Curado do câncer de próstata, professor de Joinville incentiva tratamento; “Meu amigo que faleceu não quis fazer”
Doença é o segundo tipo de câncer que mais mata homens no Brasil
Doença é o segundo tipo de câncer que mais mata homens no Brasil
José Francelício Ramos, conhecido como professor Zé em Joinville, passou pelo câncer de próstata e teve cura confirmada após cinco anos de tratamento. No caminho, perdeu amigos para a doença, o segundo câncer que mais mata homens no Brasil, segundo o governo federal.
“Meu amigo que faleceu não quis fazer o tratamento”, relata o professor, de 74 anos. Em entrevista ao jornal O Municipio Joinville, Zé conta como foi o tratamento, comenta sobre os preconceitos entre os próprios homens e as temidas sequelas.
O Novembro Azul é o mês que faz alusão a importância dos exames preventivos de câncer de próstata. Em 2020, o câncer de próstata ficou atrás apenas de brônquios, traqueias e pulmões em quantidade de homens que perderam a vida para a doença no Brasil. Foram 15.841 mortes, causadas por uma doença que pode ser curada se o diagnóstico for feito com rapidez e o tratamento aceito pelo paciente.
Evangélicos praticantes, professor Zé e a esposa Silvia vivem no bairro Floresta há cerca de sete anos. Se conheceram na igreja e é a fé que move a vida dos dois. Mas foi em 2005, ainda casado com a primeira esposa, que Zé descobriu o câncer de próstata.
Um exame de rotina, realizado pela Secretaria de Esportes de Joinville (Sesporte), onde trabalhava como professor de educação física, identificou alteração no exame antígeno prostático específico, o PSA.
Nos dois meses seguintes José consultou médicos, fez o exame de toque e realizou uma biópsia. Era um pequeno tumor, descoberto logo no início da doença e pouco agressivo. Devido às características do diagnóstico, o professor teve a oportunidade de optar entre radioterapia ou cirurgia.
Zé se vê como sortudo, pois sabe que poderia ter passado por situações mais difíceis. “Coloquei na mão de Deus. Foi até uma lição para mim”, afirma o aposentado.
José acredita que os homens costumam ser mais relaxados com a própria saúde. “Nós somos metidos a machão”, explica. Além de não levar a sério pequenos sinais que aparecem e demorar para procurar atendimento profissional, para o professor, os medos e preconceitos são impedimentos para mais homens terem tratamentos de sucesso.
Existem casos em que o tratamento impacta a libido ou até causa impotência. Mas para Zé, que fez 37 sessões de radioterapia, não foi bem assim. “Até durante o tratamento eu tinha relação sexual, o médico disse que não era problema.”
Embora ele acredite que a radioterapia é mais tranquila em relação às possíveis sequelas de uma cirurgia, Zé reforça que são momentâneas. Para ele, em pouco tempo a libido volta e a rotina sexual também.
Foi por esses pré-conceitos que o professor perdeu um amigo, que decidiu não realizar a cirurgia, essencial para a cura naquele caso. Além deste, teve outro colega que morreu pois a doença estava em fase avançada. Se o diagnóstico fosse precoce, talvez o amigo do professor ainda estivesse vivo.
Embora tenha perdido amigos, José conheceu diversos homens que, assim como ele, optaram pelo tratamento. Ele lembra que iam no carro da Secretaria de Saúde até o hospital de Jaraguá do Sul, onde era oferecido a radioterapia. “Na época tinha uns quinze, alguns eu ainda encontro”, conta o professor.
Técnico de futsal, Zé cuida da alimentação e pratica atividades físicas desde antes de se formar educador físico. Nunca bebeu de forma exagerada ou fumou. A vida regrada trouxe benefícios. Aos 74, o professor não toma nenhum remédio.
Quando começou a trabalhar com atletas de alto rendimento, regrou ainda mais a vida, que já era voltada para o autocuidado. “Nossa vida é uma horta, um canteiro, tudo que nós plantamos ali, quando chegar nessa idade aqui, nós vamos colher.”
Viajou por todo o estado com os times de futsal feminino e masculino de Joinville. Nessas viagens, conheceu toda Santa Catarina e adquiriu experiência em competições esportivas. Servidor da Fundação de Esportes de Joinville, o aposentado continuou a trabalhar.
Parou após o início da pandemia. Agora, ele e a esposa viajam a passeio. Foram para o Rio de Janeiro, Minas Gerais, exploraram ainda mais Santa Catarina e o futuro ainda reserva outras viagens. “Se eu pudesse dar uma dica, diria para os homens fazerem exames de rotina e se cuidar”, conclui o professor Zé.
O médico oncologista Felipe Estati, do Hospital Dona Helena, diz que há grandes chances de cura do câncer de próstata. “A maioria dos pacientes vai ter uma doença localizada”, explica.
Embora as possíveis sequelas assustem, o médico afirma que os tratamentos estão cada vez mais precisos. Com o auxílio de outras especialidades médicas, é possível amenizar os sintomas após tratamentos, caso ocorram.
A temida disfunção erétil está relacionada com o bloqueio hormonal, necessário para tratar o câncer. Felipe conta que é comum a doença ter poucos sintomas. O aumento da próstata nesses casos, pode bloquear o acesso urinário e afetar questões hormonais.
Para solucionar a questão, muitos homens acabam recorrendo à reposição de testosterona, o que pode agravar o quadro da doença. “Tem que cuidar com a reposição de testosterona, principalmente se o paciente já tiver um câncer e ele não sabe.”, alerta o oncologista.
“Com a evolução das técnicas, muitas vezes a gente consegue diminuir esses riscos. Para os pacientes que têm uma doença um pouco mais agressiva, o tratamento é fundamental.”, reforça Felipe.