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Do dominó à amizade: conheça quem frequenta diariamente a praça Nereu Ramos, em Joinville

Símbolo da cidade, a praça recebe diariamente jogadores de cartas e dominó, além também de um campeão catarinense pelo JEC

Um dos locais mais movimentados da região central de Joinville, a praça Nereu Ramos é rota de passagem de muitas pessoas que se deslocam diariamente na maior cidade de Santa Catarina. Porém, quem passa pelo local sempre observa que há diversas pessoas, principalmente de idade mais avançada, que ficam nos bancos da praça, faça sol ou faça chuva, por horas.

Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

Jogos, passatempo, amizade, apelidos. Tudo isso faz parte da rotina das pessoas que frequentam diariamente a praça Nereu Ramos, que há anos é ponto de encontro de jogadores de cartas e dominó. Esse último é uma das razões de Venisio Francisco, mais conhecido por Maninho, ir até a praça há pelo menos dez anos.

Com 72 anos e aposentado por idade, mas ainda na “ativa” como funcionário público, conta que recebeu um convite para jogar dominó e começou por brincadeira, mas que gostou e não parou mais. “Saio 13h do trabalho, passo no banco às vezes e depois venho para cá”, explica.

De acordo com Venisio, os jogadores de dominó permanecem na praça mais no período da tarde. | Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

O morador do bairro Paranaguamirim também conta que, desde quando começou a frequentar o local, já participou de campeonatos realizados e que muita coisa mudou de lá para cá. “Antes havia mais mesas, mas tiraram. A segurança também aumentou”. Além disso, relembra das amizades que já fez. “Infelizmente alguns que conheci no início já se foram, mas com certeza fiz grandes amigos”, reflete.

Venisio é natural de Camboriú e chegou em Joinville aos 19 anos. Ele frisa que ir até a praça está atrelado a uma das três paixões pessoais. “A primeira é a família, depois a praia e por último o dominó. Por isso, é uma alegria estar aqui.”

Pela amizade

Também há aqueles que preferem frequentar a praça Nereu Ramos não pelo jogo, mas pelas amizades. Esse é o caso de Jacó Reinert, que dos 68 anos de idade, há 40 frequenta o local.

Aposentado e morador do bairro Boa Vista, ele conta não gosta de jogar cartas ou dominó e fica somente observando os colegas. “Gosto de vir aqui para não ficar em casa durante o dia. Faço qualquer coisa para isso. Então sempre estou por aqui, independente do clima”, explica.

Jacó (à esquerda) ao lado do amigo José Luiz no palco da praça Nereu Ramos. | Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

Como possui o hábito há muito tempo, Jacó revela que a maioria das pessoas compartilham as lutas diárias da vida.  “Todo mundo sabe da vida de todo mundo. E no que podemos ajudar, a gente ajuda”, conta. Por isso, quando a pandemia da Covid-19 chegou em Joinville em 2020, Jacó ficou sem poder estar em um dos locais preferidos. “Foi horrível ficar em casa. Porque gosto de tudo, menos de ficar parado.”

Campeão na praça

Com a presença frequente dos jogadores de dominó e cartas, a praça Nereu Ramos já recebeu diversos campeonatos ao longo das décadas e, consequentemente, muitos se tornaram campeões. Entretanto, há um campeão especial que frequenta o local, mas não é de dominó e nem de cartas.

O grande campeão é Sílvio Ferro Filho, mais conhecido como Silvinho, campeão do Campeonato Catarinense de 1976, primeiro título da história do Joinville Esporte Clube (JEC). Com 74 anos, o ex-jogador tem a praça como ponto para reencontrar os amigos que fez durante os 49 anos que reside em Joinville.

Silvinho (Terceiro em pé da direita para esquerda) perfilado na final do Campeonato Catarinense de 1976 diante do Juventus-RS. Foto: Memória Tricolor/Divulgação

Natural de Limeira (SP), chegou no município em 1973 para ser jogador do Caxias Futebol Clube por conta de uma indicação de amigo que jogava no Alvinegro. Após a fusão entre os departamentos de futebol do clube e do América Futebol Clube, passou a integrar o elenco do JEC.

Desta forma, participou da primeira partida da história do tricolor do Norte catarinense diante da equipe do Vasco da Gama. O amistoso, que aconteceu no dia 9 de março, aniversário de 125 anos de Joinville, terminou 1 a 1. Foi histórico. E Silvinho estava lá como lateral-esquerdo. E de titular. Segundo ele, foi assim em todos os outros jogos com a camisa preta, branca e vermelha. “Sempre fui titular no JEC e digo com toda a modéstia do mundo que era um bom jogador. Tinha confiança no meu futebol.”

Silvinho (primeiro em pé da esquerda para direita) na primeira partida da história do JEC, contra Vasco da Gama, no estádio Ernestão. Foto: Memória Tricolor/Divulgação

E, entre uma partida e outra durante a campanha vitoriosa, Silvinho frequentava a praça Nereu Ramos para deixar a bola de lado e estar próximo aos torcedores. “Era cheio de mato e árvores. Foram construindo e aumentando a praça com o tempo”, relembra.

Ainda naquele ano também começou a namorar e, logo depois, se casou, o que mudou o rumo da sua vida. Após o casamento, as prioridades mudaram e, com isso, decidiu parar de jogar para estudar e trabalhar em outra área. “Estava no auge como jogador, mas o estudo e minha mulher eram prioridades.” Com a decisão, fez um curso de mecânica, mas trabalhou efetivamente na parte médica da companhia Tupy, onde permaneceu até 2020, quando se aposentou.

Porém, mesmo com toda a mudança, duas coisas não mudaram: a paixão pelo esporte e ir até a praça Nereu Ramos. Sempre que podia, saía do bairro Boa Vista, onde sempre morou, para estar com os amigos. E isso continua até os dias atuais, quando sai de casa para realizar as caminhadas diárias e tem o local como rota de passagem. “É um lugar maravilhoso. Só tenho amigos aqui e, desde quando cheguei, sinto que as pessoas gostam de mim”.

Silvinho, com 74 anos, na praça Nereu Ramos após caminhada diária. | Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

E, como um bom competidor que foi na época de Caxias e JEC, Silvinho ainda dá uma de jogador, mas agora no dominó. “Brinco um pouco como passatempo. Mas venho mais por conta das amizades e porque me sinto bem”, finaliza.