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Ex-treinador, profissionais do JEC e jornalistas relembram passagem de Breno Lopes por Joinville

Profissionalizado pelo Tricolor, atleta virou herói do Palmeiras ao marcar o gol do título da Copa Libertadores

O marcador apontava 53 do segundo tempo. No lance, que atravessa o campo de defesa, o meia Danilo enxerga Rony na ponta direita. A jogada é concluída com Breno Lopes, que recebe a bola na área e manda de cabeça para o fundo do gol.

Há três meses no Palmeiras, Breno entrou na partida aos 40 minutos do segundo tempo e foi o autor do gol que levou o clube ao bicampeonato da Libertadores da América no último sábado, 30, contra o Santos, no Maracanã. Atualmente visto como herói pela torcida alviverde, foi em Santa Catarina que Breno iniciou sua trajetória no esporte.

Em 2015, aos 16 anos, chegou ao time sub-17 do Joinville Esporte Clube após uma parceria com o Nação Esportes, antiga Sociedade Esportiva Irineu.

Kaue Natan Vezentainer/JEC

O jornalista esportivo Gabriel Fronzi lembra que Breno começou a se destacar já na categoria de base. Em 2016, na disputa pela Copa São Paulo de Futebol Júnior, Breno se tornou uma peça importante para o time, que chegou às oitavas de final, mas foi eliminado pelo Ceará.

“Como ele tinha ido bem na Copinha, começou a ser utilizado no time de cima. Mas, em 2016, ele é emprestado para o Juventus de Jaraguá do Sul, na campanha da Série B do JEC, e retorna apenas em 2017”, lembra o jornalista.

Em três anos no clube, entre idas e vindas, foram 69 partidas disputadas e dez gols convertidos pelo Tricolor. O primeiro gol importante marcado por Breno foi contra o Gurupi, de Tocantins, pela terceira fase da Copa do Brasil, em 2017.

Outro gol do atleta que vale destaque foi na vitória por 2×1 do JEC sobre o Brusque, no estádio Augusto Bauer, pelo Campeonato Catarinense. Com a vitória, o clube quebrou um jejum de cinco anos sem vencer no Vale do Itajaí.

Da base ao profissional

O técnico Fabinho Santos, 47 anos, foi o responsável pela inserção de Breno ao futebol profissional. Ele conta que, enquanto treinava a equipe de base, um amigo lhe falou sobre o atleta. O técnico, então, chamou o jovem para fazer um teste no JEC e ele acabou se destacando durante a peneira.

Breno disputou a Copinha pelo JEC e, em seguida, foi emprestado para o time de Jaraguá do Sul. Após retorno do empréstimo, agora com Fabinho Santos no comando do profissional do Joinville, o técnico pediu para que Breno integrasse a equipe.

“Era e é um jogador com habilidade, domínio de bola, bom passe, bom drible. Além de unir a força e a velocidade, o que mais me chamava a atenção era o poder de finalização. Sua dinâmica é muito importante para os dias atuais”, descreve Fabinho.

Kaue Natan Vezentainer/JEC

Além de rasgar elogios em âmbito profissional, o treinador destaca a paciência e o profissionalismo de Breno, que esperou seu momento e mostrou para que veio.

“O Breno, desde o início, sempre se mostrou um menino muito esforçado, com caráter, trabalhador. Esperou o momento dele”, diz.

Saída conturbada

Beto Lima é jornalista e foi assessor do Joinville na época em que Breno defendia a camisa do Tricolor. O cenário era de pós-rebaixamento para Série C e o atleta estava prestes a completar 21 anos.

Beto conta que, após ser definitivamente integrado ao time profissional, aos poucos ele foi ganhando espaço, já que, no início de 2017, não era visto como essencial, e brigava por vaga no banco de reservas durante o Campeonato Catarinense.

Após a saída de Fabinho Santos, os técnicos Pingo e Rogério Zimmermann mantiveram Breno no time titular, no entanto, ele passou de meia para jogar mais no campo de ataque.

“Com Zimmermann, ele viveu seus melhores momentos no JEC, fazendo gols e ajudando o time nas competições de 2018. Porém, a péssima campanha do time culminou no rebaixamento para a Série D”, afirma.

Pós-rebaixamento, os jogadores passaram a ser cobrados pela torcida, incluindo Breno. No fim da temporada, com a crise financeira do time, ele manifestou o desejo de deixar o clube.

“Chegou a entrar na Justiça contra o time alegando o não pagamento de direitos trabalhistas, como o FGTS. Acabou entrando num acordo com o Departamento Jurídico do JEC e saiu de maneira amigável para jogar a temporada 2019, pelo Juventude”, conta.

Relacionamento com a torcida

Kaue Natan Vezentainer também é jornalista e compunha e equipe de comunicação do JEC, à época. Ele recorda que uma minoria até destacava a disposição e vontade de Breno, mas as críticas superavam os elogios.

“Boa parte do pessoal queria que a base do JEC tivesse mais oportunidades dentro do clube, mas muitos torcedores colocavam pressão demais na garotada para que eles resolvessem todos os problemas dentro de campo e colocassem o JEC lá em cima de novo”, diz.

Para Gabriel Fronzi, a relação dele com a torcida foi “aceitável”, já que com outros pratas da casa os torcedores não tinham a mesma paciência. Para o jornalista, o problema foi o contexto em que o clube se encontrava.

“A torcida tinha carinho porque ele sempre entregou tudo que lhe era proposto. Mas ele sempre esteve num futebol que chamo de “barca-furada”. Tanto que em 2017 ele joga bem, o time fica a um gol do acesso pra B. Mas em 2018 o time é rebaixado para a D. Então quase nada presta. Todos os problemas extracampo do JEC culminaram na saída dele”,  argumenta.

Vida humilde

Natural de Belo Horizonte (MG), Breno Lopes nasceu em uma família humilde. Gabriel Fronzi conta que, mesmo integrado na base do JEC, o jogador ainda morava no centro de treinamento do Nação e, por conta disso, acordava todos os dias às 5 horas para pegar o ônibus e treinar.

“Breno tem uma história de vida riquíssima, de sair de lugar onde passava fome, de só ter arroz com ovo pra comer, acordar cedo pra treinar. Mesmo assim, nunca foi arrogante, sempre deu a cara a tapa”, destaca.

Na manhã seguinte ao título da Libertadores, Breno Lopes fez uma chamada de vídeo com Fabinho Santos, seu primeiro treinador no profissional para, novamente, agradecer a oportunidade dada lá em 2017.

“Ele não se cansa de agradecer. Os pais dele também me ligaram. Isso é realmente nobre, ter um coração grato. Não há uma mensagem ou contato profissional que ele faça, que não me agradeça”, conta, emocionado.

Para Fabinho, que já viu naquele garoto de 16 anos um grande atleta, o orgulho cresce a cada contrato assinado, a cada gol marcado. Atualmente, segue acompanhando a carreira de Breno e comemorando junto a cada conquista.

“Foi um dos gols que comemorei com muito entusiasmo. Me sinto feliz por ter visto coisas boas no futebol dele. Hoje em dia o mundo está vendo que estávamos certos na nossa avaliação. Ele é um garoto de caráter, esforçado e trabalhador, agora apenas colhe o que plantou”, finaliza Fabinho, que está sem clube desde sua saída do JEC, em novembro de 2020.


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