Enfermeira de Joinville deixa carreira para realizar sonho de infância de ser “turista”

Michele Souza já conheceu mais de 30 países

Enfermeira de Joinville deixa carreira para realizar sonho de infância de ser “turista”

Michele Souza já conheceu mais de 30 países

Brenda Pereira

A experiência de uma joinvilense apaixonada por viagens se transformou em um novo estilo de vida e, ao mesmo tempo, em uma forma de inspirar outras mulheres a se aventurarem pelo mundo. Enfermeira da rede pública há 21 anos, Michele Souza, de 47 anos, decidiu deixar a rotina profissional e pessoal para realizar um sonho de infância: ser turista.

Os pais tinham uma loja de souvenir e Michele tinha contato com viajantes desde pequena. “Uma vez alguém me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Eu falei ‘quero ser turista’”, relembra. “E minha mãe falou que não, que eu teria que trabalhar para ser turista uma vez por ano”, acrescenta.

Durante a infância e a adolescência, Michele fez pequenas viagens com a família. O primeiro destino internacional foi a Holanda, aos 20 anos, em uma viagem com o namorado.

Os anos passaram, ela concluiu a faculdade, terminou com o namorado, conheceu outra pessoa e casou. Nesse período, viajou apenas para locais próximos.

Mudança de planos

Foi recentemente, aos 43 anos, que o desejo de ser turista virou realidade. A pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas: além do desgaste da profissão, enfrentou uma cirurgia delicada no fim de 2020, e, poucos meses depois, em 2021, perdeu os pais.

O impacto das perdas a fez repensar a trajetória e buscar um novo propósito. “Eles morreram jovens, antes dos 65. O pai tinha acabado de se aposentar, estava querendo que a minha mãe se aposentasse logo para eles aproveitarem a vida”, conta Michele. “E eu pensei, eles morreram e não conseguiram realizar os sonhos deles, deixaram muita coisa para fazer depois”, complementa.

Diante dessa crise existencial, a enfermeira passou por mais um momento difícil. Foi contaminada com a Covid-19 e passou sete dias internada no hospital. “Ali eu comecei a repensar mesmo a minha vida, eu não estava feliz com o trabalho, com o meu relacionamento”, recorda.

“Não me encontrava mais, não tinha noção de quem eu era e as coisas que eu gostava de fazer. Tinha me perdido naquela tendência que nós mulheres temos de sempre agradar os outros. A gente faz o possível para ser aceita e vai cedendo e, de repente, a gente se vê perdida”, relata Michele.

Ela se divorciou em 2022 e, em setembro, viajou sozinha para Curitiba (PR) e Florianópolis. Nessa experiência, começou a se habituar à solitude. “Me senti bem e me preparei para fazer minha primeira viagem internacional solo”, diz Michele.

Primeiras experiências

Em 2023, Michele tirou férias e passou dois meses viajando sozinha. Conheceu oito países, entre eles Turquia e Grécia. “Amei essa experiência e conheci muita gente que estava vivendo de forma alternativa”, recorda. Ali, começou a pensar em mudar o estilo de vida.

Quando voltou, a enfermeira solicitou a licença não remunerada de dois anos, vendeu e doou grande parte dos pertences, alugou o apartamento e partiu novamente.

Michele em viagem à Tailândia. | Foto: Arquivo Pessoal

Em 27 de dezembro de 2023, embarcou para a Turquia e, logo depois, seguiu para a Tailândia, onde encontrou a primeira cliente: uma mulher de 50 anos que sonhava em viajar, mas não falava inglês e temia embarcar sozinha. Acompanhando essa viajante por dois meses pelo Sudeste Asiático, percebeu a demanda por orientação e suporte para mulheres que desejavam explorar o mundo, mas se sentiam inseguras.

A companheira de viagem voltou para o Brasil em março de 2024 e Michele seguiu para a Índia, passou pelas Filipinas, foi até o Japão e Coreia do Sul. Foram 17 países visitados no ano passado. Ao todo, a enfermeira já esteve em mais de 30 países, tendo visitado 25 deles em viagens solo.

Dos lugares que já visitou, um especial é Praga, a capital da República Tcheca. Foi lá que ela conheceu uma argentina que morava na cidade e recepcionava viajantes. “Despertou esse desejo em mim de trabalhar com turismo”, relata Michele.

Michele visitando uma plantação de flor de lótus no Camboja | Foto: Arquivo Pessoal

A enfermeira também é apaixonada pela Turquia. “É um país que a gente conhece muito pouco. Quando pensamos na Turquia, lembra de Istambul, dos balões, mas é um país que tem uma geografia linda, tem lugares maravilhosos, tenho amigos lá, então me sinto confortável”, conta.

O lugar com o qual Michele mais se conectou, do ponto de vista pessoal, foi o Egito. “Entrar naqueles templos, nos sarcófagos, visitar os ambientes milenares. Me identifiquei muito com a cultura, são muito parecidos com a gente, tirando a questão da religião”, diz. Ela revela que está planejando uma viagem para mulheres ao Egito.

Michele em frente ao Museu ArtScience, em Singapura. | Foto: Arquivo Pessoal

Viajar devagar

Michele não costuma fazer muitos planos. “Eu descobri que gosto de viajar devagar. Quando fiz muitas viagens, mudando a cada três ou quatro dias, me estressei, fiquei mal porque é cansativo, o tempo todo pensando o que vai fazer no outro dia”, explica.

Assim, o objetivo da viajante é ficar o máximo possível nos destinos. “Eu fiquei 30 dias na Índia, 40 no Japão, 30 no Egito, 90 na Turquia. Quero ir para a Tailândia e tentar ficar lá uns dois meses, aproveitar o tempo, conhecer mais do lugar”, conta. Por enquanto, ela está em Joinville, mas deve viajar em março.

Michele no Vietnã | Foto: Arquivo Pessoal

Consultoria

A partir do desejo de inspirar mais mulheres a viajarem e pela experiência que teve ao viajar com a primeira cliente, Michele criou um serviço de consultoria para viajantes. Ela oferece desde roteiros personalizados até acompanhamento presencial.

A proposta inclui planejamento detalhado, dicas de transporte e hospedagem e até experiências alternativas, como voluntariados. A ideia tem atraído principalmente mulheres recém-divorciadas, viúvas ou que, por diferentes motivos, nunca tiveram a chance de viajar sozinhas.

Ela ainda compartilha as vivências nas redes sociais, incentivando outras mulheres a superarem medos e conquistarem autonomia por meio das viagens. “A vontade que eu tenho é realmente inspirar, porque, em uma viagem solo, além de poder explorar um destino e realizar o sonho de conhecer um lugar desejado, há um momento de autoconhecimento, autorreflexão e empoderamento feminino, pois nos provamos capazes”, conclui.

Michele revelou à reportagem que escreveu um livro sobre como organizar a primeira viagem solo. Agora, ela está na etapa de buscar patrocinadores para publicá-lo.

Michele no Angkor Wat, um templo na cidade de Siem Reap, no Camboja. Foto: Arquivo Pessoal

“Comece pequeno”

Um conselho que Michele dá para quem tem vontade de viajar sozinho é começar aos poucos. Ir a lugares que se sente confortável, que não sejam muito desafiadores do ponto de vista de logística e linguagem.

Fazer um planejamento financeiro é fundamental. “Tem muitas alternativas de viajar com conforto e com custo menor. Planejar é importante para não voltar e ter que lidar com um monte de dívidas”, finaliza.

Michele na cidade Fuji-Kawaguchiko, no Japão. O local ficou famoso porque a loja de conveniência se “encaixa” na base do Monte Fuji. | Foto: Arquivo Pessoal

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