“É uma relíquia”: há 45 anos no Fórum de Joinville, funcionária conserva processos antigos
No local, há livros com ações penais da década de 1920
Uma sala que guarda parte da história da cidade. É assim que Raquel dos Anjos, 67 anos, trabalhadora do Fórum de Joinville, vê o setor do Cartório de Distribuição de Feitos Civis do Tribunal de Justiça (TJ-SC), onde atua e preserva os registros históricos da comarca há 45 anos.
A função do setor, na verdade, é distribuir os novos processos aos juízes de cada vara competente, seja da família, criminal, civil, entre outras. Fazer consultas processuais solicitadas pelos envolvidos da ação também fica a cargo do setor.
Por isso, desde 1976, quando começou a trabalhar na distribuição, Raquel tem acesso a processos atuais e, também, aos muito antigos. Sobre sua mesa, pode abrir e folhar livros de processos com datas anteriores há 1920, que registram nome de réus, juízes e detalhes das ações penais.
“É uma relíquia, é a história da comarca e parte da história de Joinville, das pessoas que passaram por aqui”, explica.
Hoje, é possível consultar processos pela internet. Mas, na época em que Raquel começou a trabalhar na distribuição, os processos eram distribuídos em livros e organizados por datas. Ela lembra que, em cima de sua mesa, ficavam pilhas e mais pilhas de papéis. “Não conseguia enxergar o que estava do outro lado da mesa”, recorda.
Para facilitar a pesquisa, a trabalhadora revolucionou ao criar uma metodologia com fichários. Organizados por ordem alfabética, é possível encontrar o papel com o nome do réu, que indica exatamente em qual livro o processo está.
Passagem de eras
Há cerca de dez anos, Raquel viu as ações penais passarem do papel para as telas dos computadores. Apesar do avanço tecnológico, ela, que também é formada em História, vê a importância de conservar os livros que antes abrigavam páginas e páginas de processos.
Inclusive, prefere ver as ações penais em folhas de papel. Pela experiência, afirma que consegue encontrar as informações de forma mais fácil ao folhar cada página. De qualquer forma, se adaptou com maestria ao sistema do computador.
Hoje, Raquel divide uma de suas tarefas com o computador: distribuir os processos às varas competentes. Enquanto ela fica com as ações que chegam pelo correio, em forma de livros, o sistema recebe e distribui as informações que chegam de forma online.
Outra função do setor é consultar informações que estão em processos antigos, não digitalizados, ou das ações mais novas, nos casos em que o sistema não consegue as encontrar. Além disso, Raquel ainda faz o que a tecnologia não pode fazer: atender com simpatia os joinvilenses e repassar informações de forma clara.
Após 45 anos de trabalho, logo Raquel deve se aposentar. Porém, a preocupação pelo atendimento continua. A trabalhadora afirma que instiga a equipe sempre a atender a população da forma mais empática possível. “Ninguém vem aqui no Fórum por uma coisa boa, então a gente precisa ouvir e ajudar”, afirma.
Durante a pandemia, este foi um desafio. “Fica só a gente aqui, não podia atender quem vinha na porta. Mas tem gente que não sabe acessar o sistema, um e-mail, então a gente ia lá fora, com um papel, e tentava ajudar aquela pessoa”, lembra.
Futuro da comarca
Hoje, as folhas dos fichários e livros estão amareladas, marcadas pelo tempo em que seguem guardadas. Raquel afirma que, enquanto estiver no setor, vai manter todos os livros e fichários no local e em bom estado, dentro do que os efeitos do tempo permitirem.
“Quando eu sair daqui, não sei o que vão fazer”, comenta. Mas, espera que estes processos sejam conservados, por conta de seu valor histórico. “Um dia, pessoas podem estudar a história da comarca, quem esteve por aqui”, conta.