Comemorar o Dia das Crianças durante a pandemia da Covid-19 pode ser um despertar de alegrias num período em que o medo e a solidão estão constantemente presentes. Em algumas casas, o motivo para celebrar será ainda maior: o primeiro Dia das Crianças dos filhos nascidos em meio a pandemia.
Para comemorar, porém, diversas mães tiveram que viver a gestação ultrapassando as barreiras que o coronavírus colocava pelo caminho. Dores da gravidez, uso de máscara, consultas adiadas, isolamento social, insegurança. A gestação nesse período esteve longe do normal.
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Vanessa Cordeiro, enfermeira, de 27 anos, descobriu, em agosto de 2019, que nove meses depois daria a luz à Luiza. À época, sem imaginar a chegada do vírus, as idas às consultas eram tranquilas, entretanto, isso mudou nos dois últimos meses de gestação.
Com as restrições nos hospitais, muitas consultas foram canceladas ou reagendadas. “A minha filha passou das 40 semanas. A cada três dias eu tinha que ir no consultório. Tinha muito medo de ser infectada pela Covid-19 e tive que passar por todo o processo da gravidez sozinha”, lembra.
Para ela, a maior dificuldade era não poder ter o seu esposo ao seu lado nos ambientes médicos. “É um momento que você está gerando uma vida. Estar com o seu companheiro ao lado é fundamental. Ele não pôde sequer ficar na recepção. Foi tudo muito solitário”, lamenta.
O clima solitário também pesou para a Graziela Steffen, de 32 anos, que no dia 31 de agosto deste ano viu nasceu sua filha Eduarda. A gestora de contas explica que o afastamento social impossibilitou compartilhar o momento da gravidez com pessoas queridas.
Além disso, todas as consultas de pré-natal precisaram ser realizadas sem acompanhante. Ela ainda precisou escolher o enxoval online. O medo do contágio sempre esteve presente. “Tínhamos um receio ao receber as mercadorias e os entregadores, principalmente na reta final”, destaca.
Os cuidados para manter o ambiente com segurança são inúmeros. “A família toda entrou na roda de cuidado extremo para poder ter contato com a baixinha. E seguimos com os mesmos cuidados ao receber mercadorias, entregadores, etc”, expõe.
Apesar dos obstáculos, ela afirma que a gestação foi tranquila, sem interferências negativas, o que proporcionou uma experiência engrandecedora e íntima.
O primeiro Dia das Crianças
Na família de Vanessa, a expectativa pelo primeiro Dia das Crianças com a filha de cinco meses será compartilhada com o filho Lucas, de 6 anos. “A Luiza é uma bebezinha, para ela ainda é pequena, mas para o Lucas é diferente”, explica.
A enfermeira se empolga ao contar que o presente do garoto já está comprado e ele está ansioso para desembrulhar a surpresa. Já para Luiza, o presente deve acompanhar a idade: um mordedor para coçar a gengiva e dentes.
No dia 12 de outubro, a família pretende, depois de raras vezes, passear com os dois filhos. “Queremos levar eles para respirar um pouco de ar livre. Em algum lugar que respeite as restrições e recomendações dos órgãos de segurança”, diz, sem esquecer dos cuidados com a Covid-19.
Já para Graziela, a data será mais um momento especial. “Ficará guardado na memória para sempre, pois ela já é o maior presente de todos”. A gestora reforça que a maior comemoração será estarem juntas de corpo e alma. “Esse ano será somente família e tenho certeza que estaremos envolvidos por muito amor”, complementa.
O brinquedo, porém, também será destaque. “Vamos comprar brinquedinhos para desenvolvimento psicomotor. É para incentivar as habilidades dela”, fala.
Planos pós pandemia
Viagens, restaurantes, praias, eventos. Desde o início do isolamento social, os planos estão sendo pensados pela maioria das pessoas, ansiosas para realizá-los quando a pandemia terminar ou quando a vacina chegar.
Porém, as duas mães têm desejos são mais sentimentais. Para Vanessa, mãe da Luiza, a valorização do prazer em ser mãe é o objetivo principal. “Quero aproveitar os momentos, passear mais com meus filhos, ver a natureza, fazer piquenique, coisas que não fazemos por questões de trabalho ou por sempre justificar que nunca temos tempo”, compartilha.
Graziela, mãe da Eduarda, segue num caminho parecido. Ela acredita que se a população for consciente, o futuro será positivo. “As pessoas estarão mais cuidadosas e atentas e, dessa forma, teremos menos doenças circulando e sendo passada às nossas crianças. Se todos os responsáveis manterem os cuidados, as crianças ficarão menos doentes.”
Cuidados antes e depois da Covid
Manter os cuidados durante a pandemia se torna ainda mais necessário para gestante ou quem se tornou mãe nesse período.
Para o médico obstetra Armando Dias, usar máscara e evitar aglomerações é fundamental. Ele ressalta que o feto pode ser infectado caso a mãe teste positivo para Covid-19. “Os estudos provam que podem haver complicações”, explica.
Dias conta que algumas gestante tiveram complicações e chegaram a ser internadas na UTI. “Como os sentimentos ficam mais sensíveis durante a gravidez, a apreensão e o medo para elas é maior do que para outras pessoas”, considera.
O obstreta destaca que a solidão das mulheres nas consultas é um ponto negativo. “Os exames de ultrassom, escutar o coração, são momentos emotivos. Durante a pandemia isso não ocorreu, houve perda de momentos especiais”, lamenta.
Porém, o mundo virtual contribuiu para alegrias. O especialista explica que com a tecnologia, as mães acabam filmando, tirando fotos e compartilhando a caminhada com os familiares. Dias diz que não é a mesma coisa que a presença fixa, mas ajuda a relação familiar.
O médico reforça a necessidade das gestantes manterem os cuidados necessários de segurança mesmo depois do nascimento da criança.
“Enquanto não termos uma vacina, não podemos deixar de usar máscara, manter o distanciamento social. As complicações são sérias para muitas pessoas gestantes que foram infectadas pela Covid-19”, finaliza.