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Entenda história e mistérios do casarão da Avenida Procópio Gomes, em Joinville

Casarão Villa Maria foi construída para homenagear Maria Balbina, esposa do então superintendente Procópio Gomes de Oliveira

A pedido de Procópio Gomes de Oliveira, uma das pessoas mais influentes em Joinville no início do século 20, o casarão Villa Maria foi construída no ano de 1913 para homenagear a própria esposa, Maria Balbina.

Vindo de Paraty, onde é atualmente localizada a cidade de Araquari, Procópio chegou com a família em Joinville para explorar a agricultura na região próxima à serra Dona Francisca. Empresário, ele então entrou na política e se tornou superintendente (o que vale a prefeito nos dias de hoje) em 1903. Ficou no cargo até o ano de 1907, mas retornou em 1911. Mas antes de sair novamente, em 1914, construiu o casarão para homenagear Maria.

Porém, o que era para ser uma história de uma bela homenagem, se tornou cheia de mistérios. Isto porque, a casa, localizada na rua que carrega o nome de Procópio Gomes, no bairro Bucarein, possui diversas histórias ao longo do tempo de ser mal-assombrada por espíritos de escravos que receberam maus tratos na época em que a família viveu na residência.

Casarão Villa Maria, por volta da década de 1920. Foto: Acervo Arquivo Histórico de Joinville

De acordo com relatos de moradores mais antigos, Maria Balbina era extremamente racista e batia tanto nos escravos como também nos filhos deles. Além disso, histórias de pessoas enterradas vivas, gritos, choros, vultos, ventos gelados e portas batendo durante à noite também são contadas. Relatos ainda mais tenebrosos contam que no porão da casa é possível ouvir o choro dos bebês que morreram no local e que a esposa de Procópio assombra a casa.

Entretanto, segundo o coordenador do arquivo histórico de Joinville, Dilney Cunha, não existe nenhum documento, registro histórico ou depoimento de pessoas da época que comprove a teoria. Além disso, o historiador explica que no momento em que a casa foi erguida, já não existia mais escravidão. “Como a família era bastante rica, existiam empregados, o que é algo diferente”, frisa. Em relação a possíveis pessoas ou bebês enterradas no local, Dilney afirma que também não existe nenhum documento de algum cemitério ou algo relacionado. “Isso, de certeza, não existiu.”

Outro ponto muito debatido sobre o casarão Vila Maria é sobre os comércios que passaram por ali. Após a morte de Procópio Gomes e de Maria Balbina, em 1934 e 1939, respectivamente, o imóvel permaneceu com os filhos do casal até o ano de 2004. Após isso, passou a ser alugado para diversos fins. Conforme as histórias, nenhuma empresa comercial durou muito tempo e até chegaram a decretar falência. “Por último, que eu lembro porque entrei no casarão, era um local para festa infantis”, relatou Dilney.

Empresa de Festas

A empresa citada é a Thuany Festas, que é atualmente administrada por Sandra Rosa de Lima, de 34 anos, e fica localizada no bairro Costa e Silva. A proprietária conta que na época em que o empreendimento era no casarão ainda era funcionária e que nunca ouviu crianças chorando ou vultos, mas que situações “estranhas” aconteceram.

“Uma delas foi quando finalizamos uma festa, apagamos tudo e descemos. Quando olhamos para cima, as luzes estavam acessas e os ventiladores ligados. Ficamos com medo e nosso patrão subiu para apagar”, relata.

Além disso, o casarão também recebia a “visita” de uma idosa diariamente, que segundo Sandra, conversava com alguém e olhava para onde não tinha nada. “Ela ia com sol ou com chuva. Tentamos filmar com câmeras escondidas, mas parecia que ela sabia e parava de conversar. Então, alguma coisa tinha”, reflete em um tom mais descontraído.

Incêndio

Em 2001, o casarão Villa Maria foi tombado como patrimônio cultural e histórico de Joinville pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Já no ano de 2018, o casarão foi atingido por um incêndio.

Casarão foi atingido pelas chamas no início da noite do dia 1º de junho de 2018. Foto: Reprodução/Facebook

Conforme informações do Corpo de Bombeiros na época, dois cômodos do segundo andar da casa foram atingidos. Ainda segundo os bombeiros, as chamas iniciaram após entulhos que estariam no local terem pegado fogo.

Situação atual

Atualmente, o Casarão Villa Maria está em briga judicial entre uma empresa privada de seguros e um dos familiares da família Gomes de Oliveira. Por conta disso, não recebe reparos há muitos anos.

Muito diferente de quando era habitada ou quando recebia festas infantis, o Casarão possui janelas quebradas, paredes pichadas e portões enferrujados.

Janela quebrada e pichação na parede do Casarão. Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville
Portão enferrujado na entrada principal do Casarão. Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

Além disso, está com o telhado danificado. Uma grade que fica no muro que protege o local também aparece danificada. Outro problema é o terreno, que uma grande quantidade de barro, entulhos e pedaços de tijolos quebrados.

Grade do Casarão danificada. Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville
Parte da frente do terreno onde está localizado o Casarão Vila Maria. Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville
Parte de trás do terreno onde está localizado o Casarão Vila Maria. Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

Responsabilidade

Questionada pela reportagem do jornal O Município Joinville de quem seria a responsabilidade pelo imóvel, visto que existe este processo correndo na justiça, a Gerência de Patrimônio Material da FCC explica que, em linhas gerais, a responsabilidade pela manutenção do imóvel é do proprietário do imóvel, conforme lei número 17.565, de 6 de agosto de 2018.

“Apenas em caso de hipossuficiência financeira do proprietário, ou seja, quando não existem recursos suficientes, o Estado deve arcar com os encargos da manutenção do bem tombado por ele”, complementou.

Ainda de acordo com o órgão, para realizar qualquer intervenção em bem tombado, deve ser feito o devido projeto arquitetônico (de restauro) para, posteriormente, ser executada a obra.

Além disso, todo o processo de projeto e obra deve ter acompanhamento de um responsável técnico. E ter uma aprovação prévia de projeto e autorização de obra no órgão responsável pelo tombamento.

Para o Casarão Vila Maria foi aprovado um projeto de restauração no ano de 2016. Porém, até o momento, não foi executado pelo proprietário do imóvel.


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