Dia da Consciência Negra: “Nós também respiramos e temos espaço”, diz Elizeu Ferreira, do JEC
Ele é um dos poucos profissionais negros a ocupar cargo de treinador no futebol brasileiro
Ele é um dos poucos profissionais negros a ocupar cargo de treinador no futebol brasileiro
Atual auxiliar-técnico do Joinville, Elizeu Ferreira ocupa um espaço que ainda é para poucos no Brasil: ser negro e treinador de futebol. Neste ano, ele chegou a treinar, inclusive, a equipe principal do JEC durante a Copa Santa Catarina. Com foco em capacitação permanente, o ex-jogador deseja ser uma referência na área e defende vencer o racismo através de estratégias, não pela violência.
Elizeu explica que lida com acontecimentos racistas de forma “natural”. Isso porque ele lembra que o tema está presente na sua vida desde a infância. Nascido em Parelheiros, bairro da periferia de São Paulo (SP), ele conta que, quando criança, era chamado de “negão” e “macaquinho” pelos amigos. “Entedia como brincadeira, mas existe o lado da maldade, pessoas usam isso para te ofender, humilhar, e que o negro deve estar sempre por baixo”, lamenta.
O ex-jogador se revolta quando pessoas querem “pisar e humilhar o próximo”, não compreendendo o porquê dos atos racistas, como jogar bananas em campo para atingir jogadores negros. “Fico triste quando alguém pensa que o mundo é feito só para ela. É egoísmo, soberba e falta de sabedoria”, reflete.
Apesar de não sofrer com o racismo explícito durante a carreira profissional, Elizeu compartilha que teve receios em trabalhar em regiões específicas, como em Joinville, Criciúma, ambas cidades de Santa Catarina, e no Japão. “Um estado e país com a maioria da população branca. Existe uma desconfiança de como vão te receber”, conta.
Exaltando a importância de negros ocupando cargos relevantes e de gerência, ele cita que o maior exemplo é Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos. “A maior potência do mundo. Mostra, para nós, negros, aonde podemos chegar”, opina.
Elizeu também cita exemplos como o de Marcão, técnico do Fluminense, e Hemerson Maria, treinador campeão da Série B pelo JEC, em 2014. “São profissionais vencedores. Nós, negros, precisamos focar nossos olhos e corações nisso”, complementa.
O comandante do tricolor carioca, ao lado de Roger Machado, foram os únicos negros a ocupar o cargo de técnico entre os 20 clubes da primeira divisão do futebol brasileiro.
Para ele, a população negra precisa ter consciência dos desafios e dificuldades, porém, defende que o racismo não tome conta das pessoas e nem defina os cidadãos. “Não podemos ter complexo de inferioridade. Você precisa estudar e estar apto para conquistar os objetivos”, crava.
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O profissional ainda ressalta que os negros não podem se esconder por causa do racismo. “Se chega na faculdade e alguém te olhou torto, continua frequentando, aja com amor e diga: você veio estudar e eu também. O que é seu direito também é meu e acabou”, define.
O auxiliar-técnico do JEC diz que tem um “sentimento gostoso” pelo Dia da Consciência Negra. “Uma mobilização para destacar a cultura negra, importante para ressaltar que somos seres humanos iguais a todos. Nós também respiramos e temos espaço”, afirma.
Ele também diz que a data é fundamental para ressaltar os erros cometidos durante a escravidão. “Lembrar quem foi escravizado e dos ignorantes que escravizaram. A ganância faz um ser humano passar por cima de outros sem medir esforços, ou sem entender o que deixará de rastros. Isso machucou muito o povo negro”, reflete.
Elizeu destaca que quer seguir como treinador de futebol, buscar títulos, fazer história, deixar legados por onde passa e possibilitar realizações para a família. “Dar oportunidade do meu filho se formar, minha esposa seguir com a empresa dela. São as minhas motivações diárias”, compartilha.
Com foco na humanização do futebol, ele diz querer passar ensinamentos aos novos atletas, além de ser “parceiro” dos jogadores. “Olhar nos olhos, dar um abraço, sentar no gramado e conversar”, reflete.
Para ele, é necessário existirem hierarquias no futebol, porém, os técnicos precisam saber lidar com os atletas. “Mostrar que eles são importantes e com sentimentos”, finaliza.
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