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“É como me comunico”: irmãos que integram primeira companhia de balé de cegos do mundo se apresentam em Joinville

Grupo iniciou as apresentações nos palcos abertos nesta terça-feira

“É como me comunico”: irmãos que integram primeira companhia de balé de cegos do mundo se apresentam em Joinville

Grupo iniciou as apresentações nos palcos abertos nesta terça-feira

Yasmim Eble

“A dança é meu modo de viver”, diz o bailarino Gabriel Domingues, de 25 anos, integrante da Cia Ballet de Cegos, da Associação Fernanda Bianchini, de São Paulo. O grupo, único reconhecido mundialmente por ser formado por pessoas com deficiência visual, se apresentou no palco aberto do Shopping Cidade das Flores nesta terça-feira, 25.

Reconectando, apresentada por Gabriel e Cintia Domingues, e Copélia, apresentada por Jéssica Lacerda e Alexsandro Lima, foram as duas coreografias escolhidas pelo grupo. “A coreografia Reconectando foi montada na época da pandemia, no final de 2020. Em um momento que não podíamos nos aproximar, eu e Gabriel só tivemos essa possibilidade porque somos irmãos”, explica Cíntia. 

A peça foi montada para simbolizar a criação de laços e as possibilidades limitadas em um momento em que não era possível se conectar pelo toque. E é a primeira coreografia apresentada por duas pessoas com deficiência visual. Já Copélia é um pas-de-deux montado após a pandemia.

“Nós aprendemos a coreografia logo após voltar para o presencial. Ainda foi desafiador já que foi necessário se acostumar com o ambiente novamente”, conta Jéssica Lacerda, de 27 anos. Foi na época também que Jéssica voltou para a sapatilha de ponta após dois anos.

“Maneira como me relaciono”

Gabriel e Cintia Domingues, de 25 e 32 anos, são irmãos e nasceram com uma doença degenerativa relacionada à idade. “Em nossa infância, tivemos um momento onde tínhamos 100% da visão, que foi se perdendo ao longo do tempo”, explica Gabriel. 

Por crescerem em uma família ligada à dança, Gabriel e Cintia se conectaram à arte desde muito cedo. “Aos oito anos eu já aprendia passos de dança com a minha irmã. Quando eu percebi, eu já não via outro caminho para seguir se não a dança”, conta o irmão. 

Os irmãos aprenderam a coreografia durante a pandemia | Crédito: Yasmim Eble/O Município Joinville

Gabriel seguiu a carreira acadêmica, se graduando e realizando a pós-graduação em dança. Atualmente faz parte de diversas companhias de dança em São Paulo e vive da arte. “Eu entendo que agora estou perdendo a visão e penso em como vou pensar dança a partir disso”, conta. 

Para ele, a dança é o modo como vive. “É a forma como me relaciono com as pessoas, como entender as relações humanas. A dança é a maneira como me comunico”, completa.

Para Cintia, a irmã mais velha, a dança é uma profissão que transformou a vida dela. “Eu sempre tentei escapar da dança e ela sempre me trouxe de volta. A dança me deu um novo sentido e objetivos, me fez prosseguir”, relata. Cintia conta que, quando começou a perder mais a visão, pensou em desistir, porém, foi na arte que se encontrou novamente. Atualmente ela atua como professora de dança.

Ressignificações

Jéssica Lacerda, de 27 anos, nasceu com deficiência visual. A paulista, que sempre foi tímida e nunca gostou de falar, viu na dança uma forma de se expressar. “Durante a escola eu sofri muito bullying, o que me fez sair do colégio. Minha autoestima e perspectiva estavam muito baixas quando encontrei a associação”, explica. 

Jéssica e seu par Alexsandro se apresentando no Festival de Dança de Joinville. | Crédito: Yasmim Eble/O Município Joinville

Foi na Associação Fernanda Bianchini que Jéssica passou a ganhar mais confiança e se tornou uma pessoa completamente diferente. “A dança me transformou, me ressignificou. Me fez voltar para a sala de aula e foi por conta disso que iniciei uma graduação e hoje faço Fisioterapia”, conta a bailarina. 

Jéssica também dá aulas de balé para crianças. “A deficiência visual não me impediu de fazer nada, pelo contrário, me deu asas”, completa.

Sobre a Cia Ballet de Cegos

A Cia Ballet de Cegos foi formada dentro da Associação Fernanda Bianchini, que está formando bailarinos desde 1995. O local foi idealizado pela dançarina e fisioterapeuta Fernanda Bianchini após ela ter contato com crianças com deficiência visual em um projeto voluntário.

Essa é a única companhia de cegos reconhecida mundialmente. Atualmente, o projeto abraça pessoas com diferentes deficiências e em vulnerabilidade social. E o projeto visa fazer a sociedade reconhecer bailarinos com deficiência como artistas.


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