Polícia Civil/Divulgação
EXCLUSIVO – Mulher presa por maus-tratos a idosos e deficientes em Joinville é alvo de denúncias há 16 anos
Ela foi proibida de atuar em qualquer atividade relacionada a atendimento de idosos em março deste ano
A mulher presa nesta quinta-feira, 12, em Joinville por crime de maus-tratos a dois idosos, uma pessoa com deficiência física e outra portadora de deficiência mental, já é alvo de denúncia há 16 anos. Em março deste ano, o jornal O Município Joinville publicou com exclusividade que Carlinca Schveitzer Strey foi proibida de atuar em qualquer atividade relacionada a atendimento de idosos.
Em decisão do dia 26 de fevereiro, a 6ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) determinou a interdição e a suspensão das atividades da instituição de longa permanência para idosos Brilho da Idade, no bairro Anita Garibaldi, após um pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) por conta de denúncias de irregularidades, incluindo maus-tratos, falta de higiene e uso indevido de recursos financeiros dos residentes.
A liminar em que o jornal O Município Joinville teve acesso determinava que os idosos fossem realocados em até três dias, com a devida documentação entregue às famílias. Na ocasião, as Secretarias Municipais de Saúde e Assistência Social foram acionadas para garantir o atendimento médico e o acompanhamento da retirada dos idosos.
Caso a decisão não fosse cumprida, a instituição estará sujeita a multa de R$ 1 mil por dia para cada idoso que permanecer no local, com limite de R$ 1 milhão. A proprietária e a instituição poderiam recorrer da decisão.
Nesta quinta-feira, Carlinca foi alvo de um mandado de busca e apreensão em uma casa sem condições adequadas para a permanência dos idosos e das pessoas com deficiência no bairro Atiradores.
No local foi identificada estrutura precária e insalubre e, segundo a Polícia Civil, uma vítima confidenciou que não tinha autorização para transitar no piso inferior do sobrado sem autorização da investigada e um acamado foi flagrado amarrado sem supervisão.
Confira imagens do local:
A 12ª Promotoria de Justiça de Joinville tomou conhecimento que ela insistia em descumprir a determinação judicial proferida pela Justiça e, além disso, apurou-se que companheiro auxiliava na administração da casa e teria arma de fogo.
Diante das irregularidades, o casal foi conduzido à Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpacmi), onde foram autuados em flagrante pelo crime de maus-tratos e desobediência de decisão judicial com previsão no Estatuto do Idoso e Cárcere Privado.
O advogado de Carlinca, Felipe Gustavo Nitsche, foi procurado pelo jornal O Município Joinville. Ele informou à reportagem que ela e o marido foram soltos ainda na noite desta quinta-feira após passarem por audiência de custódia.
Alvo de denúncias há 16 anos
Segundo o MP-SC, Carlinca foi citada em aproximadamente 50 boletins de ocorrência. Destes, 43 estão diretamente relacionados ao lar de idosos Brilho da Idade. Os casos envolvem estelionato, agressão contra idosos e até furto de água da rede pública para abastecer o lar.
Além disso, há inquéritos policiais e civis com registros de superlotação, falta de equipe qualificada, precariedade nas condições de higiene e alimentação inadequada, dopagem e irregularidades sanitárias. O lar já foi interditado e multado em outras ocasiões, inclusive durante a pandemia da Covid-19.
Em um dos casos, a proprietária do lar foi acusada de furtar talões de cheque de um idoso, além de falsificar um documento do MP-SC, supostamente assinado por uma promotora, para coagir outro idoso a pagar R$ 117 mil. Uma ação civil pública foi ajuizada, mas apesar dos documentos comprobatórios apresentados pelo MP-SC, o crime prescreveu e a punibilidade foi extinta em novembro de 2020.
Em 2023, houve uma denúncia de vestígios de sangue no quarto de uma idosa que mais tarde morreu devido a uma doença bacteriana contraída após um mês na instituição.
Em uma das diligências da polícia, idosos prestaram depoimentos e relataram maus-tratos, mas temiam represálias. Eles teriam chorado e agradecido a presença dos policiais civis no local. “O que evidencia, também, a existência de violência psicológica”, narram os autos.
A instituição também enfrenta diversas ações na justiça trabalhista desde 2008, com mais de 120 processos em trâmite no Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região. As reclamações incluem sobrecarga de trabalho, desvio de função, ausência de equipamentos de proteção e atrasos salariais.
Família denuncia mais tratos
Em junho de 2024, a filha de um idoso denunciou à Polícia Civil que o pai sofreu maus-tratos no lar Brilho da Idade. O boletim de ocorrência foi registrado após recomendação da equipe médica. Ela descobriu o estado de saúde dele quando a instituição foi interditada temporariamente e precisou transferi-lo para um novo lar.
A mulher, que preferiu não se identificar, procurou a reportagem de O Município Joinville e relatou a situação com exclusividade.
O homem, de 66 anos, faleceu no dia 21 de agosto do ano passado, no Hospital São José. Na certidão de óbito consta que as causas da morte foram insuficiência respiratória aguda, distúrbio hidroeletrolítico e ácido-base (condições que afetam o equilíbrio de líquidos, eletrólitos e pH do corpo) e infecções na pele.
A família condiciona a morte dele como consequência de escaras, que, conforme acusa a filha, não teriam sido tratadas de forma adequada no lar de idosos.
O caso foi publicado na mesma reportagem do jornal O Município Joinville em março. O advogado Felipe Gustavo Nitsche afirmou que a acusação de maus-tratos era infundada.
Assista agora mesmo!
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