De situações engraçadas a orgulho: instrutores de Joinville contam como é formar motoristas
Instrutores relatam suas histórias à frente da profissão
De situações engraçadas a orgulho: instrutores de Joinville contam como é formar motoristas
Instrutores relatam suas histórias à frente da profissão
- 25/07/2021
- 7:55
Para comemorar o Dia do Motorista, celebrado neste domingo, 25, o jornal O Município Joinville conta a história daqueles que se dedicam a formar condutores. Instrutores de autoescolas relembram casos engraçados e falam sobrem os desafios da profissão.
Como é trabalhar formando novos motoristas
Liberdade. Esta é a sensação que resume a profissão de Sandey Pablo Sampaio, 41 anos, e Adilson Pereira, 40, instrutores de autoescola em Joinville. Ambos não se conhecem, mas compartilham das mesmas emoções, seja na boleia do veículo ou simplesmente no banco do carona.
Há 16 anos como instrutor de autoescola, Sampaio define sua ocupação como trabalhosa. Ele afirma ser necessário ter muita paciência com o aluno que está começando, mas principalmente no trânsito. Atualmente, ele atua na Autoescola Príncipe Norte.
“O que mais estressa é o trânsito. Mas é uma profissão muito prazerosa. Nosso maior conforto é saber que um dia aquele aluno estará dirigindo. É um presente este mesmo aluno passar por você, te cumprimentar”, afirma Sampaio.
Habilidade para ouvir
Quando iniciou na profissão, Sampaio conta que sentia um certo receio ao entrar em um veículo com alguém que nunca tinha dirigido. Mas, conforme o tempo foi passando, desenvolveu habilidades para lidar com aquele frio na barriga e passar sua experiência ao aluno.
Ele relata que, além da aptidão no volante, cada professor precisa carregar dentro de si a habilidade para ouvir. Esta função os coloca em uma linha tênue entre só ouvir o desabafo e opinar só quando possuem abertura.
“Temos um pouquinho de psicólogo dentro de nós. Cada um que entra no nosso carro conta uma história. Tem bastante aluno que tem problema em casa e desabafam com a gente. Claro, né, a gente não opina, só escuta. Só se for para ajudar eles”, conta Sampaio.
Além de aliviar a tensão, o instrutor diz que a arte de ouvir pode evitar até problemas no trânsito. Se o aluno estiver nervoso, por exemplo, pode se envolver em alguma situação de risco ou efetuar alguma manobra arriscada.
“A gente ouvindo, eles já se sentem mais relaxados”.
Acidente com motocicleta furtada
De maridos ciumentos que participavam das aulas a acidente com motocicleta furtada, os instrutores de autoescola já vivenciaram um pouco de tudo. A história cômica que Sampaio lembra aconteceu com uma colega de profissão.
O instrutor conta que estava na autoescola quando recebeu a ligação da colega. Ela havia ligado desesperada dizendo que um motociclista havia batido em seu carro enquanto ela dava aula de direção e estava ameaçando fugir do local.
Como Sampaio estava com o veículo da empresa, resolveu ir até o local. “Chegando lá, ela estava tentando segurar a moto e o rapaz tentando avançar. Eu me desesperei, né? Segurei o rapaz, não deixei ele fugir e aí a gente chamou a polícia”, lembra.
Quando a polícia chegou ao local, descobriram que a moto estava com registro de furto. Naquele momento, levantou-se a suspeita de que o rapaz estava fugindo quando bateu na porta da instrutora.
Ele foi encaminhado para delegacia de polícia. Depois, descobriu-se que estava voltando de uma festa com os amigos e a motocicleta era de um deles.
“Aí a gente entrou em contato com o irmão dele, que era meio conhecido do bairro. Além de pagar o advogado, o irmão acabou pagando o conserto do carro. Enfim, o cara entrou numa confusão por besteira”, ri.
“Desce do carro devagarzinho”
Pereira é diretor de ensino na Autoescola Radar e entrou na profissão aos 18 anos para fugir da monotonia do chão de fábrica. Já nos primeiros dias da profissão, vivenciou histórias engraçadas, que até parecem mentira quando contadas.
Uma delas aconteceu durante uma de suas aulas práticas. Ele conta que o aluno dirigia bem e já estava em um dos seus últimos testes que antecedia a prova do Departamento Estadual de Trânsito do Estado de Santa Catarina (Detran).
Pereira pediu, então, para que o aluno parasse no acostamento e saísse devagarzinho com o carro. Foi quando veio a surpresa.
“Ele parou, colocou a marcha no ponto morto e puxou o freio de mão. Eu fiquei só olhando. Ele desligou o carro abriu a porta e começou a andar devagar. Eu perguntei ‘o que você está fazendo?’ Ele respondeu que estava fazendo o que eu havia mandado”, conta, entre risos.
Entre as histórias, Pereira já lidou com alunos que choravam a toda chamada de atenção, que traziam manias consideradas erradas ao volante ou até alunos que desmaiaram após o teste final.
Em mais de 20 anos de profissão, Pereira também aprendeu com seus alunos e aprimorou ainda mais suas habilidades: paciência e atenção.
“No início, quando comecei a trabalhar, eu tinha um certo receio e às vezes eu mesmo utilizava os pedais, usava a embreagem no lugar do aluno. Hoje eu já entro no carro sem essa preocupação. Porém eu aprendi que, mesmo que o aluno passe uma certa segurança, você nunca pode estar desligado”, afirma.
Superação
A persistência de Pereira na profissão é uma bela história de perseverança. Quando começou, aos 18 anos, conta que sofreu preconceito por parte de pessoas mais velhas.
Mas, aos poucos, conseguiu provar que não se trata de idade, mas da vivência e experiência que conseguiria passar para seus alunos, mesmo eles sendo mais velhos.
“As pessoas mais velhas que vinham aprender comigo achavam que eu era muito novo e o que eu podia passar de experiência pra elas, né? Então, eu começava, às vezes, a semana com com o caderno cheio de aulas pra dar e finalizava a semana com poucas, por este preconceito”, relata.
A partir de sua experiência, Pereira entendeu que é necessário respeitar a particularidade de cada um. Há alunos que demoram mais para aprender, como há outros que aprendem facilmente.
Há também os que buscam no volante sua liberdade. Para ele, dar esta sensação às pessoas através de suas aulas é gratificante.
“Uma vez dei aula para uma menina cadeirante, paraplégica. Ela pensou que jamais conseguiria tirar a carteira por causa de sua condição, então adiou este sonho. Mas chegou um tempo que ela não poderia mais depender de outras pessoas”, conta.
A jovem, então, passou a fazer aulas com carro adaptado. “Ela conseguiu superar todas as barreiras e conseguiu sua independência”, conta, orgulhoso.
Pereira também ajudou a habilitar uma outra jovem que sofreu um derrame cerebral, que possuía limitações em sua fala e coordenação motora.
O instrutor também se orgulha de contribuir com o sentimento de liberdade de pessoas mais velhas, mulheres que antes eram impedidas de dirigir ou pessoas que simplesmente desejam alcançar autonomia.
Pois dar aulas de volante, afinal, vai muito além do que um papel que lhe dê o direito de dirigir. “Às vezes, as pessoas nos olham dando aula teórica ou prática e acham que estamos lá fora passeando. Até alguns alunos brincam ‘professor, além de tu dar aula, você trabalha com alguma coisa?’. Não sofremos desgaste físico, mas o mental, que muitas vezes pode ser pior”, afirma.
“Para ser instrutor, não basta querer, tem que ter o dom da paciência”, finaliza.