“Disseram que meu povo nasceu para limpar panela”; nordestina que mora em SC diz ter sido vítima de xenofobia
Elen viralizou nas redes sociais após compartilhar vídeo de desabafo sobre intolerância política e xenofobia sofridas na cidade
Elen viralizou nas redes sociais após compartilhar vídeo de desabafo sobre intolerância política e xenofobia sofridas na cidade
Elen Ribeiro é uma mulher nordestina de 34 anos que veio morar em Blumenau no ano de 2015. Ela é proprietária do salão Santa Beleza, localizado no bairro Garcia. Durante o período eleitoral, ela fez campanha para Ana Paula Lima e Adriano Pereira, ambos candidatos filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT).
A nordestina lembra que quando morava na Bahia tinha envolvimento com ações políticas. Entretanto, em Blumenau, a divulgação de seu posicionamento veio acompanhado de represálias, segundo ela. A empreendedora diz que, em respeito a todos, nunca misturou seu trabalho com política e que jamais fez propaganda para candidatos no salão, nem nas redes sociais, tampouco no espaço físico. “Meu salão é aberto para todos os públicos”, afirma.
Porém, no dia 2 de outubro, Elen expressou em seu Instagram privado a felicidade por Ana Paula Lima ter sido eleita como deputada federal e o ex-presidente Lula, que disputa a eleição, ter ido para o segundo turno. Ela diz que não sabe como, mas as publicações chegaram até algumas clientes.
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Elen conta que quando chegou em Blumenau, as coisas não foram fáceis. Ela sempre trabalhou com estética e, durante um ano, quando ainda não tinha o salão, atendia a domicílio. Com o passar do tempo, conquistou muitos clientes e construiu uma relação de amizade com a maioria deles.
A nordestina cita uma cliente específica, a qual atende a família há sete anos. Até mesmo depois que montou o salão, reservava as segundas-feiras para atendê-los em casa. Entretanto, quando tomaram conhecimento sobre as postagens e posicionamentos políticos de Elen, chamaram ela para conversar.
“Estavam todos me esperando, foi muito constrangedor. Eu sempre me sentia à vontade lá e naquele dia eu tive a sensação de que iam me matar ali dentro. Foi humilhante, as palavras me doeram muito”, desabafa.
A empreendedora conta que a família disse não saber que ela votava em candidatos do PT, mas compartilha que discorriam muitas críticas ao partido todas às vezes que os atendia. Uma das frases que mais impactou Elen, foi quando disseram que se soubessem que ela apoiava o ex-presidente Lula, não a teriam deixado entrar na casa deles, porque “apoiador de ladrão também é ladrão”.
“Isso me doeu muito, porque trabalhava na casa deles há sete anos e nunca sumiu nada. Eu saí de lá muito mal, acabada”, compartilha.
Além da intolerância política, Elen afirma que também foi vítima de xenofobia, preconceito com estrangeiros ou pessoas de outras regiões do mesmo país. No Brasil, a discriminação é comum, principalmente contra pessoas do Norte e Nordeste.
“Elas me disseram que eu era uma nojenta e que o povo do Nordeste tinha que sofrer, que nascemos mesmo para limpar panela e arrumar casa dos outros, que não íamos crescer”.
“Disseram que meu povo nasceu para limpar panela”.
A empreendedora conta que quando atendia a domicílio as pessoas geralmente a ofereciam comida, porque passava muitas vezes o dia trabalhando nas residências.
“Ela me perguntou se eu não tinha vergonha na cara porque eu era nordestina e cheguei aqui passando fome. Disse que se dependesse dela eu e minha família não comeríamos um prato de comida mais”, relembra.
Além da família que abordou a empresária, outras mensagens xenofóbicas vieram de alguns clientes diretamente no Whatsapp do salão de Elen. Segundo ela, algumas chegaram até a discutir com suas funcionárias: “Se ela é nordestina, por que não volta para o nordeste?”, indagou uma delas. Contra estas pessoas, especificamente, ela deve entrar com processo judicial.
Xenofobia é crime, de acordo com a Lei 9459, e pode ser denunciada através do Disque 100, ou de ferramentas on-line, disponíveis para acesso no site do governo federal.
Os indicadores da Central Nacional de Denúncias da Safernet, que recebe denúncias de 10 crimes contra os direitos humanos praticados com o uso da internet, mostram que o primeiro semestre de 2022, registrou 67,5% mais denúncias de racismo, lgbtfobia, xenofobia, neonazismo, misoginia, apologia a crimes contra a vida e intolerância religiosa em comparação ao mesmo período do ano passado.
Um levantamento divulgado pela Safernet em abril deste ano, aponta que tanto em 2020, ano de eleições municipais, quanto em 2018, ano da última eleição presidencial, houve aumento de denúncias de crimes de ódio na internet em relação aos anos anteriores, em que não houve eleições.
Denúncias de crimes virtuais podem ser feitas em delegacias físicas ou virtuais (para registro de Boletim de Ocorrência), Conselho Tutelar (quando há envolvimento de menores) ou mesmo o Ministério Público. Além disso, também é possível recorrer a delegacias especializadas em crimes virtuais, disponíveis em alguns estados do Brasil.
A empreendedora compartilha que as funcionárias também foram ofendidas e, segundo ela, uma delas recebeu até ameaça do marido de uma cliente após a discussão. Quando chegou em casa, indignada com o que estava acontecendo, Elen gravou um vídeo em forma de desabafo e postou em suas redes sociais.
No TikTok, o video, que tem o título “xenofobia no sul”, está com mais de 135 mil visualizações e dois mil comentários. “O vídeo está repercutindo muito. Há muitos relatos de pessoas falando o que passam com os patrões. Eu não tinha noção de como é a falta de respeito com o povo nordestino aqui”, afirma.
@elen_ribeiro578♬ som original – Elen cassia
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