De jovens a imigrantes, moradores enfrentam dificuldades para conseguir emprego em Joinville
Dificuldade para conquistar uma oportunidade no mercado de trabalho atinge os mais diversos perfis
Mesmo com um saldo positivo de 1.411 postos de trabalhos formais no mês de junho, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a procura por vagas de emprego em Joinville não é uma tarefa fácil para algumas pessoas.
Natural do Amapá, Roseane dos Santos, de 33 anos, reside em Joinville há sete meses e procura emprego há pelo menos quatro. A primeira experiência no mercado de trabalho foi como zeladora, mas gostaria de uma oportunidade como vigilante, área que se especializou. Entretanto, afirma que tem enfrentado grandes dificuldades para encontrar algo no ramo e no momento pretende aceitar a oportunidade que aparecer. “Já entreguei currículos, mas percebi que aqui elas (empresas) estão dando mais prioridade para o sexo masculino. O que acho errado, porque temos a mesma capacidade”, lamenta.
Formada desde 2006 na área, ela diz que não conseguiu nenhuma experiência no ramo no estado de onde veio e, em Joinville, o cenário se repete por conta das exigências das empresas. “Vim para cá, fiz minha reciclagem, mas cobram experiência. Não dão a primeira oportunidade, aí é complicado”, critica.
Para Cristiane dos Santos, 33, a dificuldade é a mesma. Após receber o seguro-desemprego, procura realocação na área de produção há um mês, mas já sente as diferenças. “Para o público feminino está bem complicado, mas para homens está tendo bastante vagas.”
Além disso, as dificuldades de conseguir uma oportunidade no mercado de trabalho também são sentidas pelos mais jovens. É caso de Gustavo Henrique, 21. Estudante de engenharia da computação, busca atualmente uma vaga na área de expedição, onde já possui experiência. Segundo ele, há bastante oportunidade, mas que fez poucas entrevistas. “Sou novo, mas já tenho três anos de experiência. É um tempo considerável. Não sei se tem muita gente procurando nessa área, mas está difícil”, comenta.
Gustavo também conta que envia currículo por e-mail e que já participou de processos seletivos, mas que na maioria não teve retorno. “Por isso, tenho que optar para ir para a produção ou estágio, porém, com salário de estágio não dá para se manter em Joinville”, ressalta.
Ana Paula, 23, teve a última experiência como revisora. Desempregada há três meses, procura por vagas de emprego pelo celular, mas assim como os outros, diz que não está fácil. “Acho que está difícil porque chegam muitas pessoas de fora, faltam cursos e estão exigindo demais”, avalia.
Imigrantes
Além de pessoas de todos os estados do Brasil, imigrantes de diversos países chegam em Joinville diariamente na busca por melhores condições de vida. Desde 2015 no município, o haitiano Felix Lecond, 48, trabalhou até 2020 em uma empresa, que conforme ele, pagava um bom salário. Porém, desde então, não conseguiu mais nenhum outro trabalho que pagasse o mesmo e, por isso, não consegue mais ajudar financeiramente os familiares que ainda moram no Haiti.
Morador do bairro Aventureiro, ele já busca uma vaga de emprego há dois meses e conta que, assim que conseguir, quer voltar ao país de origem. “Tenho muita família no Haiti e não consigo mais mandar dinheiro para lá. Está difícil se manter aqui”, relata.
Ao lado do amigo, o haitiano Adelson Blezin, 32, também está em busca de um emprego. Dos cinco anos em Joinville, trabalhou quatro como operador de máquina industrial e procura uma nova oportunidade há seis meses.
“Está tudo muito caro e os salários estão baixos. Moro com a minha mulher, mas só eu trabalho e está difícil para mim”. E, assim Felix, também pretende voltar ao Haiti o mais breve possível, mesmo avaliando que no Brasil é melhor para se viver. “Agora não dá porque não tenho dinheiro para pagar as passagens, mas assim que der vou voltar para lá.”
Avaliação do Cepat
Com atuação na prestação de serviço e encaminhamento de pessoas para entrevistas, o Centro Público de Atendimento ao Trabalhador (Cepat), vinculado à Prefeitura de Joinville, é um dos locais que recebem diariamente moradores que buscam uma oportunidade de entrar no mercado de trabalho formal.
Segundo Cristina Nogueira, diretora-executiva do Cepat, a maioria dos candidatos que procuram vagas no órgão possuem Ensino Médio completo e incompleto, mas o que mais afeta no momento de uma contratação é o perfil que as empresas buscam. “Tem empresas que pedem experiência e outras não. Tem empresa chegando em Joinville com 60 vagas, mas que não está pedindo, pois quer moldar a sua cultura organizacional. Já outras não”, explica.
Desta forma, mesmo que a pessoa não possua uma experiência na área da vaga que lhe interessa, o órgão a encaminha para o processo de entrevista, visto que os critérios das empresas nem sempre são especificados. “As empresas não descrevem como querem as pessoas. Elas pedem ‘tem experiência em algo ou não tem’. Caso esteja no perfil da vaga, mandamos ela com uma carta de apresentação”, complementa.
Em relação a mais vagas para homens ou mulheres, Cristina frisa que, tanto o Cepat quanto as empresas, não podem especificar para nenhum gênero por força de lei. Diante disso, para auxiliar os moradores, é feita uma orientação para qual vaga se candidatar visto o perfil de cada um.
Já em questão da busca de vagas por imigrantes, a diretora-executiva diz que muitos chegaram no município com boas qualificações, mas que não são aproveitados no mercado de trabalho por não validarem as documentações e currículos necessários. “São questões legais que devem ser seguidas. E por conta de estarem em uma situação econômica e social difícil, não conseguem pagar para realizar todo esse trâmite”, reitera.
Diante de tudo isso, em uma avaliação geral, Cristina afirma que em Joinville há um grande número de oportunidades de emprego e, mesmo com a chegada da pandemia da Covid-19, continuou se desenvolvendo economicamente.
Segundo ela, neste período, o saldo de postos de trabalhos formais sempre ficou positivo. E, quando baixou em vagas no regime da consolidação das leis do trabalho (CLT), aumentou o número em terceirizados. “É uma cidade que tem sido vista, principalmente por esses motivos. Por conta da tradição de ter pessoas trabalhadoras.”
Cristina também sente uma queda na qualidade na prestação de serviço. Ela diz que os clientes as vezes acabam não dando tanta atenção para a qualidade do atendimento. Outro apontamento feito pela diretora-executiva do Cepat é o imediatismo, principalmente dos jovens, em conseguir um cargo maior.
“Quando não se tem um parâmetro do que é qualidade, as pessoas e empresas não têm noção se está sendo um bom prestador de serviço ou não. E isso nivela a qualidade por baixo. Por isso, tem me chamado mais atenção a questão do perfil dos candidatos, que estão cada vez mais imediatistas, do que propriamente a qualificação”, finaliza.
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