Desafios, aprendizados e perdas: pandemia da Covid-19 completa dois anos em Joinville
Nestes dois anos, Covid-19 impactou moradores de formas diferentes
Nestes dois anos, Covid-19 impactou moradores de formas diferentes
No dia 13 de março de 2020, iniciava em Joinville aquilo que hoje já dura por dois anos: a pandemia da Covid-19. A data marca o registro do primeiro caso da doença na cidade, sendo um homem de 57 anos a primeira pessoa infectada. Desde então, foram 165.145 casos registrados nestes dois anos e 2.209 mortes.
Atualmente, são 411 casos ativos e 162.525 considerados recuperados da doença, representando 98,4% de cura. O total de notificações referentes ao vírus, que inclui casos confirmados, suspeitos e descartados, ultrapassa 500 mil. Os dados são referentes ao dia 17 de março de 2022.
Segundo os números da Prefeitura de Joinville, até nesta terça-feira, 15, o número de pessoas vacinadas com a primeira dose contra a Covid-19 era 471.358, sendo que 439.230 estão com esquema vacinal completo após receberem a segunda dose.
Até o momento, 142.795 pessoas tomaram a dose de reforço. O percentual da população vacinada em Joinville é de 76%, levando em consideração o número de habitantes na cidade em 2020, que era aproximadamente de 597 mil.
Atualmente, a pandemia está em desaceleração, conforme avaliam especialistas locais, e medidas que flexibilizam as restrições foram tomadas. A mais recente é o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras.
“Acompanhamos, nas últimas semanas, a queda no número de casos ativos e o crescimento do percentual de pessoas vacinadas. Em relação à ocupação hospitalar, não observamos oscilação. Estes indicadores nos sinalizam a possibilidade de seguir a flexibilização no uso de máscaras proposto pelo governo de Santa Catarina”, avalia o secretário de Saúde, Jean Rodrigues da Silva.
Luciene Ribeiro Garcia trabalha na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leste, no bairro Aventureiro. Ela, assim como outros diversos profissionais da saúde, atua linha de frente de combate à Covid-19 desde o início.
“Foram tempos desafiadores. São situações desconhecidas para quase todos trabalharem com isso. Temos experiência, mas é tudo novo. Além disso, é uma sensação de dever cumprido, de conseguir ajudar muitas pessoas, apesar de não ser possível com todos os pacientes”, diz.
Entre as situações marcantes, a enfermeira cita um paciente em específico. Ele ficou internado por 23 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e com complicações. O homem teve, até mesmo, parada cardíaca, com chances remotas de sobreviver. Porém, ele resistiu.
Um dos costumes de Luciene era colocar música para o paciente com Covid-19 ouvir enquanto fazia o exame físico. Ela posicionava o celular ao lado cama e colocava, geralmente, dois estilos de música para tocar: instrumental e sacra.
“Ele lembrava da música sacra. Foi marcante, porque parecia insignificante, mas comprovou que o último sentido que perdemos é a audição. Eu dava bom dia, mesmo ele não respondendo. Nos últimos dias dele na UPA, me respondeu com um sorriso e com um piscar de olhos”, relembra a enfermeira.
Luciene comenta que no início da pandemia os profissionais da saúde passaram por um período de adaptação para entender como o vírus reagia em cada pessoa.
“Estávamos lutando contra um inimigo estranho. As coisas básicas sabíamos, mas o resto, como e porque o paciente reagia de tal forma, fomos aprendendo com o passar dos tempos, errando e acertando”, afirma.
Problemas com insumos e lotação dos hospitais e unidades também foram desafios enfrentados pela enfermeira durante o pico da pandemia em Joinville. Luciene relembra que eram 18 leitos de UTI, além de dez de semi-UTI e os demais de enfermaria, com prioridade de atendimento para pacientes em estado mais grave.
A enfermeira passou por momentos de dificuldade. A maior delas, a perda da mãe durante a pandemia. Luciene conta que, apesar da rotina exaustiva, uma das medidas tomadas para superar a dor foi trabalhar, com plantões de 24 horas.
“Por incrível que pareça, não me sentia cansada. Eu sempre queria ajudar, estar lá, voltar para casa, tomar banho, descansar seis horas e já voltar para o hospital. Pelo menos assim eu estava ocupada, sem pensar que eu não podia mais ligar para ela para dizer o que estava sentido”, conta.
Há quatro anos em Joinville, a enfermeira diz que é difícil ficar longe da família. Por ser do grupo de risco, a filha de Luciene, de 12 anos, teve que retornar para a cidade natal, São Mateus (PR). Com isso, a mãe seguiu na “linha de fogo” de combate ao coronavírus em Joinville.
“Por mais que eu trocasse de roupa antes de chegar em casa, tinha medo de transmitir o vírus para ela. Ela ficava sozinha em casa, sem nem poder transitar no condomínio. Minha filha ainda não voltou para cá, pois tudo estava muito incerto, e deve ficar lá por mais um semestre”.
Quando a vacina chegou em Joinville, foram momentos de alegria para os profissionais da saúde. Luciene classifica como “um alívio”, sabendo que passariam a registrar casos mais brandos da doença, com menos mortes.
“A sensação é que a vacina contra a Covid-19 será uma rotina, assim como a da gripe. Como outras doenças contagiosas, os cuidados serão semelhantes aos da Covid-19. Na área da saúde, devemos ter precauções por causa da transmissão e usar os EPIs adequados no dia a dia”, finaliza.
Era exatamente 10h23 de domingo, dia 20 de setembro de 2020, quando o telefone da casa de Safira Quandt tocou. Do outro lado da linha, o hospital informou a notícia que ela mais temia: o falecimento de seu pai.
Izaac Pedro da Cunha morava no bairro Floresta. De acordo com a filha, após diagnósticos positivos para Covid-19 dentro da família, tentaram se isolar de Izaac. Entretanto, ele também contraiu a doença.
“Meu pai começou com sintomas leves. Ele sempre mandava mensagem para mim dizendo que estava bem e que não tinha febre. Porém, ele tinha muita tosse e estava com coriza. A situação foi se agravando, até que ele ficou de cama e não queria mais levantar para quase nada”, relembra Safira.
Após o estado de saúde se agravar, Izaac foi levado para o Pronto de Atendimento (PA) Sul, no bairro João Costa, sendo intubado. Depois, foi transferido para o hospital regional. A filha conta que todos os dias os médicos ligavam para passar o boletim de saúde à família, geralmente no final do dia.
Ao todo, Izaac ficou 21 dias internado. No dia 18 de setembro, a médica Ana Laura ligou para a família dizendo que o estado de saúde dele havia se agravado, que estava com trombose pulmonar e que era um paciente terminal, indicando que o pior estava por vir.
“Não tivemos a oportunidade de fazer velório. Chegamos no cemitério junto com o carro da funerária. Só deu tempo para uma oração, e mais nada. O caixão já tinha sido baixado e a sepultura lacrada. Durou menos de dez minutos”, relembra a filha.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Joinville, José Manoel Ramos, comenta os impactos da pandemia para os lojistas do município. Em 2020, o shopping da cidade e o comércio de rua foram fechados em decorrência das medidas de prevenção, afetando diretamente a economia.
“Muitos comerciantes estão endividados até hoje em dia devido às restrições. Indústria e construção civil não pararam. Infelizmente, o comércio pagou por esta conta sozinho”, comenta Ramos.
O presidente da CDL projeta que, com o retorno das atividades à normalidade e com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, os eventos, feiras, casamentos e outros encontros que reúnam grande número de pessoas irão aquecer o setor.
“Com estas atividades retornando, quem trabalha com vestuário, calçados e comércio de joias, por exemplo, conseguirá aumentar as vendas”, avalia.
No empresariado, os efeitos destes dois anos de pandemia também foram sentidos. De acordo com o presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Marco Antonio Corsini, o município registrou saldo negativo de geração de novos empregos no trimestre de março, abril e maio de 2020.
“A partir de junho de 2020, esta curva começou a mudar em função do aprendizado, da resiliência, da criatividade, da inovação e da adaptação dos empresários frente à pandemia”, relembra Corsini.
O presidente da Acij comenta que, no fim do ano, o município não apenas recuperou 13 mil vagas negativas do início de 2020, como gerou um saldo de mais de 4,6 mil vagas positivas, referente a geração de quase 18 mil vagas em sete meses, entre junho e dezembro no primeiro ano de pandemia.
Para o presidente, os números mostram que a retomada da economia em Joinville iniciou já em 2020, com o ritmo da recuperação crescendo em 2021.
“Joinville fechou o ano de 2021 com um saldo positivo acumulado de cerca de 12,7 mil postos de trabalho. Trata-se de um total quase três vezes maior que o de 2020 e quase o dobro de 2019, quando não havia pandemia”, pontua.
Ainda de acordo com Corsini, é positiva para o setor empresarial a flexibilização das medidas de prevenção contra a doença, fortalecendo o aquecimento da economia, com um início de ano positivo, conforme avalia.
“O momento da pandemia e os resultados dos últimos meses reforçam a confiança do setor produtivo. Santa Catarina teve o segundo melhor desempenho no ranking nacional de geração de empregos em janeiro, atrás apenas de São Paulo”, diz.
Por fim, o presidente da Acij afirma que há uma série de desafios para manter os números positivos em 2022. Agora, a preocupação é a tensão entre a Rússia e o ocidente, além da pandemia.
“Além da própria pandemia, que ainda não acabou, temos a alta da inflação, a crise energética, o ano eleitoral e mais recentemente a guerra entre Rússia e Ucrânia. São fatores que impactam a economia e desafiam o desempenho das empresas”, finaliza.
*Colaboraram Fernanda Eliza Silva e Lucas Koehler
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