Sabrina Quariniri/O Municipio Joinville
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Por Sabrina Quariniri
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Sem muito sorriso, como já alerta de antemão, o comandante Celso Mlanarczyki Júnior recebe a reportagem do jornal O Município Joinville em seu escritório. Ele defende que “a cara dura” do policial é resultado de suas vivências na rua. O que não significa que atuam desta forma por falta de preocupação com a sociedade. Muito pelo contrário: dedicam suas vidas em prol dela.

“Normalmente, numa cena ou situação onde todos estão com medo de perder a vida, o policial cruza a cidade para chegar até o local e se deparar com aquilo. Enquanto os outros correm, o policial confronta”, diz.

Na atividade de comandante do 8° Batalhão da Polícia Militar há cerca de um ano, Celso afirma que a posição que ocupa lhe proporciona emoções distintas. Desde a alegria do êxito da guarnição que está na rua à tristeza do policial ferido.

E, mesmo ocupando a cadeira de comandante, faz questão de estar também atuando nas ruas, presente em algumas ocorrências. Sua satisfação seria atuar em uma guarnição de rádio patrulha ou tático, embora saiba que, agora, esta não seja mais sua atribuição.

“O meu tempo estando lá na rua é um tempo que vai faltar pra eu estar ajudando os que estão lá. Mas eu acompanho as guarnições, até mais do que eles imaginam, acompanho as principais situações de ocorrência e me sinto parte integrante, embora não esteja lá fazendo a prisão. Eu gosto da atividade operacional, sempre gostei”, afirma.

Polícia na linha de frente

O colete à prova de balas ao lado esquerdo de sua mesa entrega que o trabalho, por si só, já não é nada brando. Ainda assim, em 2020, além de coletes e uniformes, os policiais precisaram adequar à sua tradicional vestimenta marrom as máscaras de proteção.

Acostumados a habitar cenários de risco e extraordinários para o restante da população, em março do ano passado, os agentes tiveram de se preparar para lidar com uma situação absolutamente atípica e desconhecida: a pandemia da Covid-19.

Mesmo antes da confirmação do primeiro caso na cidade, a Polícia Militar já instruía suas equipes de forma antecipada. “Mas não há como se preparar para aquilo que se desconhece”, sublinha Celso.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Para o comandante, apesar das incertezas trazidas pela doença, que pairam até hoje, a Polícia Militar não deixou de cumprir seu papel. “Se há uma instituição que sabe se adequar e se moldar muito bem a novas situações e se reinventar para atingir os objetivos é a Polícia Militar”, ressalta.

Trabalho na pandemia

Durante a pandemia, uma das atividades que foi adicionada ao trabalho da PM foi a de fiscalização. O comandante conta que, dentro de 11 meses, os policiais do 8° Batalhão realizaram 10 mil fiscalizações, nas quais 134 locais foram interditados.

“A atuação da PM não é de repressão ou intolerância com relação a Covid ou qualquer outra demanda. Sabemos que os cidadãos estão sofrendo, seja num grau psicológico ou financeiro. A maior parte das vezes buscamos a mediação do problema”, explica o comandante.

Ele, porém, completa: “mas há momentos em que a gente sente que a pessoa está infringindo a lei por questão de ganância financeira ou simplesmente pela falta de preocupação com o próximo. Aí, sim, é necessária uma intervenção policial”, defende.

Somando-se às horas mal dormidas e cargas horárias estendidas, os policiais precisaram priorizar ainda mais as demandas da sociedade e, atuando na linha de frente do combate à doença, por vezes, precisaram afastar-se do convívio familiar.

“A PM não parou em nenhum momento. Foi comum vermos os policiais trabalhando e tendo que se afastar da família. O policial entrou nesta linha de frente sem qualquer preparo neste sentido, porque não há o que fazer. Nós temos equipamentos de proteção, mas o PM não consegue ficar separado em barreira de proteção entre ele e um cidadão infrator, por exemplo, porque pode entrar em luta corporal. Tivemos exposição seja com infratores ou com as vítimas dos infratores. Fizeram aí valer o juramento: ‘mesmo com o risco da própria vida'”.

Diminuição dos índices

Sentado em sua mesa atrás do computador, Celso desliza a tela do celular para relembrar os índices de criminalidade que foram reduzidos na região do 8° Batalhão durante seu comando. Sob sua responsabilidade há 24 bairros de Joinville, além dos municípios de Garuva e Itapoá.

Os dados mostram que, desde abril do ano passado, os homicídios foram reduzidos em 8,5%, já os roubos, em 39%. Os furtos em residência caíram em 65%, os de veículo, 53%. O roubo a pessoas e comércio caíram mais de 40%.

No projeto Rede Catarina de Proteção à Mulher, 701 visitas foram realizadas. Além disso, no tráfico de drogas, 228 pontos foram desarticulados e 88 armas foram apreendidas.

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Destacando a visibilidade que o 8° Batalhão da Polícia Militar tem a nível nacional, Celso avalia seu comando como “diferenciado”, principalmente em tempos de Covid-19. A aproximação com a comunidade, que é uma de suas principais estratégias, ficou prejudicada por causa das medidas de restrição.

No entanto, mesmo com encontros virtuais, os trabalhos continuaram sendo feitos. O comandante ressalta que a redução da criminalidade é uma de suas maiores conquistas à frente da corporação.

“O grau de iniciativa dos policiais, talvez, seja a maior satisfação que eu tenha. Não adianta ter recurso, ter meios, ter quantitativo de efetivo se o policial militar não é de qualidade. E Santa Catarina é referencia no país em qualidade no seu profissional. O 8° Batalhão é conhecido por iniciativa e grau de resolução de problemas. A produtividade só é reflexo da qualidade deles”, exalta.

Projetos para 2021

Celso afirma que a polícia opera em várias linhas de atuação ao longo do ano, já que a dinâmica de trabalho não permite que os esforços sejam determinados a situações específicas.

Logo no início de seu comando, foi traçado um plano que contempla diversas áreas de atuação, determinado a trazer desde uma aproximação com a sociedade e reaparelhamento logístico até a redução de índices de criminalidade.

“São várias situações, que não atingem só o campo operacional, que é aquele que a sociedade acaba visualizando de forma mais clara, mas também o campo administrativo, onde a gente atua da melhor forma possível para dar suporte aos policiais da rua. Isso traz, consequentemente, uma melhoria na qualidade de serviço”, evidencia.

Além das atividades policiais diárias, Celso diz que há projetos que precisam ser trabalhados de forma paralela, além disso, existem as práticas emergenciais, que podem surgir a qualquer momento.

“Hoje este delito pode não preocupar, mas ele pode se aflorar com o tempo e se tornar imediato. A gente trabalha sempre com uma avaliação estatística criminal, acompanhando índices e modus operandi que atuam dentro de Joinville, para avaliarmos se há uma linha e um padrão aceitável para a cidade e o que foge, para desempenharmos o trabalho com base nisso”, explica.

“Faca na caveira”

Em vários cantos de sua sala, inclusive estampado à frente de seu colete à prova de balas, o comandante Celso coleciona caveiras. De início, a imagem pode até parecer amedrontadora, mas ele explica que o símbolo de “faca na caveira” tem um significado mais considerável do que se imagina: “é a vitória da vida sobre a morte”, diz.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Emblema da tropa de Comandos do Brasil, Celso afirma, com orgulho, ser o único “caveira” da região. Com 23 anos de experiência na polícia, iniciou sua trajetória em Joinville, passando pelos dois batalhões da cidade.

Além disso, ficou por dez anos no comando da Companhia de Patrulhamento Tático, que se solidificou após sua conclusão no curso de operações especiais do BOPE. 

“Assim que me formei como oficial da Polícia Militar, em 2001, vim para Joinville para servir no 8º BPM, onde passei de aspirante para oficial. Desde então, adotei a cidade em caráter profissional e pessoal”, conta o coronel.

Carreira fora

Natural de Porto Alegre (RS), Celso também já trabalhou na área de inteligência policial, passou pela Polícia Ambiental e serviu por quase dois anos a Força Nacional de Segurança Pública, cumprindo missões em todas as regiões do país.

Por cerca de dois anos, antes de assumir o comando em Joinville, esteve à frente do 27º BPM, responsável pelos municípios de São Francisco do Sul, Araquari e Barra do Sul.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

“É uma satisfação e honra atuar aqui, onde iniciei minha carreira. Sempre deixei bem claro não só o carinho pela sociedade joinvilense e pela instituição, mas minha vontade de auxiliar e dar os meios para que os policiais pudessem fazer o seu trabalho, e é isso que é o foco da minha estada aqui. O comandante trabalha pelos seus policiais, e eu estou aqui por eles”, finaliza.


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