Arquivo pessoal

Por Yasmim Eble
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“É uma luta diária e você precisa se agarrar no que é importante na sua vida para não desistir”, relata Ana Michelle, de 43 anos, moradora de Joinville que foi diagnosticada com câncer de colo de útero em 2019.

Natural do Pará e mãe de dois filhos, de 10 e 23 anos, Ana luta contra a doença antes mesmo de descobrir seu diagnóstico. “Em 2018 eu fiz uma cirurgia para a retirada do útero e o médico, na época, me falou que eu tinha um mioma”, conta. No ano seguinte, por questões pessoais, Ana se mudou para Joinville e conseguiu um emprego em abril daquele ano como zeladora.

Em julho, começou a perder peso e sentir muitas dores no local da cirurgia. “Eu procurei um médico e comecei a fazer vários exames, mas estava tudo normal”, conta Ana. Quatro meses depois, novos sintomas começaram a aparecer.

“Eu tinha muita febre e as dores aumentaram muito. Foi então que minha supervisora resolveu me levaram ao hospital e fui internada”, lembra Ana. Foram cinco dias no hospital até chegar o diagnóstico de câncer de colo de útero, após realizar a biópsia e novos exames.

Ana está em tratamento desde final de 2019. | Crédito: Arquivo Pessoal

A suspeita era que Ana estava com a doença desde a cirurgia no útero, em 2018. A doença, quando diagnosticada, já estava em um estágio mais avançado. “No primeiro momento, foi como se o médico tivesse me falado “você vai morrer”, foi desesperador”, conta.

Ana conta que chorou muito e apenas pensou nos filhos, que na época estavam no Pará, e em na família. “Apenas pedi a Deus por força para aguentar”, lembra. Com o tempo, inseguranças como a perda dos cabelos e a vaidade passaram pela mente e, principalmente, todo o caminho que precisaria percorrer para se curar da doença.

Tratamento

Desde então Ana realiza o tratamento no Hospital Municipal São José com quimioterapia e durante esse período precisou passar por outras duas cirurgias. Em 2020, precisou tirar um dos ovários.

Após isso, um tumor foi detectado na coluna e uma nova cirurgia foi realizada para a retirada do tumor no local. “Tinha o risco de afetar minhas pernas e eu não andar mais”, conta. Felizmente, a cirurgia foi um sucesso e Ana se recuperou.

Outros hábitos também mudaram na vida de Ana, que passou a praticar exercícios físicos e mudou a alimentação. “É uma luta constante. Tenho sorte de ter médicos e enfermeiros que cuidam da minha saúde e são uma benção na minha vida”, completa.

Resiliência e força

Ana faz sessões diárias de quimioterapia, dependendo do quadro e da avaliação médica. Para ela, os efeitos colaterais são os piores momentos. “Os dias de quimioterapia são os piores, pois você não tem domínio sobre o próprio corpo. São sensações muito difíceis de explicar”, conta.

Em muitos dias, se manter de pé é um desafio, principalmente com o tratamento puxado. “Não gosto de mostrar isso para os meus filhos que não estou bem, mas procuro sempre estar tentando ser forte”, explica.

Resiliência pode definir a moradora de Joinville. Metade dos dois anos de tratamento Ana passou sozinha em Santa Catarina. O filho mais novo, de 10 anos, apenas veio morar com ela um tempo depois. Os outros familiares continuam no Pará, mas para ela, a família continua presente e são sua força.

“Cair para depois levantar com mais força”, conta Ana sobre como se sente nesses dois anos de tratamento. Mesmo com momentos de desesperança, foi na sua religiosidade que ela busca impulso para continuar. “É em Deus e na minha família que busco forças para lutar”, completa.

Arquivo Pessoal

Março Lilás

No Brasil, 7 mil pessoas morrem anualmente pelo câncer de colo de útero. O mês de março é dedicado à conscientização da doença que atinge mais de 16 mil pessoas no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Março marca o mês de conscientização para a saúde da mulher, em específico ao combate ao câncer de colo uterino. De acordo Lucas Sant’Ana, médico oncologista que integra o corpo clínico do Hospital Dona Helena, trata-se do terceiro tipo de câncer mais prevalente entre a população feminina, acometendo, principalmente, mulheres com menos de 50 anos.

E é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano – HPV. A infecção genital por esse vírus é muito frequente e na maioria das vezes não causa doença. Em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer.

Por ser uma doença silenciosa, cerca de 35% dos casos culmina em óbito. A detecção precoce aumenta as chances de cura.

Sobre o tratamento

O tratamento depende do estágio no qual a doença se encontra, por isso a importância de ações preventivas para o diagnóstico precoce. Para estágios iniciais, a cirurgia costuma ser curativa.

Nos mais avançados, pode haver necessidade de radioterapia ou quimioterapia. “O diagnóstico precoce de lesões pré-malignas pode diminuir a possibilidade de que o câncer apareça, já que é possível tratá-las em fase mais inicial”, explica o especialista, Lucas Sant’Ana.

O exame do papanicolau, voltado para rastrear alterações nas células do colo do útero, é recomendável e um grande aliado para o diagnóstico precoce. “O papanicolaou é uma das maiores armas da medicina para identificar esse tipo de enfermidade, inclusive infecções pelo HPV, que podem ser tratadas antes que se transformem em câncer”, enfatiza o oncologista.

A recomendação é que as mulheres façam o exame três anos após a primeira relação sexual e anualmente a partir de então. Mulheres que não tiveram relação sexual até os 18 anos devem fazer o papanicolaou, anualmente, a partir dos 21 anos.