“Eu não conseguia fazer mais nada”: conheça a história da joinvilense que começou um negócio para tratar crises de pânico

Isabela largou o emprego com tecnologia para se dedicar a produção de acessórios personalizados

“Eu não conseguia fazer mais nada”: conheça a história da joinvilense que começou um negócio para tratar crises de pânico

Isabela largou o emprego com tecnologia para se dedicar a produção de acessórios personalizados

Isabel Lima

Um exercício terapêutico pode virar um negócio de sucesso. É isso que a Misadorea se tornou para Isabela May, uma joinvilense que entrou na terapia para tratar crises de pânico e acabou com uma marca de acessórios personalizados. O sucesso foi tanto que ela saiu de um emprego na área de tecnologia para se dedicar exclusivamente a produzir o que traz sentido para ela.

Isabela já tinha passado dos 18 anos quando teve a primeira crise de pânico. A falta de ar repentina a fez correr para o hospital no fim de uma tarde de 2015. No pronto-socorro informaram para ela que não tinha nada de errado. Estranhou e decidiu buscar um otorrinolaringologista. Se fosse um problema no sistema respiratório, ela descobriria.

Novamente, ouviu a mesma coisa: a saúde dela estava perfeita. “Quando dava esses ataques eu não conseguia fazer mais nada, foi quando eu descobri que era ansiedade mesmo”, conta Isabela. Após uma consulta com um pneumologista, ele afirmou que o pulmão dela estava limpo e o problema era psicológico.

Ela saiu do consultório com uma receita e orientação. Isabela deveria tomar um remédio para controlar a ansiedade enquanto buscaria terapia. Foi o que fez. Passou a tomar medicação que parou com as crises e encontrou uma psicóloga.

Terapia

“Na terapia a psicóloga me aconselhou a procurar coisas que me fariam bem fora do trabalho, porque eu sempre fui workaholic, então eu lembrei que, aos 17 anos, eu comecei a fazer acessórios”, lembra a empreendedora.

O exercício a acalmava, mexer com as pedrinhas gerava uma paz que ela não encontrava em outros lugares. “Então eu fui para o meu quarto, coloquei a televisão na frente, Grey’s Anatomy, e comecei a trabalhar”, conta sobre o primeiro dia que voltou a trabalhar com as joias.

O ateliê atual tem a mesma organização que tinha quando era na casa dela: uma televisão em frente a mesa | Foto: Isabel Lima / O Município Joinville

Isabela passou a gostar cada vez mais do momento do dia que ela parava para fazer o trabalho manual. Para se forçar a fazer o exercício terapêutico, decidiu se expor. Para ela, a exposição é um grande incentivador, porque a força a não parar.

“Decidi abrir. Naquele mesmo dia criei a marca, criei um site, criei um Instagram”, recorda empolgada. “Agora vou fazer o negócio acontecer e me forçar a ter esse processo meditativo todos os dias”, explica sobre o que pensou no dia que criou a Misadorea.

Saúde e sucesso

Isabela passou alguns anos com uma dupla jornada de trabalho. Durante o dia ela fazia parte da equipe de tecnologia de uma startup e de madrugada trabalhava nos acessórios. Embora dormisse pouco, a rotina lhe fazia bem.

A joinvilense passou a estudar as pedras que trabalhava e passou a colocar as coisas que ela considera de mais importante no processo criativo. “A Misadorea é uma marca de pedras naturais, desde o dia que ela nasceu ela fala sobre saúde mental, sexualidade, amor gay, é para falar sobre tudo de importante”, explica.

Isabela busca usar pérolas em todos assessórios porque a pedra remete a superação | Foto: Isabel Lima / O Município Joinville

Ela levou assim até 2018, quando decidiu pedir demissão. “Chegou um momento que os dois me davam o mesmo salário. Então eu decidi ganhar esse salário assistindo o que eu gosto, fazendo o que me fazia bem”, conta ela.

A terapia foi o grande motivador para todas essas mudanças acontecerem. Além de ter o próprio negócio, Isabela estava cada vez melhor. “Tudo que tu aprendes na terapia é um exercício de autoconhecimento, e você não sai mais dela. É tão bom, faz tão bem que você não quer deixar isso de lado”, confessa sobre a experiência.

Atualmente, ela tem uma loja coletiva no bairro Anita Garibaldi, a Casa 865. No espaço, ela e outros empreendedores de Joinville vendem os trabalhos e produções. É tudo caseiro e feito a mão, pensado com carinho e seriedade. Isabela conta que o objetivo é fornecer um espaço de acolhimento, onde, além de encontrar produtos locais, o cliente possa sair mais leve e tranquilo.

A Casa 865 fica na rua Dr. Plácido Gomes, 308, no outro lado da rua da Doceria São José. O espaço tem trabalhos de mais de 20 produtores da região e fica aberto de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h; e sábado, das 9h às 13h.

Isabel Lima / O Município Joinville

Janeiro Branco

Janeiro Branco é o mês voltado à saúde mental, que afeta a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, ainda mais no contexto da pandemia. O assunto é tão sério e alarmante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou um dossiê sobre os impactos da Covid-19 na saúde mental nos países.

A recomendação é sempre a mesma, buscar acompanhamento psicológico sempre que possível. Tomar essa decisão pode mudar a vida de alguém, como aconteceu com a Isabela. Ela acredita que uma vez que alguém começa a terapia, não sai mais.

Isabel Lima / O Município Joinville

“Às vezes conversar já é um encorajamento para a pessoa falar com alguém ou procurar ajuda. Ou então ser mais atento à sua família, aos amigos”, explica.

Ela acredita que o assunto deve ser cada vez mais debatido e que os impactos dessas conversas são sempre positivos. Na própria dinâmica da Misadorea ela busca introduzir o assunto com os clientes, seja com uma curiosidade terapêutica de uma pedra presente em uma joia, a falar sobre a experiência dela. Trazer o tema para o cotidiano é um dos objetivos da “Misa”, como ela chama carinhosamente a marca.

Isabel Lima / O Município Joinville
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