Empresas de Joinville apostam em inteligência artificial para melhorar processos e alavancar negócios
Mercado mundial da inteligência artificial deve alcançar 1,6 trilhão de dólares até 2030
A inteligência artificial (IA) está se tornando uma grande aliada para as empresas. Em Joinville, o cenário não é diferente para as micro e pequenas empresas, que trilham o caminho rumo à transformação digital e buscam soluções para melhorar a produtividade e alavancar os negócios.
As possibilidades de aplicação da inteligência artificial dentro de empresas são diversas, tendo oito principais áreas, como atendimento ao cliente, marketing e otimização.
Em Joinville, as startups Q-Assist e Vikhon criaram suas próprias ferramentas de IA. Já as empresas Meu Replay e Signia apostaram nas ferramentas disponíveis no mercado para otimizar as atividades diárias. O uso da IA foi pensado para suprir dores e preocupações dos empreendedores, que encontraram na tecnologia formas de aperfeiçoar os processos no trabalho.
“A ferramenta é um robô que interpreta os dados e elenca eles para auxiliar as demandas apresentadas. Ela precisa ser treinada e é inteligente apenas nesta área onde é alimentada”, explica. Por isso, a IA consegue realizar esses processos e até mesmo dominar as áreas.
Mesmo assim, o contato humano é indispensável, segundo o professor. “Ela é uma ferramenta, portanto, é para o auxílio das pessoas”, acrescenta. O mercado também possibilitou a criação de novas empresas, especialmente na área de tecnologia da informação. “Em resumo, é uma tecnologia disruptiva que está auxiliando a forma como trabalhamos e vivemos”, completa.
Além disso, Daniella conta que a IA pode ajudar empreendedores a tomar decisões. “É possível extrair insights valiosos de grandes volumes de informações, identificar padrões e tendências, entender o comportamento de clientes e prever cenários futuros”, acrescenta.
Atualmente, o mercado mundial da inteligência artificial é avaliado em 165 bilhões de dólares, podendo alcançar 1,6 trilhão de dólares até 2030.
Deste grupo, 73% afirmam ter acelerado seus investimentos na implantação dessa tecnologia nos últimos 24 meses.
“Temos muitos avanços tecnológicos e o custo foi reduzindo. Além de que vivemos em um estado com um bom ecossistema de startups e uma disponibilidade de dados ampla”, pontua Daniella Vieira, gerente de Tecnologia da Informação no Sebrae.
Em setembro de 2022, o ranking divulgado pela StartupBlink colocou Joinville entre as dez cidades do Brasil com melhor ecossistema de startups. Segundo o diretor-executivo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Joinville, William Escher, a transformação digital destes negócios tem se mostrado uma importante ferramenta para manter as empresas operantes e competitivas.
“A Join.cubo, que é uma incubadora pública criada pela Prefeitura de Joinville, é uma ferramenta gratuita oferecida ao mercado para auxiliar na transformação digital destas pequenas empresas. A cidade de Joinville foi premiada com a 3ª melhor cidade para se empreender no Brasil e os números são reflexo disso”, explica o diretor-executivo.
Para ele, o ecossistema de inovação e o ambiente de negócios favorável possibilita que as empresas apostem em sistemas inovadores como a inteligência artificial.
Outra demanda importante é o conhecimento e a capacitação. Esses passos são fundamentais para aproveitar e conseguir implementar a IA de forma eficaz. “O Sebrae vem realizando ativamente promoções e disseminação do conhecimento sobre tecnologias, incluindo a inteligência artificial, no contexto das micro e pequenas empresas”, completa Daniella.
A ideia central da Meu Replay é a instalação de um sistema de câmeras em ginásios e arenas para que, ao final do jogo, a pessoa consiga ter o frame que quiser. “A gente é apaixonado por esporte e buscamos trabalhar com algo voltado. Queríamos impactar a vida das pessoas e então o esquema de replay nasceu”, explica Emerson.
Com sede no Ágora Tech Park, por meio da Softville, a Meu Replay teve um crescimento de clientes após a flexibilização das medidas da Covid-19, em 2021. O aumento na demanda levou a equipe a pensar em formas de facilitar o trabalho. “Nós somos um time enxuto, com cinco pessoas, então sempre pensamos em como inovar no nosso dia a dia. O customer service fez muito sentido para a gente”, comenta o CEO.
O grupo utiliza uma IA especializada e treinada para o atendimento ao cliente com o WhatsApp integrado. Após a venda das câmeras para as arenas esportivas, a empresa faz todo o atendimento ao jogador. Por isso, pensaram numa alternativa que utilizasse IA. “Foi reduzido 65% do atendimento humano desde que mudamos a plataforma, já que nossa maior demanda era com dúvidas”, conta.
Atualmente, 35% das conversas são comandadas por humanos, com demandas mais densas. Mesmo assim, a meta é expandir esse tipo de atendimento para que a IA consiga até mesmo solucionar problemas comuns. “No futuro pensamos em aplicar outros tipos de IA no nosso negócio. Talvez utilizá-la na captação dos vídeos para fazer leituras e identificar jogadas. O sistema está sendo estudado, mas tem tudo para acontecer”, completa.
O CEO Rafael Fernandes trabalhou por 20 anos na área de RH. “Eu estive em campo e senti a dificuldade que meus colegas sentiam na época. Quando encerrei minha carreira corporativa, eu quis empreender”. Nasceu assim a Vikhon, uma empresa de tecnologia como plataforma de gestão de recursos humanos para gestão de pessoas e performance. O objetivo é ajudar os gestores a tomarem decisões corretas e os colaboradores a entenderem suas fragilidades e forças.
O uso da inteligência artificial é aplicado no módulo de gestão de atividades da empresa. O mecanismo ajuda no mapeamento do colaborador mais adequado para cada atividade criada. “Contamos com um modelo matemático exclusivo para metrificar resultados. Esses dados são apresentados por meio de gráficos e números cruzados”, explica Rafael.
A ferramenta foi criada para ser flexível, auxiliando no aprimoramento de pessoas e no processo de gestão. “Criamos a plataforma para ser fácil para quem não tem o preparo técnico e ajudar nas decisões”, acrescenta o CEO.
Por meio da ferramenta, a base de dados da IA é alimentada diariamente. A plataforma também auxilia na otimização do tempo, já que proporciona uma avaliação em minutos, enquanto essa mesma análise seria feita em seis meses ou até um ano. “Usamos um cálculo de dados qualitativo e quantitativo para assim entrar com o resultado final, integrando tudo. Ela ajuda a gestão a tomar decisões”, diz Rafael.
Por ser uma tecnologia própria, a previsão é que uma segunda onda de aprimoramento com outros processos de inteligências seja testada. “Entender pessoas é muito complexo, então imagina para uma IA. Por isso queremos eliminar os riscos, mostrar resultados justos e ter uma ferramenta humanizada”, completa.
Além da ferramenta criada pela empresa, os colaboradores da Vikhon também utilizam IA para soluções de dados e analytics. O ChatGPT é outro mecanismo utilizado no dia a dia para auxiliar nas respostas a clientes, textos para as redes sociais e outras demandas. Além de IA para atendimento ao cliente.
O fundador e CEO da Q-Assist, Dieter Borgert, relata que a utilização da IA em procedimentos da empresa já era discutida há muito tempo. Os funcionários utilizam IA por meio de sistemas para fazer slides, criar textos e avatares para a produção de vídeos institucionais, entre outras atividades.
“Eu sempre fui ligado à tecnologia, portanto o assunto foi natural. Em 2022, nós entramos de forma mais profunda nisso e o assunto passou a ser discutido na nossa divisão chamada Q-Assist Labs”, explica.
Dentro da divisão, entre novembro e janeiro, o projeto foi criado e intitulado como SmartQI com a ferramenta PA-AI, sigla para professional assistant with artificial intelligence, que em tradução do inglês para português significa assistente profissional com inteligência artificial.
Em fevereiro, uma equipe foi formada com consultores, profissionais do marketing e vendas, além da diretoria do espaço. “Nesse período, começamos a colocar todo o nosso conhecimento na ferramenta. Desde nossa metodologia própria até os métodos de planejamento estratégico. Foi o momento de alimentar a IA”, conta. Esse processo foi essencial para redução de erros, já que a inteligência artificial precisa ser treinada. Foi assim que o mínimo produto viável (MVP) começou a ser criado.
O projeto nasceu com dois pilares: diagnóstico empresarial e planejamento estratégico. Porém, a IA foi se expandindo e os pequenos processos de cada pilar também podem ser realizados como, por exemplo, uma análise swot ou a redefinição da missão, visão e valores de uma empresa.
Mesmo no período de teste, já foi possível perceber que a ferramenta vai ajudar os empreendedores a dar mais agilidade nos processos. “Um planejamento estratégico, por exemplo, que levaria dias para ser feito, agora será feito em horas. Acreditamos que isso poderá alavancar os negócios e ampliar a gama de cliente”, completa o CEO.
Esse foi o caso de Thais Gomes, microempreendedora e fundadora da marca de roupas femininas Naz, em Joinville. “Nunca pensei que precisaria de um planejamento estratégico. Como somos uma loja pequena de confecção própria, era muito difícil fazer uma análise tão clara do negócio”, explica.
Ela foi uma das várias clientes que, com seu serviço, ajudaram no treinamento da IA da Q-Assist. “Ver minhas fraquezas e minhas forças foi essencial. Agora consigo pensar em melhores estratégias de marketing. E ter esse contato com a inteligência artificial também me ajudou a expandir os olhares”, conta.
Após esse primeiro contato, Thais passou a usar plataformas de inteligência artificial, como o ChatGPT, para produção de conteúdos para a marca e prevê utilizar mais da IA para atendimento ao cliente.
Para fornecer o produto, a IA da Q-Assist, apelidada de Eva, disponibiliza de 20 a 30 perguntas, dependendo do serviço solicitado.
A IA faz o trabalho de identificar as respostas e comparar com os documentos enviados pelos clientes. “O documento deu pontos para que eu pudesse refletir sobre o meu negócio, foi meu primeiro contato com a IA. E eu percebi que ela usou minhas ideias, mas de uma forma clara e objetiva”, diz Paulo Gannam, fundador da startup Smart Parking, empresa focada em solução para proteção de rodas, pneus e calotas de veículos.
O empresário Gustavo Tizoni, proprietário da Fight On-Line, loja de suplementos e acessórios esportivos, destaca que a ferramenta é prática. “Eu sou multifunção. Estou sempre atendendo clientes, verificando estoque, produzindo conteúdos para as redes sociais. Não dá para parar. Com a IA, eu conseguia responder às perguntas e ainda resolver as coisas no trabalho”, conta. Ele também passou a utilizar outras ferramentas de inteligência artificial no dia a dia após esse primeiro contato.
Por conta disso, a inteligência artificial começou a ser testada na empresa em 2021. “Começamos utilizando um software chamado DALL-E. Porém, ele não proporciona imagens em boa resolução, era uma ferramenta relativamente nova”, explica o fundador e CEO da Signia, Jorge Pietruza.
No início de 2023, a empresa começou a utilizar de forma concreta duas plataformas: Midjourney e o ChatGPT. “O Midjourney é o que mais se encaixa com o que produzimos. Ele dá referências imagéticas e é perfeito para o nosso trabalho, que é mais imagético no início do projeto”, explica o designer gráfico e ilustrador Paulo Petry.
A maioria dos trabalhos e atividades estão ligados a interatividade, imagem, vídeo, realidade aumentada, realidade virtual e outras experiências relacionadas a computação gráfica. Com a ferramenta, a equipe tem acesso ao que usuários pesquisaram sobre determinado tema. Ampliando as referências e trazendo novas soluções para a construção de um projeto de imagem ou vídeo.
“Acho que a principal coisa é a riqueza de escolhas, além da velocidade. Antes o que eu demoraria um dia para compilar em ideias e quatro dias para ilustrar. Agora eu recebo em minutos”, acrescenta Paulo.
O tempo ganho acaba sendo redirecionado para outras etapas do processo que podem ser realizadas com mais detalhes. “Nós também passamos a ofertar para mais clientes o serviço, ampliando nossos negócios”, explica Jorge.
Outra ferramenta é o ChatGPT. “Utilizamos para produção de textos, legendas e até mesmo correções ortográficas. A ferramenta está nos ajudando a ampliar o diálogo com o mercado”, finaliza a gerente de Marketing Gabriella Adratt.