectina e Cloroquina contra o vírus, pois os mesmos pacientes iriam melhorar sem eles. “Se tomaram e melhoraram, vão acreditar que foi fundamental, o que não é verdade. Tem pessoas com opiniões, mas sem comprovações”, ressalta.
A melhor estratégia, para ele, seria não ter linha de atenção com esses remédios na cidade. “Se estamos nessa situação com tratamento precoce, fica claro que ele não funciona.”
O médico cita outros países, com vacinação em massa, que apenas esse é o caminho. “Os Estados Unidos vacinam 1% da população por dia, aqui temos tratamento precoce. Estamos vendo o que está funcionando com base nos dados de novos casos e mortalidade”, analisa.
“É mais fácil fazer o que o paciente quer”, diz Melo
Luiz Henrique Melo expõe que a ciência é quem nutre a medicina, sendo obrigação do médico mostrar que a crença, muitas vezes, não funciona, e sim os estudos científicos.
“É mais fácil, rápido e agradável o profissional fazer o que o paciente quer”, ironiza. E complementa: “É triste falar que o remédio que ele quer tomar não funciona”.
O coordenador da Vigilância da Saúde reflete que os profissionais que receitam os medicamentos não são os mesmos que atendem quando o paciente piora, mas sim quem está nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
“É fácil falar que os remédios funcionam dentro do seu consultório, mas esquecem que as UTIs estão lotadas. Quem não vê a continuidade da gravidade acha apenas que o infectado foi embora e não voltou mais”, lamenta.
Ele condena a sensação de proteção que as pessoas sentem após tomarem os remédios. “É preocupante. Elas relaxam, são infectadas e transmitem para outras pessoas. É uma falsa segurança que pode colaborar com a situação atual”, explica.
Decisão política
A atual coordenadora do Centro de Triagem da Covid-19 em Joinville explica que os remédios passaram a ser receitados na cidade ainda em 2020, durante a gestão do ex-prefeito Udo Döhler (MDB).
A medida passou a entrar em vigor após uma demanda de pacientes que conheceram os medicamentos pelas redes sociais ou em notícias. Udo teria solicitado que os pedidos fossem atendidos.
Após as eleições municipais de 2020, o atual prefeito, Adriano Silva (Novo), avaliou o serviço e concordou com a continuidade do tratamento precoce para quem procura.
Recentemente, em uma rede social, Adriano gravou vídeos ressaltando que a cidade oferece os remédios, além de explicar como e onde obtê-los.
Ferrabone cita que Joinville está investindo no que o Ministério da Saúde recomenda. “Não compramos nada diferente do que é sugerido pelo Governo Federal”, diz.
Ela ainda diz que o secretário da Saúde, Jean Rodrigues da Silva, deve organizar uma consulta pública para ouvir se a população concorda ou não com o tratamento precoce. “É uma discussão científica, moral e filosófica”, finaliza.
Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação de Adriano Silva disse que o prefeito não comenta o assunto.
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