Mauro Schlieck/CVJ
“Estado do Pará é um lixo”, dispara vereador durante discussão sobre migração na Câmara de Joinville
Colegas de Mateus Batista (União) pregaram responsabilidade para discutir assunto, mas parlamentar reiterou falas feitas nas redes sociais
Durante a sessão desta segunda-feira, 25, na Câmara de Joinville, vereadores de Joinville abordaram o tema da migração, trazido inicialmente por Lucas Souza (Republicanos). O vereador Mateus Batista (União Brasil) chamou o estado do Pará de “lixo”, declaração que levou a vereadora Vanessa da Rosa (PT) a rebater, classificando a fala como xenofóbica. Já o vereador Lucas defendeu que a cidade foi construída a partir da migração e pregou responsabilidade e respeito na discussão do assunto.
A vereadora Vanessa da Rosa utilizou a tribuna para rebater a fala do vereador Mateus Batista. Ela criticou uma declaração anterior do colega, publicada em vídeo, na qual, segundo ela, Batista teria dito que a chegada de migrantes do Pará transformaria Joinville em “um favelão”. A parlamentar classificou a fala como “racista e que repercutiu muito mal para a Câmara de Vereadores e para os parlamentares”, destacando que a declaração chegou a ter repercussão nacional.
Em sua fala, a vereadora ressaltou que Joinville sempre foi reconhecida por acolher pessoas vindas de diferentes regiões. “A nossa cidade se formou a partir da migração de diversos povos, de diversos estados, e a gente sempre acolheu muito bem todo mundo nesta cidade. As pessoas vêm pra cá pra trabalhar, vêm em busca de uma oportunidade”, disse.
Ela ainda criticou o vereador por ter feito uma transmissão ao vivo na qual teria afirmado que o Pará seria “um lixo”. Para Vanessa, esse tipo de posicionamento é inaceitável dentro do parlamento. “Isso não é admissível dentro do parlamento, isso não são palavras de um vereador, isso beira a irresponsabilidade e a xenofobia”, concluiu.
Em resposta à fala da vereadora Vanessa da Rosa, o vereador Mateus Batista voltou a se pronunciar no plenário. “Bom, venho aqui reiterar, o estado do Pará é um lixo mesmo, Belém tem 57% da sua população favelizada. Eu não estou falando dos paraenses aqui, do estado estruturalmente, mas sim da forma como o estado é governado e pelos políticos o qual ele é governado”, reiterou.
Mateus disse que sua preocupação não está na origem dos migrantes, mas na capacidade de Santa Catarina em absorver esse crescimento populacional. Segundo ele, o estado não tem condições de investimento para expandir a infraestrutura urbana na mesma proporção do aumento da população.
Importância da migração
O vereador Lucas Souza utilizou a tribuna para defender a importância da migração em Joinville. Ele destacou que a cidade foi construída a partir do movimento de famílias que vieram de diferentes regiões do Brasil em busca de melhores condições de vida. “O que seria de Joinville sem a migração? Cada tijolo levantado, cada empresa fundada, cada bairro construído nessa cidade, carrega a marca da migração”, afirmou.
O parlamentar citou a própria história familiar como exemplo, lembrando que seus avós migraram do Sul de Santa Catarina para Joinville na década de 1980, trajetória semelhante à de muitas famílias joinvilenses. Para ele, o município é, “acima de tudo, “uma terra de acolhimento”.
O vereador Lucas também apresentou dados sobre a migração para o município, ressaltando que 30% da população de Joinville nasceu fora de Santa Catarina, o equivalente a 185 mil pessoas. Nos últimos 15 anos, cerca de 115 mil migrantes chegaram à cidade, sendo 23% vindos do interior catarinense, 19% do Paraná, 12% de São Paulo e 9% do Rio Grande do Sul, de acordo com o último Censo do IBGE.
“Esses dados derrubam os preconceitos e desmentem falas irresponsáveis”, alegou, já que os números apontam que a maior parte dos migrantes que chegam a Joinville não vem do Nordeste, mas sim de estados do Sul e de regiões próximas. O vereador defendeu que a discussão sobre os impactos da migração deve ser feita de forma responsável, com base em fatos e respeito às pessoas. “Isso nos dá uma responsabilidade: acolher com dignidade e empatia quem escolhe viver aqui”, concluiu.
O vereador Mateus reconheceu que a maior parte da migração para Joinville e região historicamente vem de estados vizinhos, como Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. No entanto, destacou que, no último Censo do IBGE, estados como Pará e Maranhão passaram a figurar entre os dez que mais enviaram moradores para Santa Catarina, tendência que, segundo ele, pode crescer nos próximos anos. “Falando com achismos, a gente não tem dados, mas a probabilidade é que isso aumente”, ressaltou.
O parlamentar afirmou que não é contra a migração, ressaltando que o aumento populacional está diretamente ligado ao crescimento econômico, como mostra o exemplo de São Paulo, que recebeu grandes fluxos migratórios ao longo das décadas e manteve o avanço. “São Paulo é o maior exemplo de grande fluxo migratório que a gente tem e São Paulo nunca parou de crescer”, disse.
Para Mateus, o problema surge quando o poder público não consegue acompanhar a expansão urbana gerada pela chegada de novos moradores. “Isso resulta em “urbanização fracassada, com consequências negativas como congestionamentos, ocupações irregulares, insegurança e desordem social. “O sucesso ou o fracasso da urbanização depende da capacidade do setor público em acompanhar o avanço do setor privado”, destacou.
“A urbanização fracassada acontece com essa falta de capacidade do setor público de acompanhar esse crescimento populacional, que é a situação atual de Joinville e Santa Catarina”, finalizou.
O vereador Lucas Souza ressaltou que a migração seja no sul, no nordeste, no norte ou até no exterior, é parte vital da nossa economia e da nossa cultura. “Migrar não é um problema, é um ato de coragem, uma escolha legítima, movida por esperança e oportunidade. Quem migra contribui diretamente para o nosso crescimento. Defender essas pessoas é, na verdade, defender a nós mesmos, a nossa própria história e o nosso futuro”, finalizou.
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