Isabeli Nascimento/O Município
Dia da Mulher: joinvilense desafia barreiras ao trabalhar como servente de pedreiro
Joceane é reconhecida como a única mulher a atuar na função no município
Em meio ao barulho das ferramentas e ao ritmo intenso das obras, a história da joinvilense Joceane de Cássia Wolff dos Santos, de 47 anos, é vista como um exemplo de força e determinação. Há seis anos como servente de pedreiro, ela não constrói apenas paredes, mas ergue lares que representam os sonhos de muitas famílias do município.
Natural de Joinville, Joceane vive em Brusque, no Vale do Itajaí, há 22 anos. Segundo ela, a entrada no mundo da construção civil aconteceu quase que naturalmente, já que seu marido já era pedreiro e sempre que precisava de ajuda.
“Eu deixava o meu antigo emprego para apoiá-lo. Porém, chegou uma hora que eu decidi parar de trabalhar fora e comecei a trabalhar junto com ele”, disse.
O trabalho é intenso. Joceane prepara massa, carrega tijolos, assenta pisos e participa de quase todas as etapas da obra. “Eu só não coloco tijolo ainda, mas o resto eu faço”, conta com orgulho.
Apesar da exaustão física, ela encara a rotina com leveza. “Não acho pesado. O que eu não dou conta, meu marido ou outra pessoa carrega. A gente se ajuda”.
Mesmo em um ambiente predominantemente masculino, Joceane nunca se intimidou. Ela acredita que mais mulheres poderiam se aventurar no setor.
“Seria bom ter mais mulheres trabalhando. É uma renda que vai direto pra família, não precisa pagar outra pessoa. Além de obras privadas, ajudo nas reformas dos parentes. Posso dizer que sempre sou solicitada”, brinca.
A jornada, no entanto, não é isenta de desafios. Em Brusque, onde a construção civil pulsa, falta mão de obra disposta a encarar o batente.
“Serviço tem bastante, mas gente pra trabalhar, pouca. Os jovens de hoje em dia só querem saber de computador ou serviço mais leve. Porém, isso valoriza nosso trabalho também”.
Ainda assim, ela segue firme, dividindo os dias entre a obra e as tarefas de casa. Recentemente, Joceane e o marido passaram um ano trabalhando em uma construção próxima ao Centro Universitário da Fundação Educacional de Brusque (Unifebe), e, enquanto aguardam a liberação de novos projetos, estão reformando a casa de um familiar.
“Eu gosto do que faço e sei que posso ser exemplo para muitas outras mulheres. É verdade que o sol escaldante e o desgaste físico por vezes me fazem pensar em mudar de ramo, mas o volume constante de trabalho e a segurança de uma renda própria me mantém na ativa. Enquanto tiver serviço, a gente segue”, conclui.
Mulheres no ramo
A representatividade feminina na indústria da construção civil vem crescendo nos últimos anos. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, no ano passado, 20,2% das 110.921 novas vagas criadas no setor foram ocupadas por mulheres.
O percentual representa um avanço na comparação com anos anteriores. Em 2023, o índice de mulheres na construção civil era de 14,6% e, em 2022, de apenas 12,2%. Esse crescimento é comemorado pelo Sinduscon de Joinville, que elegeu, em 2024, pela primeira vez em mais de 75 anos, uma mulher para a presidência.
À frente do sindicato na Gestão 2024/2026, a arquitetura e urbanista Ana Rita Vieira é filha de engenheira civil e cresceu vendo a mãe nos canteiros de obra. Hoje, Ana Rita é empresária do setor e concorda que há espaço ainda maior para as mulheres nos canteiros de obras.
“As mulheres são detalhistas e a construção civil já não é mais um setor pesado ou insalubre como se costumava pensar. A industrialização, a modernização dos processos e o desenvolvimento de novos materiais facilitaram a rotina as obras, permitindo que o trabalho seja executado por todas nós”, diz a presidente do Sinduscon.
A Relação Anual de Informações Sociais (Rais) divulgada pelo Ministério do Trabalho confirma a tendência de mudanças no setor. Em 2010, 7,8% dos trabalhadores formais da indústria da construção civil eram mulheres, cerca de 207 mil em um universo de 2,6 milhões de profissionais. Em 2021, a força de trabalho feminina passou para 10,85%, ou seja, mais de 250 mil mulheres.
Maria Iris dos Santos é uma delas. Começou cedo, ajudando o irmão no Norte do país. Da “diversão” ela fez sua atual profissão. Há 7 anos trabalha na construção civil e considera o setor organizado. Além disso, vê nobreza na possibilidade de fazer “casas para as pessoas morarem”.
Em Joinville há 6 anos, quando chegou em busca de melhores oportunidades de emprego, Maria trabalha como ajudante da construção civil em uma construtora da cidade. “O que sempre me fascinou foi a construção civil”, garante.
Foco na capacitação
O Sinduscom de Joinville mantém cursos de formação com turmas mistas. Em um ano do Profissão Construir, 24 mulheres já concluíram as aulas em Joinville. Entre os módulos disponíveis estão: Ajudante da Construção Civil, Pedreiro de Alvenaria, Auxiliar de Eletricista, Auxiliar de Instalador Hidráulico, Auxiliar de Pintura, entre outros.
Larissa Ribeiro, 35 anos, está entre elas. “Não tenho mais 15 anos, mas nunca é tarde para começar algo novo”, diz, após fazer os módulos de Ajudante da Construção Civil e Instalador Hidráulico. Sem experiência na área, ela se matriculou para adquirir conhecimentos, apostar na capacitação e começar uma nova carreira.
Gisele Aparecida da Silva, 59 anos, fez os cursos de Auxiliar de Eletricista, Auxiliar em Light Steel Frame e Pedreiro de Alvenaria. “Os conteúdos são de muito valor. Como síndica do meu condomínio é fundamental ter conhecimento para acompanhar a execução das obras que contratamos”, comenta.
Assista agora mesmo!
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