Entenda como expressão “égua” se tornou popular em Joinville

Joinvilenses utilizam termo em situações de espanto ou surpresa

Entenda como expressão “égua” se tornou popular em Joinville

Joinvilenses utilizam termo em situações de espanto ou surpresa

Bernardo Gonçalves

Se você mora em Joinville, em algum momento já ouviu ou usou a expressão “égua” para definir alguma situação, principalmente de espanto ou surpresa.

Mesmo sendo muito utilizada pela população joinvilense, ela não tem uma origem certa. Entretanto, de várias histórias, duas são as mais contadas para explicar o princípio da popularização da expressão.

Carroceiro da Brunkow

A versão mais conhecida e contada pelos moradores da cidade é que, por volta dos anos 1960, uma égua era utilizada por um carroceiro – chamado Miguel – de uma antiga padaria de Joinville, a Brunkow, já extinta, para entregar pães.

Segundo a história, o animal puxava a carroça pela cidade e, de tão acostumado que estava com o trajeto diário, parava sozinho nos endereços. Quando o carroceiro terminava de entregar os pães, ele só gritava “égua” e o animal seguia até o próximo cliente.

De acordo com o historiador e coordenador do arquivo história de Joinville, Dilney Cunha, a padaria realmente existiu e era famosa na cidade. Construído por volta dos anos de 1920, o empreendimento ficava na rua 9 de Março, onde atualmente é a biblioteca municipal. “Na época, além do consumo no próprio lugar, era comum o serviço de entrega de pães e chineques”, explica.

Ed Carlos/O Município Joinville

Cunha também conta que as entregas da Brunkow eram feitas por carroças de duas rodas, que possuía um certo tipo de baú para armazenar os pães durante as entregas e era conduzida por uma pessoa, além de um animal que puxava o veículo. Desta forma, o caminho percorrido pelas ruas do município já era traçado previamente.

A prática de entrega permaneceu até por volta dos anos 70, quando leis de trânsito foram impostas e o fluxo de carroças foi proibido nas vias da cidade.

Locutor

Outra versão contada sobre uma possível origem da expressão tem relação com um locutor de rádio bem conhecido da cidade, também nos anos de 1960.

Segundo o historiador, um conhecido radialista daquela época, o Manduca, da Rádio Difusora, costumava falar durante o programa que possuía na emissora a seguinte frase: “segura a égua, Miguel”, em referência ao carroceiro da padaria.

“A expressão então teria se popularizado e é usada até hoje para demonstrar espanto e surpresa”, explica.

Ed Carlos/O Município Joinville

Entretanto, o historiador frisa que não é possível afirmar se algumas das versões realmente é a verdadeira origem da expressão, além também de explicar que é difícil de saber o motivo da expressão passar de falar sobre a animal em si para uma expressão de espanto.

“Essas coisas são difíceis de identificar e detectar a origem, porque é popular e foi passando de um para outro, igual as gírias que temos hoje. Algumas (expressões) da para identificar, mas essa é difícil. Ninguém fez um registro”, diz.

Região Norte

Dilney Cunha conta que, assim como em Joinville, a região Norte do Brasil também utiliza a expressão “égua”, ou até mesmo “ésgua”, com o mesmo significado, o que faz com que a origem da expressão seja difícil de ser descoberta.

E falando na expressão “ésgua”, ela também era utilizada em Joinville. Segundo a historiadora Valdete Daufemback, que é natural de São Ludgero, no Sul de Santa Catarina, e que chegou em Joinville por volta de 1970, a expressão “égua” estava em “alta” no município.

“Eu saí da minha terra, que era um lugar altamente religioso e estava acostumada com a gíria ou expressões que era ‘meu Deus’ e ‘Virgem Maria’. E quando eu chego aqui, me deparo com ‘égua’, que algo assim de espanto ou duvidando”, relembra.

Por conta da diferença, conta que não deu muita importância no começo e também não conseguia aderir em seu vocabulário a palavra. Ela lembra que outras pessoas também não usavam a expressão e acabavam utilizando a expressão “ésgua”.

Ela ainda diz que acredita que seja muito difícil que a expressão tenha sido “roubada” do Norte do país, já que vinda de pessoas da região aconteceu com mais intensidade posteriormente.

A historiadora também relembra que, nas décadas de 1970 e 80, as pessoas utilizavam muitas gírias e se expressavam muito por elas.

“O que vivenciei é a expressão ser muito usada pelos joinvilenses para colocar um espanto em algo que uma pessoa não estava acreditando. Então é falado em uma palavra para simplificar um sentimento que poderia ser dito em frases”, finaliza.

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