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Crise energética: entenda como Joinville pode ser afetada se país promover racionamento de luz

"Apagões não estão descartados", alerta professora

Passando por uma crise hídrica, gerada, principalmente, pela falta de chuvas na região Centro-Oeste do país, onde tem elevada concentração de hidrelétricas, o Brasil enfrenta também problemas no setor energético. De acordo com informações da Celesc, caso o país precise promover racionamento de luz, Joinville se enquadraria em um “cenário de risco”.

Com o Centro-Oeste sustentando a base energética do Brasil, a gravidade aumenta pelo fato do Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN) estar na região e ser conectado a geradores de todo o país, através das concessionárias de distribuição.

Com a falta de água nestas usinas, todo o sistema elétrico brasileiro fica exposto e carente de energia desta fonte, a mais barata quando comparada às outras matrizes energéticas.

Por estar inserida no SIN, Joinville não possui um cenário independente. Ou seja, segue a mesma situação que prevalecer em território nacional.

Celesc afirma que, se Brasil promover racionamento de luz, Joinville também será impactada | Foto: Celesc/Divulgação

A Celesc, entretanto, ressalta que ainda não existe previsão de racionamento, mas sinaliza que o cenário é delicado, sendo necessário que o país adote políticas de redução do consumo energético. Ainda pontua que a economia deve ser adotada por todos os consumidores, seja de indústrias, comércios ou residências.

Apagões: consequência do custo

O racionamento de luz ou apagões na cidade não são descartados por Caroline Rodrigues Vaz, professora do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), campus de Blumenau. A possibilidade existe pelo fato de que, atualmente, o custo para empresas comprarem energia está maior.

De acordo com Caroline, as termoelétricas poderiam ser uma alternativa, já que produzem energia de forma rápida e estável, porém, não na quantidade que as hidrelétricas tem capacidade. Portanto, o Operador Nacional do Sistema (ONS) pode decidir pelo blackout – também conhecido como apagão – para evitar que o consumo seja maior à produção de energia.

Para ela, é difícil prever quando isso poderia acontecer. Entretanto, com o país entrando em alta temporada de verão nas próximas semanas, iniciará o maior consumo de energia elétrica em ar condicionados e outros equipamentos. Além de uma maior movimentação econômica em turismo. “Tudo isso pode levar a esse ponto crítico. E o regime de chuva pode demorar para retornar ao estado padrão”, explica.

Temporada de verão deve aumentar consumo de energia elétrica no país | Foto: Lucas Koehler/O Município Joinville

A professora analisa que a atuação do governo federal para conter a crise, até o momento, está sendo correta. “No curto prazo não há muito o que fazer”, opina. Ela ressalta ser necessário, agora, subir a bandeira para tarifas mais caras, tentando incentivar o racionamento; promover blackouts controlados e importar energia de outros países vizinhos. “Tanto a opção 1 e 3 já estão acontecendo”, salienta.

Longo prazo

Já pensando a longo prazo, Caroline pensa ser necessário investir em energias renováveis, principalmente solar e eólica. “A fonte solar é cada vez mais competitiva em termos de custo”, expõe.

Ela reforça ainda que os governos devem criar incentivos para compra de “kits” de fonte solar para indústrias e residências. “Pode desafogar em parte o consumo de energia elétrica da matriz”, conclui.

Consumo de energia elétrica em Joinville

Segundo a Celesc, Joinville possui o maior consumo energético de Santa Catarina, sendo 1,4 vezes acima de Florianópolis, segundo município com maior consumo no estado.

Em 2017 o registro de maior consumo foi o mês de março, com 247.627 Megawatt-hora (MWh) distribuídos na cidade. Em 2021, no mesmo período, foi registrado 276.154 MWh distribuídos. No intervalo de cinco anos, o crescimento foi de 11,5%.

Com crescimento constante de consumo, os únicos meses que apresentaram queda foram os de maio e junho de 2020.

Pela quantidade de indústrias, a região Norte se destaca no consumo energético. O setor industrial representa 65% do consumo de energia elétrica no município.

Em cinco anos, consumo de luz aumentou 11,5% em Joinville | Foto: Lucas Koehler/O Município Joinville

Já bairros residenciais com elevada densidade demográfica, como o Jardim Iririú, também apresentam consumo relevante. O grupo classificado como “residências” representa 20% do consumo na cidade, sendo o segundo maior.

Outros que lideram são os da zona Sul, devido ao alto número de implantação de novos loteamentos residenciais na região.

Impacto no setor produtivo

Marco Antonio Corsini, presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), afirma que a entidade acompanha a situação de perto, ressaltando ser necessário trabalhar em alternativas para se evitar racionamentos de energia elétrica.

Em qualquer cenário, como a produção de fontes mais caras, ele cita que a situação será preocupante a médio e longo prazo. “O custo de produção nas empresas aumenta. Em alguns contratos com clientes não é possível repassar o aumento”, avalia. Corsini diz que, com a crise, o aumento nos preços pode atingir a todos. “Com o maior custo dos insumos, prejudica quem produz e as coisas ficam mais caras para o consumidor”, complementa.

Para o presidente da Acij, se o país chegar ao estágio de realizar racionamentos, os prejuízos são para empresas de todos os níveis, porém, devem impactar ainda mais as médias e pequenas empresas. “As grandes têm gerador próprio, uma musculatura mais ágil”, afirma.

Acij pede que governo federal evite apagões ou racionamento de energia elétrica | Foto: Lucas Koehler/O Município Joinville

“A empregabilidade também deve ser impactada, gerando redução da jornada de trabalho e, na pior das situações, diminuição no quadro de funcionários e poucas vagas de emprego disponíveis. É ruim para a cidade, se gera um problema social. Impacta em todas as formas”, expõe.

Corsini sugere que o governo federal trabalhe para evitar o racionamento. “Procurar métodos para não ficar refém de apenas um meio de geração de energia elétrica”, finaliza.


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